O retrato do jovem Vincent van Gogh é, afinal, do seu irmão Theo

Museu Van Gogh revela (e lamenta) resultado de uma investigação levada a cabo durante os últimos três anos. Agora só resta uma fotografia do mestre holandês.

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Esqueçam-se (ou corrijam-se) os livros e álbuns que, desde 1957, nos mostravam o retrato fotográfico de Vincent van Gogh (1853-1890) enquanto jovem, alegadamente com apenas 13 anos: afinal, esse é o retrato do seu irmão Theo (1857-1891) aos 15.

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Esqueçam-se (ou corrijam-se) os livros e álbuns que, desde 1957, nos mostravam o retrato fotográfico de Vincent van Gogh (1853-1890) enquanto jovem, alegadamente com apenas 13 anos: afinal, esse é o retrato do seu irmão Theo (1857-1891) aos 15.

A descoberta deixou alguma mágoa no meio artístico, e em especial nos responsáveis pelo Museu Van Gogh, em Amesterdão. “É claro que houve algum desapontamento, também porque há tão poucas fotografias do Vincent van Gogh, e agora temos menos uma”, disse à AFP o director do museu holandês, Axel Rüger. Admitindo que, por outro lado, a descoberta da verdade o deixa “feliz”.

E a verdade é, agora, que a única fotografia comprovadamente do autor do Auto-retrato com a orelha enfaixada é aquela em que ele surge fotografado aos 19 anos, e que pertence também à colecção do museu de Amesterdão.

A nova descoberta, revelada na quinta-feira pelos responsáveis do Museu Van Gogh, resultou de uma investigação levada a cabo pela instituição durante os últimos três anos. A fotografia que se acreditava representar Vincent ainda no início da adolescência fora pela primeira vez identificada como tal por um especialista belga, Mark Edo Tralbaut (1902-1976), que a divulgou numa exposição em 1957, com a designação “Retrato de Vincent van Gogh (circa 1866)” no catálogo respectivo.

Ao longo de mais de meio século, esta versão fez o seu caminho. “A questão de [a fotografia] poder representar outra pessoa nunca se colocou. Não surgiu qualquer dúvida, também precisamente porque o rapaz aí representado apresenta semelhanças com o retrato de Vincent aos 19 anos”, explica Teo Meedendorp, investigador-chefe do Museu Van Gogh, no comunicado da instituição.

Mas, na sequência de um programa na televisão holandesa em 2014, a comparação entre as duas imagens levou a que a dúvida se instalasse. Então, o belga Yves Vasseur, curador e comissário-geral de Mons 2015 – Capital Europeia da Cultura, sugeriu ao museu uma investigação aturada da situação. Foi nessa altura que se descobriu que o suposto autor do retrato, o belga Balduin Schwarz, só tinha instalado o seu estúdio em Bruxelas em 1870 – ora, nessa data, “Vincent teria bem mais do que 13 anos”, explica Vasseur.

No decorrer da investigação, que contou com a colaboração de especialistas em ciências forenses da Universidade de Amesterdão, a similitude das feições de Vincent com o seu irmão mais novo Theo – o mesmo cabelo ruivo avermelhado, a testa alta, os olhos azuis – apontou para um caminho que haveria de levar à conclusão agora anunciada. A fotografia em causa retrata, afinal, Theo van Gogh em Bruxelas, em 1873, quando tinha 15 anos – a esta conclusão ajudou também a comparação com outro retrato bem conhecido do irmão mais novo de Vincent (e comerciante de arte), aos 32 anos.

“Agora já só nos resta uma única fotografia no arquivo que podemos atribuir a Van Gogh. É uma pena. Foram muitos anos a acreditar num erro. Além disso, a imagem já foi utilizada em centenas de livros de História da Arte, e isso já não pode ser mudado”, comentou Teo Meedendorp, descrente da possibilidade de se encontrarem novos registos fotográficos de alguém que, reconhecidamente, não gostava de ser fotografo com máquinas. Preferia fazê-lo ele próprio, com o pincel.