Apesar do cansaço professores continuam a responder à sua “missão”

Quase metade dos professores está exausta, mas continua a preocupar-se com os alunos.

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NELSON GARRIDO

“Há muito cansaço [entre professores], mas pouca despersonalização”, o que revela que continuam a responder à sua “função e missão”. Este é um dos aspectos que António Coimbra de Matos, psiquiatra e membro da equipa que desenvolveu um estudo sobre o desgaste entre docentes, retira da interpretação dos dados apresentados esta sexta-feira, em Lisboa.

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“Há muito cansaço [entre professores], mas pouca despersonalização”, o que revela que continuam a responder à sua “função e missão”. Este é um dos aspectos que António Coimbra de Matos, psiquiatra e membro da equipa que desenvolveu um estudo sobre o desgaste entre docentes, retira da interpretação dos dados apresentados esta sexta-feira, em Lisboa.

O estudo feito pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e encomendado pela Federação Nacional de Professores (Fenprof) revela que quase metade dos docentes dá sinais “preocupantes” de “exaustão emocional”. Mas quanto aos números sobre a despersonalização (que se observa quando um profissional que trabalha com pessoas começa a encará-las como “coisas”), a proporção dos professores que dizem senti-lo não chega aos 8%.

Quase metade (47,8%) dos professores revela sinais no mínimo preocupantes de exaustão emocional — 20,6% demonstram sinais “preocupantes”, 15,6% apresentam “sinais críticos” e 11,6% têm já “sinais extremos” de esgotamento. Outros 28,5% dos docentes inquiridos mostram “alguns sinais” de exaustão emocional, ao passo que só 23,6% não declaram quaisquer sintomas.

“O professor está numa posição de ajudar o outro a crescer. Penso que é por isto que encontramos cansaço grande, mas desumanização pequena”, diz o psiquiatra António Coimbra Matos.

Sobre esta questão, também Raquel Varela, historiadora e coordenadora do estudo, diz que isto mostra que os professores “não escolheram a profissão errada”. “A maioria gosta dos alunos e de ensinar.” O perigo, diz, é que este sentido de responsabilidade em relação aos alunos “agrave os números de adoecimento” uma vez que os professores sentirão maior responsabilidade sobre os alunos e têm “receio de não cumprir bem o seu trabalho”. De facto, são os professores que mais dizem preocupar-se com os alunos que apresentam maiores níveis de exaustão emocional.

Ainda assim, quase metade dos professores apresenta índices elevados de falta de realização profissional.

Outra das conclusões apresentadas neste estudo tem a ver com o facto de a grande maioria dos professores (84%) serem a favor da reforma antecipada. António Coimbra de Matos sublinha que “qualquer trabalho só é verdadeiro se for uma brincadeira”. “Se for assim não cansa. Mas não cansar não quer dizer que não possa ser excessivo”, diz advertindo ainda que "os períodos de repouso são tão importantes como períodos de trabalho."