Erdogan responde a Trump com boicote a produtos electrónicos dos EUA

Lira turca inverte tendência de queda e está em alta nesta terça-feira. Presidente turco renova ameaças aos Estados Unidos.

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Erdogan tem falado da queda da lira turca como uma “conspiração” contra Ancara Reuters/Umit Bektas

O dia está a ser mais tranquilo para a lira turca depois da turbulência das últimas sessões, mas nem por isso a instabilidade económica deixou de pairar sobre a Turquia. O tom confrontacional com Washington, pela duplicação das taxas aduaneiras aplicadas às importações de alumínio e aço vindas da Turquia, foi renovado nesta terça-feira pelo presidente turco, com Recep Tayyip Erdogan a ameaçar um boicote aos produtos electrónicos norte-americanos, incluindo o iPhone.

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O dia está a ser mais tranquilo para a lira turca depois da turbulência das últimas sessões, mas nem por isso a instabilidade económica deixou de pairar sobre a Turquia. O tom confrontacional com Washington, pela duplicação das taxas aduaneiras aplicadas às importações de alumínio e aço vindas da Turquia, foi renovado nesta terça-feira pelo presidente turco, com Recep Tayyip Erdogan a ameaçar um boicote aos produtos electrónicos norte-americanos, incluindo o iPhone.

A retaliação contra Donald Trump intensificou-se um dia depois de o banco central turco ter sido forçado a anunciar medidas extraordinárias para conter o risco de contágio da crise financeira, agudizado pela queda brusca da lira e pela subida dos juros da dívida.

O chefe de Estado turco aproveitou o palco do 16º aniversário da fundação do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) para garantir mais uma vez que não recuará perante os Estados Unidos. “Se eles têm iPhones, há a Samsung do outro lado, e nós temos a Vestel aqui”, afirmou Erdogan, referindo-se à multinacional sul-coreana e à tecnológica turca”. E levando as palavras do presidente turco à letra, a companhia aérea de bandeira Turkish Airlines e a Turk Telecom, principal empresa de telecomunicações, não tardaram a anunciar que vão deixar de comprar publicidade nos media norte-americanos.

Erdogan animou o braço-de-ferro com Washington horas antes de o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, se reunir em Ancara com o homólogo turco, Mevlut Cavusoglu – encontro que serviu para Moscovo defender que o comércio internacional com a Turquia se faça nas moedas nacionais e não em dólares. Mas, segundo a Reuters, sem uma promessa firme de que a Rússia apoiará Erdogan para resolver a crise monetária que o país atravessa.

A descida abrupta da lira nos últimos dias — desde o início do ano chegou a acumular uma queda superior a 40% — está a ser invertida nesta terça-feira depois de, na véspera, ter atingido o mínimo histórico em relação à moeda norte-americana. O movimento de recuperação teve um forte impulso durante todo dia, em que esteve a subir mais de 8% (por volta das 18h, a cotação estava nas 6,31 liras por dólar).

Na Europa, algumas das principais bolsas terminaram o dia com ligeiras subidas, em parte também explicadas pela divulgação de indicadores económicos. Frankfurt fechou inalterado, Londres e Lisboa tiveram quedas ligeiras, abaixo de 1%, mas Paris, Amesterdão, Bruxelas encerraram a crescer (mas menos de 1%).

A recuperação dos mercados seguiu-se à decisão do banco central turco de avançar com uma série de medidas para garantir a estabilidade financeira – o supervisor anunciara na segunda-feira que tomaria “todas” as que fossem necessárias para o conseguir, decidindo triplicar o valor em liras que os bancos podem pedir emprestado a partir das suas reservas em moeda estrangeira, de 7,2 mil milhões de euros para 20 mil milhões. O objectivo passa por aumentar a disponibilização da lira turca e de dólares nos mercados cambiais, através do aumento da liquidez dos bancos.

A queda da divisa turca tem deixado os analistas financeiros em estado de alerta em relação ao risco de contágio a outras economias (as empresas turcas têm acumulado dívidas denominadas em dólares) e pelo próprio reflexo nos bancos europeus (nomeadamente para as instituições mais expostas a empréstimos a essas empresas ou às que têm relações com a economia do país).

O agravamento da instabilidade financeira que levou o banco central a intervir para conter os efeitos de contágio da crise numa frágil economia turca intensificou-se depois das declarações de Donald Trump no Twitter na sexta-feira, quando anunciou uma duplicação das taxas aplicadas às importações de alumínio e aço turcas, que já tinham sido agravadas no início do Verão. Foi aí que a moeda turca caiu de forma abrupta, prolongando esse movimento na segunda-feira, ao mesmo tempo em que as taxas de juro da dívida pública atingiram valores historicamente elevados e expondo a fuga de investidores externos. com agências

Texto actualizado às 18h30 com fecho dos mercados europeus