Conheça as portuguesas que foram pioneiras nas profissões liberais e no activismo

Esta quarta-feira passam cem anos da publicação do decreto que legitima o acesso das mulheres a "várias funções públicas".

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Várias mulheres destacaram-se na medicina, na engenharia, na advocacia, na escrita, no activismo político e na defesa dos direitos das mulheres durante a primeira metade do século XX, numa sociedade em que imperava a figura masculina do "chefe de família". Esta quarta-feira passam cem anos da publicação do decreto, promulgado por Sidónio Pais, que legitima o acesso das mulheres a "várias funções públicas".

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Várias mulheres destacaram-se na medicina, na engenharia, na advocacia, na escrita, no activismo político e na defesa dos direitos das mulheres durante a primeira metade do século XX, numa sociedade em que imperava a figura masculina do "chefe de família". Esta quarta-feira passam cem anos da publicação do decreto, promulgado por Sidónio Pais, que legitima o acesso das mulheres a "várias funções públicas".

Conheça algumas mulheres que se destacaram na luta pelos seus direitos:

Regina Quintanilha
A primeira mulher a licenciar-se em Direito e a exercer a advocacia ainda antes do decreto de 1918 que consagrou a abertura da profissão às mulheres. Conseguiu uma autorização do Supremo Tribunal de Justiça e estreou-se em 1913, no Tribunal da Boa Hora. Nasceu a 9 de Maio de 1893, em Bragança, no seio de uma família abastada. Aos 17 anos pediu a matrícula na Universidade de Coimbra e terminou o curso em três anos.

Carolina Beatriz Ângelo
Foi a primeira mulher a exercer o direito de voto, alegando reunir todas as condições estabelecidas na lei, em 1911: era portuguesa, viúva, chefe de família, com formação superior. Mas não foi fácil para esta mulher que nasceu na Guarda, que se formou em Medicina e morreu aos 33 anos. Então, o regime não aceitou. Por isso, Beatriz Ângelo levou o caso a tribunal, conseguiu recensear-se e votar nas eleições para a Assembleia Constituinte. A lei foi posteriormente alterada para explicitar que só os homens podiam votar. Deixou um intenso legado na luta pelos direitos das mulheres.

Maria Amélia Chaves
A primeira engenheira, licenciada no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, em 1937. Morreu no ano passado. Ao prestar-lhe homenagem numa publicação, o Técnico afirma que depois de concluir a licenciatura voltou a surpreender "tudo e todos" ao ir para o terreno liderar um grupo de operários. “Quando lutamos e sabemos o que fazemos, somos aceites”, dizia.

Adelaide Cabete
Republicana, médica e professora. Pioneira na reivindicação dos direitos das mulheres, como o voto e um período de descanso (um mês) antes do parto. Natural de Alcáçova, em Elvas. Órfã, de origem humilde, estudou depois de se casar. Concluiu o curso em 1900, com a tese "Protecção às Mulheres Grávidas Pobres como meio de promover o desenvolvimento físico das novas gerações". Na sua biografia, consta que foi a primeira mulher a votar a Constituição Portuguesa que instala o Estado Novo, ao qual se opôs.

Ana de Castro Osório
Escreveu em 1905 As Mulheres Portuguesas, que é considerado o primeiro manifesto feminista português. Natural de Mangualde, profetizou que a mulher portuguesa só no trabalho encontraria a sua carta de alforria, não no trabalho esmagador, exercido como castigo, mas “no trabalho que enobrece o espírito, que dá o belo orgulho dos que só contam consigo e nunca foram um peso para ninguém”, conforme recorda a investigadora Irene Pimentel no livro Mulheres Portuguesas, em co-autoria com Helena Pereira de Melo.

Aurora de Castro Gouveia
A primeira notária, não apenas em Portugal, mas na Europa, e a segunda mulher a exercer advocacia no país, segundo a historiadora Irene Pimentel.

Maria José Estanco
A primeira mulher arquitecta. Natural de Loulé começou por frequentar Pintura, em Belas Artes, optando mais tarde pelo curso de Arquitectura, que concluiu em 1942. O Arquivo Distrital de Faro prestou-lhe este ano homenagem por ocasião do Dia Internacional da Mulher, dando conta do seu percurso: “Tentou o ingresso em vários ateliers de arquitectura, porém viu a entrada no mercado de trabalho ser barrada pela sua condição feminista, pelo que se dedicou à decoração de interiores e à criação de móveis". Integrou a direcção do Conselho Nacional para a Paz e o Movimento Democrático das Mulheres.

Manuela Azevedo
A primeira jornalista com carteira profissional (morreu no ano passado com 105 anos). Escreveu romances, poesia e teatro. Viu uma das peças censurada pelo regime de Salazar e enfrentou a censura num artigo que escreveu em 1935 sobre eutanásia.