Da Av. Almirante Reis à gentrificação sem "gentry"

Estudos científicos nacionais e internacionais procuraram investigar várias questões relacionadas com o mercado de arrendamento. Número recorde de 43 trabalhos disputou o Prémio André Jordan

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Nuno Ferreira Santos

O prémio André Jordan, organizado pela Confidencial imobiliário, pretende reconhecer as investigações académicas que se debruçam sobre a economia do imobiliário. Recebeu no ano de 2018 um recorde de 43 candidaturas, entre as quais 15 teses de doutoramento, sendo de registar a participação não só de universidades nacionais, mas também as de Turim, Sevilha, Goiás e Memphis. 

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O prémio André Jordan, organizado pela Confidencial imobiliário, pretende reconhecer as investigações académicas que se debruçam sobre a economia do imobiliário. Recebeu no ano de 2018 um recorde de 43 candidaturas, entre as quais 15 teses de doutoramento, sendo de registar a participação não só de universidades nacionais, mas também as de Turim, Sevilha, Goiás e Memphis. 

O prémio na categoria de tese de doutoramento foi atribuído ao trabalho “A Avenida Almirante Reis, uma história construída do prédio de rendimento em Lisboa”, defendida no Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa pelo arquitecto João Appleton. Nesta tese demonstra que a actividade de promoção para arrendamento é uma actividade com raízes na antiguidade e que a partir do século XVIII acabou por se transformar no “principal tipo arquitectónico constituinte do tecido urbano em algumas das principais cidades europeias”.

Appleton passa a pente fino a forma como o modelo económico do prédio de rendimento se esgotou na segunda metade do século XX, e os apartamentos foram sendo reconvertidos em vendas por fracções. Em Portugal foi-se apostando no modelo do ocupante proprietário, enquanto em países como a Dinamarca as políticas públicas de habitação continuavam a apostar no arrendamento.

O artigo científico de Sónia Alves, que faz um estudo comparativo destas duas realidades, recebeu uma menção honrosa. A investigadora, que defendeu a tese no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, compara a habitação social e ou habitação no mercado de arrendamento sem fins lucrativos como uma forma de medir a “desmercantilização" da habitação num país. Em 2011 existia em Portugal cerca de 120 mil fogos de habitação social, representando cerca de 3,3% do parque de habitação permanente. Na Dinamarca, a proporção era seis vezes superior, já que o sector da habitação sem fins lucrativos tinha 21% do total do parque de habitação de uso permanente.

Na categoria de tese de mestrado foi premiado o trabalho do alemão Karl Kraehmer, apresentado na universidade de Turim, e que analisa o turismo e o investimento imobiliário em Lisboa - “Gentrification without gentry?”, é o título da tese, que acaba a defender que o sector imobiliário deveria organizar-se, não apenas para maximizar os lucros mas também para garantir casa a preços acessíveis a residentes.