Sousa Cintra foi um pesadelo para o Benfica, mas acabou goleado

O líder da SAD sportinguista disputou 12 derbies como presidente, o último há 23 anos. Depois do Verão em que deixou o rival em choque, acabou por sofrer uma derrota categórica em Alvalade.

Foto
Sousa Cintra volta a ver um derby como dirigente 23 anos depois LUSA/ANDRÉ KOSTERS

A 30 de Abril de 1995, quando Sousa Cintra assistiu ao seu último derby como presidente do Sporting, o futebol português era bastante diferente. As vitórias valiam apenas dois pontos e as SAD (Sociedade Anónima Desportiva) ainda não tinham nascido para complexificar o léxico do adepto. Passaram 23 anos e o empresário voltou provisoriamente a Alvalade no meio de uma das maiores crises “leoninas” de sempre. Para os benfiquistas, é o regresso de um dirigente que abalou e muito o reino da “águia”.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A 30 de Abril de 1995, quando Sousa Cintra assistiu ao seu último derby como presidente do Sporting, o futebol português era bastante diferente. As vitórias valiam apenas dois pontos e as SAD (Sociedade Anónima Desportiva) ainda não tinham nascido para complexificar o léxico do adepto. Passaram 23 anos e o empresário voltou provisoriamente a Alvalade no meio de uma das maiores crises “leoninas” de sempre. Para os benfiquistas, é o regresso de um dirigente que abalou e muito o reino da “águia”.

Bruno de Carvalho e Sousa Cintra estão em polos absolutamente opostos quanto à interpretação do seu sportinguismo. Apesar disso, há um tema de que comungam religiosamente: um fervoroso antibenfiquismo. Uma militância que extremaram durante as respectivas gestões, com ataques violentos ao orgulho “encarnado” em dois Verões particularmente escaldantes entre os rivais lisboetas que se defrontam este sábado (19h, BTV), no Estádio da Luz.

Sousa Cintra ainda mexe com a memória benfiquista. Pelo menos com a daqueles que viveram mais intensamente o atribulado Verão de 1993. A 1 de Julho, o então presidente do Sporting apresentou em clima de euforia, no velho estádio José Alvalade, dois novos reforços que acabara de resgatar ao histórico adversário: Paulo Sousa e Pacheco. Ambos tinham rescindido com os “encarnados”, então dirigidos por Jorge de Brito, devido a ordenados em atraso.

Aproveitando os problemas financeiros do Benfica, resultantes do forte investimento feito no plantel na temporada anterior – que incluiu o ex-sportinguista Paulo Futre –, o empresário das águas atacou forte e feio. Para além dos dois jogadores apresentados esteve ainda perto de contratar João Vieira Pinto e também sondou Rui Costa, que recusou sem hesitações.

Muitos sportinguistas terão recordado com nostalgia a efeméride, quando Jorge Jesus entrou no relvado do novo estádio José Alvalade, acompanhado por Bruno de Carvalho, a 1 de Julho de 2015. A data coincide com o aniversário do “leão” e obviamente não foi um acaso.

A verdade é que o Benfica respondeu aos dois líderes do rival dentro das quatro linhas. No caso de Sousa Cintra, a paga foi particularmente dolorosa e chegou no epílogo dessa temporada escaldante de 1993-94. No intitulado “jogo do título”, a 14 de Maio, os “encarnados” gelaram Alvalade com uma goleada por 6-3, garantindo o campeonato.

Já com Bruno de Carvalho, o trunfo Jorge Jesus retirado ao banco adversário não impediu a conquista de mais dois títulos pelo Benfica, que resultaram num inédito tetracampeonato. A melhor performance da história da “águia” na principal competição nacional.

Taça interrompeu jejum

Esta noite, no Estádio da Luz, Sousa Cintra irá assistir na tribuna ao seu 13.º derby como dirigente “leonino”. E o empresário, que um dia se referiu de forma desconcertante a Mark Knopfler, guitarrista dos Dire Straits, nas vésperas de a banda actuar no velho José de Alvalade ("É um bom jogador, mas o plantel já está fechado”), não foi particularmente feliz nos 12 confrontos anteriores.

Perdeu sete, venceu apenas três e empatou outros dois. Mas despediu-se no tal jogo de 30 de Abril de 1995 (abandonaria a direcção a 2 de Junho, abrindo a porta à era “roquetista” encabeçada pelo banqueiro e empresário José Roquette) com um triunfo no Estádio da Luz, por 2-1. Os marcadores dos golos foram os búlgaros Balakov e Iordanov, com Dimas a reduzir para a equipa da casa. Tudo nos primeiros 22 minutos. No banco benfiquista encontrava-se Artur Jorge, com Carlos Queiroz no lado visitante.

Essa última temporada de 1994-95 seria aquela em que Sousa Cintra obteve maior sucesso no futebol. Um segundo lugar do campeonato, a sete pontos do campeão FC Porto, mas acima de tudo a conquista da Taça de Portugal, com o triunfo sobre o Marítimo, por 2-0 (Carlos Xavier e Iordanov), interrompendo um longo jejum de títulos em Alvalade.

Foi o canto do cisne do empresário empurrado para a porta de saída do clube pelos dirigentes da modernidade que prometiam transportar o futebol português, e o Sporting em particular, para uma nova era de sucesso. Para trás ficaram cinco épocas frustrantes, com quatro terceiros lugares e um quarto posto (1991-92) no campeonato.

O presidente alcançaria ainda uma meia-final da Taça UEFA (antecessora da Liga Europa) na qual o Sporting foi eliminado pelo Inter de Milão, que haveria de vencer o troféu, em 1990-91. E foi finalista vencido da Taça de Portugal na época 1993-94, batido pelo FC Porto. Não é um espólio famoso, mas com o colapso do projecto Roquette o seu nome passou a ser recordado com mais simpatia pelos sportinguistas.

Comissão de Gestão campeã

Cintra lidera agora a SAD criada pelos seus sucessores, no meio de uma crise de contornos únicos. O clube está nas mãos de uma Comissão de Gestão, algo que não acontecia há 38 anos. Na altura (entre 5 de Setembro de 1979 e 31 de Julho de 1980), a situação de excepção foi desencadeada pela decisão de João Rocha, que abandonou a presidência.

Um período que também teve contornos bastante inusitados: o próprio João Rocha liderou a direcção transitória e acabaria por voltar a candidatar-se e ganhar as eleições. Pelo meio, o “leão” venceu esse campeonato de 1979-80, naquele que seria o penúltimo título do século XX na competição principal.

Já os derbies com o Benfica nesse conturbado período da vida “leonina” voltaram a ter um saldo positivo para o clube da Luz. Uma vitória caseira no campeonato para cada lado, com o desempate, nos oitavos-de-final da Taça de Portugal, a desequilibrar as contas a favor dos “encarnados”.

O confronto deste sábado à noite na Luz vai clarificar o impacto da actual crise no futebol sportinguista e mostrar qual dos dois rivais parte da pole position para atacar o título.