Amigos dos Caminhos de Ferro contra Metrobus na linha da Lousã

Associação diz que o autocarro vai demorar mais 18 minutos do que o antigo serviço ferroviário, o qual pode ser ainda mais rápido se tiver comboios eléctricos.

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Adriano Miranda

A maior associação portuguesa de defensores da ferrovia diz que o Metrobus é uma solução desadequada para servir a mobilidade ao longo do eixo Coimbra – Lousã – Serpins e defende que ali se mantenha uma solução ferroviária na sua forma mais simples – uma linha de via única, electrificada e com modernos sistemas de sinalização que permitam uma boa fluidez do tráfego ferroviário.

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A maior associação portuguesa de defensores da ferrovia diz que o Metrobus é uma solução desadequada para servir a mobilidade ao longo do eixo Coimbra – Lousã – Serpins e defende que ali se mantenha uma solução ferroviária na sua forma mais simples – uma linha de via única, electrificada e com modernos sistemas de sinalização que permitam uma boa fluidez do tráfego ferroviário.

Em comunicado, a APAC (Associação Portuguesa dos Amigos dos Caminhos de Ferro) diz que a opção pelo Metrobus assenta numa premissa errada que não foi demonstrada - a da impossibilidade de se ligar por via férrea o troço entre Coimbra Parque e Coimbra B (que corre ao longo da avenida Emídio Navarro e Avenida da Lousã) que faz com que o antigo ramal da Lousã fique isolado da rede ferroviária nacional.

Uma disrupção que pode ser ultrapassada com a construção de um túnel, que dará continuidade à linha da Lousã até Coimbra B. “Apesar do custo a prever para tal desnivelamento, entendemos que para uma cidade da dimensão e importância de Coimbra é um custo perfeitamente razoável, sobretudo considerando que semelhantes intervenções foram já feitas em Espinho (túnel) e Trofa (túnel e viaduto) em distâncias similares”, diz a APAC, fazendo notar que, no caso destas duas cidades, até havia menor justificação para tais investimentos.

Os amigos da ferrovia dizem que a solução rodoviária para o canal do Metrobus privará a população de um serviço mais cómodo e mais rápido. Os estudos apontam para tempos de percurso em autocarro (os quais terão de cruzar nas estações, tal como os comboios, porque o canal é de via única) de 69 minutos entre Lousã e Coimbra, contra os 51 minutos que faziam as velhas automotoras que ali circularam até 2009. Com a linha electrificada e automotoras eléctricas, esse tempo ainda poderia ser mais reduzido em dez minutos.

Por outro lado, nas horas da ponta, a capacidade da solução ferroviária é claramente superior à dos autocarros.

“A APAC defende por isso a imediata reposição e electrificação da linha entre Coimbra-Parque e Serpins”, bem como o início dos estudos com vista à execução do desnivelamento (túnel) entre Coimbra-Parque e Coimbra-A.

Acerca desta última estação, que fica em plena baixa da cidade, os amigos dos caminhos-de-ferro insurgem-se contra o seu encerramento, o qual está previsto para 2019 para que ali seja instalada a solução Metrobus. Actualmente, a estação de Coimbra A é utilizada para quem vem ou vai apanhar os serviços de longo curso da linha do Norte em Coimbra B, mas também tem serviços regionais directos de e para Figueira da Foz, Entroncamento, Guarda, Aveiro e Porto “que não apenas podem deixar os passageiros imediatamente em zona central na cidade, evitando os transbordos, como habilita os operadores a uma gestão mais flexível das rotações do material circulante, muito mais difícil de realizar numa estação de passagem como Coimbra-B, sobretudo se não for ampliada”.

O comunicado termina com um recado: “Recordamos que o investimento na ferrovia, apesar dos muitos programas de investimento anunciados nas últimas décadas, continua em mínimos históricos e em total contraciclo com os nossos parceiros europeus, um cenário que as presentes opções [do Metrobus] só reforçam”. E conclui: “Urge apostar fortemente nos caminhos de ferro e a linha da Lousã deve ser o primeiro a corrigir. O tempo dos erros históricos neste domínio tem de ter um fim.”