Governo espanhol deverá chumbar exploração de urânio em Retortillo

Mina a céu aberto perto da fronteira portuguesa enfrenta oposição dos dois lados.

Foto
Joana Goncalves

Madrid deverá chumbar a abertura de uma exploração de urânio a céu aberto em Retortillo, Salamanca, perto da fronteira com Portugal. A informação foi avançada esta terça-feira pela agência Reuters, que citou duas fontes envolvidas no processo.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Madrid deverá chumbar a abertura de uma exploração de urânio a céu aberto em Retortillo, Salamanca, perto da fronteira com Portugal. A informação foi avançada esta terça-feira pela agência Reuters, que citou duas fontes envolvidas no processo.

O projecto a cargo da empresa australiana Berkeley tinha já recebido aprovação preliminar do Governo espanhol, mas enfrentava resistência dos dois lados da fronteira.

Uma fonte anónima do Governo espanhol adiantou que o executivo vai “esperar que os processos sejam analisados, mas vai dizer que não”. A agência cita também uma fonte próxima do processo, que afirma que a empresa estava a “viver num universo paralelo” quando disse recentemente que a mina seria uma realidade em breve. A mesma fonte refere que a “autorização para construir a mina é apenas possível quando o Conselho de Segurança Nuclear” dá o aval, “o que ainda demora”.

O porta-voz da plataforma Stop Urânio, José Barrueco Sanchéz, lembra ao PÚBLICO que ainda não há nenhuma informação oficial no sentido do chumbo, embora espere que seja esse o desfecho. Barrueco Sanchéz refere que há ainda uma decisão judicial pendente relativa a uma acção interposta por ambientalistas e pelo partido Equo para travar a abertura da mina em Salamanca.

No processo de contestação à exploração a 40 quilómetros da raia estiveram igualmente vários movimentos ambientalistas portugueses mas também deputados, que chegaram a ir a Retortillo opor-se à mina.

A confirmar-se, a decisão “está dentro das expectativas de portugueses e espanhóis”, afirma Nuno Sequeira, da Quercus. O ambientalista lamenta que “Portugal nunca tenha sido formalmente ouvido neste processo”.

Também cauteloso sobre a confirmação, António Eloy, do Observatório Ibérico da Energia, recorda a oposição “local, nacional, dos autarcas portugueses e espanhóis e de todos os grupos ecológicos”. Eloy afirma que a mudança de governo em Espanha é relevante na mudança de orientação das políticas energéticas do país, o que lhe dá esperança sobre a central nuclear de Almaraz.

Ao receber a notícia, o líder da Associação de Trabalhadores das Minas de Urânio, António Minhoto, afirma que “valeu a pena lutar”. Retortillo “não podia abrir”, diz, apontando para as consequências ambientais na zona da mina mas também em Portugal. “O nuclear é passado”, diz.

Para arrancar com a mina, a Berkeley acenava com um investimento de 75 milhões de euros, podendo chegar a 250 milhões a longo prazo, o que criaria 450 postos de trabalhos directos e 2000 indirectos. Ouvido pela Reuters, o Ministério da Energia e Ambiente espanhol recusou comentar.