Já sabemos de onde vêm as emissões que estão a destruir a camada de ozono

Relatório de uma organização não-governamental revela que a maioria dos misteriosos clorofluorocarbonetos que estão a ser lançados para a atmosfera são da China.

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Buraco da camada de ozono em 2000 Greg Shirah/Paul Newman/NASA/GSFC

Já sabemos de onde virá uma boa parte das emissões misteriosas que está a destruir a camada de ozono. Um relatório da Agência de Investigação Ambiental (EIA, na sigla em inglês) divulgado esta segunda-feira revela que as emissões vêm da China, nomeadamente de fábricas de espuma para isolamento.

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Já sabemos de onde virá uma boa parte das emissões misteriosas que está a destruir a camada de ozono. Um relatório da Agência de Investigação Ambiental (EIA, na sigla em inglês) divulgado esta segunda-feira revela que as emissões vêm da China, nomeadamente de fábricas de espuma para isolamento.

Em Maio, cientistas anunciavam na revista Nature que a taxa de declínio de um tipo de um clorofluorocarboneto (CFC) na atmosfera – o CFC-11 – abrandou cerca de 50% desde 2012. A produção desse CFC foi proibida nos países desenvolvidos nos anos 90 e do resto do mundo em 2010. Afirmava-se ainda que essas emissões poderiam vir do Leste asiático e que podiam atrasar em uma década a recuperação do buraco da camada do ozono.

Em Junho, a organização não-governamental EIA contactou 25 representantes de empresas chinesas. Responderam 21 e 18 fábricas de dez províncias confirmaram o uso ilegal de CFC-11 na produção de espuma para isolamento nos edifícios ou para outras aplicações. Segundo as estimativas da EIA, entre 2012 e 2017 terão sido emitidas dez mil a 12 mil toneladas de CFC-11. Ora, para o mesmo período, o artigo da Nature indicava que foram emitidas entre oito mil a 18 mil toneladas da mesma substância.

A maioria dos representantes revelou à EIA que usa CFC-11 porque é mais barato e tem mais qualidade do que as substâncias alternativas. A China é o maior produtor desta espuma e estima-se que existam cerca de 3500 pequenas e médias empresas deste sector no país.

No relatório da EIA, destacam-se testemunhos dos representantes das fábricas. Por exemplo, um deles indica que 99% das suas esponjas usavam CFC-11 comprado em fábricas “obscuras e escondidas” da Mongólia Interior. Já outro relatou como era fácil evitar as inspecções ambientais: “Quando o gabinete ambiental municipal faz o controlo, os funcionários locais chamam-me e dizem-me para fechar a minha fábrica. Os nossos trabalhadores reúnem-se e escondem-se.”

Stephen Montzka, da NOAA, a agência dos oceanos e da atmosfera dos EUA, e um dos autores do artigo da Nature, louva o trabalho da EIA, mas avisa que o CFC-11 poderá ser produzido também noutras actividades. Por isso, referiu ao jornal The  Guardian que deverão ser feitas novas medições atmosféricas no Leste asiático.

Um grupo de trabalho do Protocolo de Montreal – tratado de 1987 em que 150 países se comprometeram a eliminar a produção dos CFC – estará reunido esta semana em Viena (Áustria), entre quarta-feira e sábado, para discutir este caso. “Esta semana irá ser um momento crítico para o diálogo, resolução e acção para garantir que qualquer actividade ilegal seja totalmente investigada e urgentemente travada”, diz Erik Solheim, director do Programa das Nações Unidas para o Ambiente.

Segundo o The Guardian, o Governo chinês também já estará a inspeccionar e a tirar amostras de vários sítios. Aliás, no relatório, a EIA afirma que documentos oficiais chineses já relatavam que certas empresas usavam CFC-11.