Na Linha do Oeste, a CP já é conhecida por “Camionetas de Portugal”

Nem sempre a empresa substitui comboios por autocarros e muitas vezes os passageiros ficam em terra sem qualquer informação.

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rui Gaudencio

Na região do Oeste, a CP já começa a ser conhecida por “Camionetas de Portugal”, tal é a quantidade de vezes que a empresa recorre ao transporte rodoviário alternativo por não ter material circulante para assegurar o serviço.

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Na região do Oeste, a CP já começa a ser conhecida por “Camionetas de Portugal”, tal é a quantidade de vezes que a empresa recorre ao transporte rodoviário alternativo por não ter material circulante para assegurar o serviço.

Entre 20 e 28 de Junho a transportadora pública suprimiu 56 comboios na Linha do Oeste, o que dá uma média de seis por dia. Um valor que tem sido relativamente constante no mês de Junho.

“Antigamente, um comboio suprimido dava direito a um inquérito e ao apuramento de responsabilidades. Agora é uma coisa rotineira”. O desabafo é de um ferroviário que se vê confrontado com os protestos dos passageiros perante as constantes supressões e respectivos atrasos porque todo o serviço fica desregulado e os atrasos atingem frequentemente as duas horas.

Com o início da época balnear, os transtornos causados são maiores, sobretudo entre Caldas da Rainha e S. Martinho do Porto. A viagem de comboio entre estas duas estações demora apenas sete minutos, ficando os passageiros a escassos 50 metros da praia. De automóvel demora-se 25 minutos, mas os autocarros alternativos demoram mais de meia hora e circulam sistematicamente atrasados.

Pior, porém, é quando os clientes da CP não têm comboio... nem autocarro. Foi o que aconteceu a 8 de Junho com uma professora e uma turma de alunos da Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, das Caldas da Rainha, que foram fazer uma actividade de campo a S. Martinho. Compraram bilhete de ida e volta, mas em vez de comboio foram de autocarro porque aquele tinha sido suprimido. O pior foi no regresso: o comboio das 18h56 não apareceu, nem nenhum autocarro. A estação não tinha pessoal, e o call center tinha uma gravação a dizer para mandarem um e-mail. Resultado: alunos e professora foram resgatados pelos encarregados de educação que se mobilizaram para irem buscar o grupo abandonado pela CP.

Histórias como estas sucedem-se. Creches e escolas costumam organizar passeios à praia com as crianças, mas chegam à estação das Caldas da Rainha e não há comboio. E também já aconteceu grupos de crianças ficarem retidas três horas na estação das Caldas por não haver ligações devido às supressões. A empresa, entretanto, recusa vender bilhetes para grupos, assumindo que não consegue assegurar a sua oferta regular. E porquê? Porque não tem automotoras. As poucas que tem são tão velhas que avariam frequentemente e vão para as oficinas. Estas, por sua vez, por não terem pessoal, não conseguem repará-las.

Fonte oficial da empresa disse ao PÚBLICO que em breve 20% a 25% da frota diesel da CP deverá ficar imobilizada devido à falta de capacidade da EMEF (empresa de manutenção de equipamento ferroviário) em dar resposta. Daí que o problema afecte também as linhas do Alentejo e do Algarve, onde são habituais as supressões.

O problema, contudo, era previsível. Desde Janeiro de 2017 que a CP começou a suprimir comboios na Linha do Oeste, sem nunca ter criado uma alternativa. A única “solução” foi a de reduzir a oferta de comboios, incluindo o fim das ligações directas para Coimbra, a partir deste Verão, mas a tutela não concordou e, para já, os horários mantêm-se (apesar de nunca cumpridos).

Até ao fim do ano passado, a CP fornecia dados sobre o número de supressões e montante gasto em aluguer de autocarros, mas recentemente deixou de fornecer ao PÚBLICO essas informações. Também não respondeu às perguntas sobre como tenciona resolver o problema.