Há poucos dados sobre o mosaico climático da Área Metropolitana do Porto

Coordenadora do Plano Metropolitano de Adaptação às Alterações Climáticas pede investimento numa rede mais fina de recolha de dados meteorológicos.

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O Radar Meteorológico da Serra da Freita, em Arouca existe desde 2015 Sergio Barroso

A Área Metropolitana do Porto (AMP) já tem um plano de adaptação às alterações climáticas. O problema, assumido pela coordenadora científica do documento, a geógrafa Ana Monteiro, é que há falta de informação sobre os vários mosaicos climáticos da AMP, onde os dados meteorológicos nem sempre são obtidos da melhor forma, criticou. A cientista apelou a um investimento nesta área, pois, sem esses dados, notou, torna-se difícil propor medidas adequadas a parcelas mais específicas do território e monitorizar os efeitos das medidas que vierem a ser tomadas para enfrentar os desafios do clima em mudança.

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A Área Metropolitana do Porto (AMP) já tem um plano de adaptação às alterações climáticas. O problema, assumido pela coordenadora científica do documento, a geógrafa Ana Monteiro, é que há falta de informação sobre os vários mosaicos climáticos da AMP, onde os dados meteorológicos nem sempre são obtidos da melhor forma, criticou. A cientista apelou a um investimento nesta área, pois, sem esses dados, notou, torna-se difícil propor medidas adequadas a parcelas mais específicas do território e monitorizar os efeitos das medidas que vierem a ser tomadas para enfrentar os desafios do clima em mudança.

O ministro do Ambiente encerrou a sessão de apresentação do plano, que decorreu ontem em Gaia, mas não chegou a tempo de ouvir as críticas à qualidade dos dados meteorológicos regionais. Para além da série produzida na estação clássica da Serra do Pilar, entre 1880 e 2007, há registos desde 2009 da estação automática que o Instituto Português do Mar e da Atmosfera tem instalada nesta localização, da estação do mesmo organismo em Pedras Rubras que, entretanto, mudou de localização — da torre de controlo para a placa do Aeroporto Francisco Sá Carneiro — e da estação Porto S. Gens na Estrada da Circunvalação no Porto, explicou.

Em declarações à imprensa, João Pedro Matos Fernandes lembrou que não tutela o IPMA, mas mostrou-se aberto a analisar as necessidades, nesta e noutras áreas, que lhe venham a ser apresentadas pela Área Metropolitana, a partir da produção deste documento. Minutos antes, Ana Monteiro considerara urgente o investimento em novas estações de recolha de dados meteorológicos para garantir a uma leitura da diversidade climática do território — que não, todo ele, é de clima temperado, ameno, insistiu — e elogiara a Câmara de Gaia por ter reaberto, com a Universidade do Porto, a estação clássica da Serra do Pilar em 2014, após um interregno de sete anos.

Após a sessão, o autarca local, e actual presidente da Área Metropolitana do Porto, Eduardo Vítor Rodrigues, assumiu que cabe às autarquias, com apoio da academia, complementar a rede do IPMA e garantir a produção de dados fiáveis, essenciais para melhorar a eficácia das acções de adaptação dos territórios às alterações climáticas. Líder de um município que já está a avançar com o trabalho de elaboração de um plano de âmbito concelhio, o socialista admitiu que é preciso colocar o tema na agenda local da AMP, dado que na região há diferentes sensibilidades para estas questões, mas mostrou-se confiante nas capacidades da actual geração de autarcas.

Na AMP, só o Porto, Matosinhos e Vila do Conde subscreveram o Pacto dos Autarcas para o Clima e a Energia, e só os dois primeiros enviaram um plano de acção com objectivos concretos de redução de emissões, que estão a ser monitorizados. O resto da região está mais atrasada, e Ana Monteiro desafiou a plateia — na qual faltavam vários dos 17 autarcas da área metropolitana — a participarem naquele movimento mundial e a assumirem compromissos concretos. O problema é que, nas várias fases de produção do plano que coordenou, a equipa enfrentou dificuldades no acesso a informação dos concelhos, havendo casos em que não obteve sequer resposta a questionários enviados.

Iliteracia climática

Não espanta por isso que, para além dos riscos climáticos concretos, como a erosão costeira e o aumento do nível das águas do mar, o aumento do número de dias com temperaturas extremas, as precipitações intensas, a seca ou os ventos velozes — com impactos distintos nas várias zonas da região que vai da Póvoa de Varzim a Arouca —, a AMP enfrente, em simultâneo, o risco da “iliteracia climática grave” de decisores políticos, técnicos e da população em geral, segundo Ana Monteiro. Para a especialista o envelhecimento da população e a pobreza dificultam a assunção, por parte dos habitantes, destas questões como uma prioridade nas suas vidas. A isto junta-se uma crença de que a ciência e a tecnologia resolverão os problemas que possamos enfrentar.

O desafio é convencer os políticos locais, as estruturas municipais, as empresas e os munícipes de que cada um tem um papel a desempenhar neste esforço de adaptação que, na perspectiva do ministro, não anula o empenho nas medidas de mitigação dos efeitos da acção humana sobre o clima, por via da redução das emissões de gases com efeito de estufa. Durante a sessão foram lembrados bons exemplos de âmbito metropolitano, como o projecto das 100 mil Árvores, ou a criação do Parque das Serras do Porto, mas há muito fazer, desde logo ao nível do planeamento das intervenções em domínios como os espaços verdes, a rede viária, a mobilidade, a eficiência energética, entre outros.