Acções da Sonae sobem mais de 4% após suspensão da entrada em bolsa da Sonae MC

Empresa justificou cancelamento por razões de mercado, que teriam impacto essencialmente no preço. Vários operações semelhantes foram canceladas a nível internacional.

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Nuno Ferreira Santos

As acções da Sonae SGPS seguiam, ao final da manhã desta sexta-feira, a subir mais de 4%, o que mostra a reacção dos mercados à decisão de suspensão da oferta pública de venda (OPV) de acções da Sonae MC, a empresa que detém o sector da distribuição, por falta de condições de mercado.

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As acções da Sonae SGPS seguiam, ao final da manhã desta sexta-feira, a subir mais de 4%, o que mostra a reacção dos mercados à decisão de suspensão da oferta pública de venda (OPV) de acções da Sonae MC, a empresa que detém o sector da distribuição, por falta de condições de mercado.

O IPO (na sigla em inglês) arrancou esta segunda-feira num ambiente marcado por fortes quedas nas bolsas, o que levou a Sonae SGPS, a casa-mãe da Sonae MC, a anunciar esta quinta-feira o cancelamento da operação, precisamente com a justificação de falta de condições de mercado.

As bolsas europeias estão a negociar em terreno moderadamente positivo, com o principal índice da bolsa de Lisboa a subir perto de 1%, a maior valorização da Europa. O fecho dos mercados norte-americanos, na sessão desta quinta-feira, foi de forte queda, com o Dow Jones e S&P a perderem mais de 2%.

"A Sonae SGPS, S.A. informa que, face às condições adversas nos mercados internacionais, a oferta institucional não se concretizará, o que determinará, consequentemente, a não execução da oferta pública de venda de acções da Sonae MC", anunciou o grupo, que é proprietário do PÚBLICO, em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), por volta das 20h30 horas desta quinta-feira. As ordens de compra entretanto dadas ficam sem efeito.

O grupo ainda não prestou mais esclarecimentos sobre a suspensão da operação, nomeadamente se será retomada quando as condições do mercado o permitirem.

Desde o arranque da oferta, os mercados accionistas tem registado quedas expressivas, com forte pressão de venda, um nervosismo que resulta, entre outros factores, à instabilidade que se vive em Itália, à subida de taxas de juro nos Estados Unidos, à alta dos preços do petróleo nos mercados internacionais. O receio das consequências da "guerra" comercial desencadeada por Donald Trump, especialmente em relação à China, e o "Brexit" também são factores que estão a afectar a confiança dos investidores.

As condições de mercado já levaram ao cancelamento, nos últimos dias, de um número alargado de operações a nível mundial, ou registaram uma estreia em bolsa decepcionante, como foi o caso da Aston Martin e da Funding Circle. Desde o início de Outubro, já foram abandonados os IPO da Vannin, da Exyte, da Leaseplan e da Smile Henkilostopalvelut.

A venda de acções da Sonae MC, que detém o negócio do retalho alimentar, deveria ocorrer entre 1,40 e 1,65 euros, um valor que ficava abaixo a avaliação realizada por alguns bancos de investimento.

O sucesso da oferta, não tanto da procura, mas essencialmente a nível dos preços, dependia da compra de acções por parte de investidores institucionais, uma vez que o número dos investidores particulares nacionais é reduzido.

O desenho da operação já estava está feito para vários níveis de procura: a percentagem de capital a dispersar poderia crescer de 21,74% (oferta base, grande parte dela já para investidores institucionais, como fundos de investimentos, pensões ou outros) para 25%, com o acréscimo de uma tranche suplementar (over-allotment) até 32.600.000 acções, a exercer pelos bancos coordenadores e colocadores da oferta. Poderia ainda subir até 33,7%, com mais um lote de 87.000.000 acções ordinárias, também destinadas a investidores institucionais.

Se fosse bem-sucedida, a operação deveria permitir um encaixe, entre os intervalos de preço e entre o mínimo e o máximo de venda de acções entre 304 milhões e 555,5 milhões de euros.

O regresso da Sonae MC à bolsa, de onde saiu em 2006, estava inserido numa estratégia mais vasta de reorganização dos diferentes negócios da Sonae SGPS, que se está a assumir mais como uma gestora de participações.

Notícia corrigida no que se refere aos IPO cancelados. Ao contrário do que foi inicialmente escrito, as operações da Aston Martin e da Funding Circle não foram canceladas, a sua entrada em bolsa é que foi decepcionante, alegadamente devido às condições de mercado.