Enfermeira sem emprego em Portugal foi finalista de dois prémios profissionais no Reino Unido

Sílvia Alves, de 33 anos, teve dificuldade em encontrar emprego em Portugal após a licenciatura.

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Paulo Pimenta

Uma enfermeira que nunca conseguiu emprego em Portugal é finalista pela segunda vez consecutiva do prémio de melhor profissional de cuidados de longa duração no Reino Unido e está também entre as melhores da região leste de Inglaterra.

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Uma enfermeira que nunca conseguiu emprego em Portugal é finalista pela segunda vez consecutiva do prémio de melhor profissional de cuidados de longa duração no Reino Unido e está também entre as melhores da região leste de Inglaterra.

Apesar de ter sido finalista não vencedora dos 'National Care Awards' em 2017, Sílvia Nunes foi nomeada novamente este ano por superiores, colegas e residentes do lar de idosos onde trabalha em Thetford, uma localidade 140 quilómetros a nordeste de Londres.

"Foi uma surpresa, porque é muito difícil ir pela segunda vez à final. Estar nos cinco melhores do país já é muito bom", admitiu a portuguesa à Lusa.

O prémio da categoria de "Care Registered Nurse" pretende reconhecer um profissional de cuidados de longa duração que demonstre excelentes qualidades clínicas e de gestão e "um alto nível de dedicação e apoio às pessoas que ajuda".

"A Sílvia é fora de série!", resume Ruth French, a directora de operações do grupo Stow Healthcare, que gere cinco lares de idosos nas regiões de Suffolk e Essex (leste), em declarações à Lusa.

Além de ser uma "profissional de saúde talentosa e competente", French atribui mérito à portuguesa por, juntamente com a directora do lar Ford Place, Alison Charlesworth, ter dado a volta à instituição, que foi avaliada pelo regulador Care Quality Commission com a nota máxima de 'Outstanding' (Excepcional) este ano.

"A Sílvia ajudou a nossa equipa a capacitar-se, apoiando-os para poderem cuidar dos residentes com necessidades de cuidados muito complexos. Isso tornou Ford Place no 'lar mais desejado' da nossa área para cuidados paliativos e para aqueles que precisam de muitos cuidados de enfermagem", elogiou.

"Não era suficiente para sobreviver e pagar contas"

Actualmente a estudar para ser directora de lares de idosos, Sílvia Nunes, de 33 anos, teve uma ascensão rápida tendo em conta que mal falava inglês e não estava habilitada a trabalhar como enfermeira quando chegou ao Reino Unido, em 2014. 

Natural de Vila do Conde, saiu de Portugal frustrada com a dificuldade em encontrar emprego após a licenciatura na Escola Superior de Saúde do Vale do Ave, em 2013.

"Fui entregar o currículo a vários sítios à procura de trabalho, mas disseram-me sempre que não empregavam enfermeiros qualificados há menos de um ano e nenhum hospital me chamou para concursos. Trabalhei num apoio domiciliário em Vila do Conde e era voluntária dos Bombeiros Voluntários, mas não era suficiente para sobreviver e pagar contas", contou à Lusa.

Em vez de seguir a via do recrutamento através de agências, como centenas de outros enfermeiros portugueses que trabalham em hospitais no Reino Unido nos últimos anos, Sílvia Nunes decidiu "entrar numa aventura" pelos seus meios.

"O meu inglês era fraco, quase inexistente, tive de aprender cá. Consegui trabalho num lar enquanto esperava o meu PIN [cartão profissional] para exercer através da Ordem dos Enfermeiros de cá, que demorou 10 meses", contou à Lusa.

Em Dezembro de 2015, sete meses depois de trabalhar como enfermeira, foi promovida a directora clínica e em Setembro de 2016 a vice-directora, tendo contribuído para melhorar o funcionamento ao nível do pessoal, mas também da assistência aos residentes.

No documento de nomeação para o prémio são referidas várias acções atribuídas a Sílvia Nunes, como a introdução de um reforço de nutrição, como doses reforçadas de lacticínios, fruta ou mel, para compensar o corte do financiamento público dos suplementos alimentares.

Noutros casos, sugeriu alterações na alimentação ou medicação para melhorar o bem-estar, o aumento de peso ou que ajudaram no tratamento de feridas.

"A Sílvia tem um cuidado especial com os meus pés e pernas e não tem problema nenhum em ficar de joelhos para ter certeza de que eles são bem tratados e não me causam problemas. Eu tive uma ferida teimosa no meu pé que demorou muito a cicatrizar e beneficiou enormemente por ter a Sílvia a acompanhá-la com muita atenção", descreveu a residente identificada apenas como IC, num documento de apoio à nomeação para os prémios.

O lar Ford Place, onde Sílvia Nunes trabalha, também está nomeado para a categoria de "Care Home of the Year" [Lar de Idosos do Ano] dos National Care Awards, atribuídos pela publicação Care Times, sendo os vencedores anunciados em 30 de Novembro, em Londres.

Antes, a 15 de Novembro, terá lugar a gala regional do leste de Inglaterra dos Great British Care Awards, outro prémio para o qual a vila-condense está nomeada na categoria de Good Nurse Award.

Se vencer, poderá ser finalista a nível nacional, cujos vencedores serão conhecidos em Março de 2019.

Reflectindo sobre percurso e experiência no Reino Unido, a portuguesa garante que tem sido "fantástica" e que nunca sentiu ser tratada de forma diferente ou como estrangeira.

"Quando o meu inglês era muito fraco, sempre me ajudaram a tentar melhorar: ajudavam-me a escrever e corrigiam os meus relatórios se não estivesse correcto", lembrou.

Apesar de os prémios para os quais está nomeada não se traduzirem numa recompensa monetária, Sílvia Nunes diz sentir-se reconhecida a nível pessoal e profissional quando colegas, residentes e familiares do local de trabalho se mostram orgulhosos porque têm "uma das melhores enfermeiras do país".