Oficiais destacam espírito reformador de Loureiro dos Santos

"Colocámo-lo na 5ª Divisão onde, com Medeiros Ferreira, então alferes miliciano, protagonizou a oposição a Varela Gomes", recorda o coronel Vasco Lourenço.

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NFS - Nuno Ferreira Santos

Oficiais, companheiros de arma e de lutas, sintetizam, na experiência da primeira pessoa, a sua vivência com Loureiro dos Santos, que morreu este sábado aos 82 anos. De académico a chefe militar, de pensador das reformas para o país, as Forças Armadas e o Exército, a resistente no Verão Quente de 1975.

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Oficiais, companheiros de arma e de lutas, sintetizam, na experiência da primeira pessoa, a sua vivência com Loureiro dos Santos, que morreu este sábado aos 82 anos. De académico a chefe militar, de pensador das reformas para o país, as Forças Armadas e o Exército, a resistente no Verão Quente de 1975.

“Oficial intelectualmente brilhante”

“Um oficial intelectualmente brilhante, um comandante distinto e um excelente camarada”. É desta forma que o general Vítor Viana, director do Instituto de Defesa Nacional (IDN), comenta, ao PÚBLICO, o percurso e a personalidade de Loureiro dos Santos.

“Tive-o como comandante em Cascais, no centro de formação, e reunia todos os atributos que gostamos de ver nos nossos chefes”, prossegue o oficial. “Foi um líder pela competência e exemplo”, salienta.

“É importante destacar a sua vertente de grande intelectual no âmbito do conhecimento estratégico, conjugava a competência profissional e militar com a académica e intelectual”, assinala. O director do IDN conclui com o que define como “dedicação à causa pública” de Loureiro dos Santos: “Foi ministro da Defesa Nacional por duas vezes, e vice-Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA) quando o General Eanes acumulava a chefia das Forças Armadas com o cargo de Presidente da República.”

“Luta conjunta pela consolidação da democracia”

“É a partida de um amigo com o qual tive uma luta conjunta pela consolidação da democracia em Portugal”, destaca, ao PÚBLICO, o coronel Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril.

“Conheci Loureiro dos Santos a seguir ao 25 de Abril, quando ele regressou de Cabo Verde, era amigo e do mesmo curso que o Melo Antunes, e colocámo-lo na 5ª Divisão onde, com o Medeiros Ferreira, então alferes miliciano, protagonizou a oposição ao Varela Gomes”, recorda.

“Foi o primeiro secretário permanente do Conselho da Revolução, a que também pertenceu como vice-CEMGFA, foi Chefe do Estado-Maior do Exército, ministro”, lembra Vasco Lourenço. “A Associação 25 de Abril vê partir mais um ilustre sócio”, lamenta o presidente da instituição.

“Marcou o pensamento reformador”

“Conheci Loureiro dos Santos quando era major e, eu, cadete nos colóquios sobre estratégia e política internacional, somos da mesma arma”, descreve, ao PÚBLICO, o general Pinto Ramalho, ex-Chefe do Estado-Maior do Exército e director da Revista Militar.

“Marcou várias gerações de oficiais, era um homem próximo de toda a gente”, prossegue. “Marcou o pensamento na sua perspectiva reformadora para o país, as Forças Armadas e o Exército”, assinala.

“Teve uma carreira diversificada, era um político assumido e deixa um legado de pensamento estratégico”, sustenta o general Pinto Ramalho. “No próximo número de Dezembro, a Revista Militar vai prestar-lhe a devida homenagem”, anuncia o director da publicação.

"Defensor do conceito de segurança nacional"

É como pensador inovador nos temas da Defesa que o almirante Melo Gomes, antigo Chefe do Estado-Maior da Armada e presidente do Grupo de Reflexão Estratégica Independente (GREI), situa, ao PÚBLICO, Loureiro dos Santos. "Tinha uma visão actual das Forças Armadas, defendia o conceito de segurança nacional e não de defesa nacional, que foi chumbado devido à sua abrangência pela oposição das forças de segurança", recorda.

"Ele era um homem de conceito, de grande cultura estratégica e das relações internacionais", resume o oficial. "Quando estive em Belém com o General Eanes houve muitos contactos sobre a Lei de Defesa Nacional", prossegue.

Mas o conhecimento com Loureiro dos Santos já vinha de antes. "Assisti à Assembleia do MFA após o 11 de Março de 1975, estava na ala moderada da Marinha com o comandante Costa Correia, quando ele era tenente-coronel e interveio contra os excessos, ficou-me na memória", lembra.

"Os nossos contactos continuaram, sempre me considerou como o seu amigo na Marinha", destaca. Embora não estivesse no GREI, Loureiro dos Santos comungava das suas preocupações sobre a situação das Forças Armadas. "Participámos na crítica ao programa 2020", conclui.