Philippe Coutinho mostrou arte, mas a Suíça “borrou” a pintura

Brasil colocou-se em vantagem com um grande golo do jogador do Barcelona, mas a “canarinha” perdeu intensidade e permitiu o empate dos suíços, num lance em que os brasileiros têm razões de queixa.

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A expectativa em torno da estreia do Brasil no Mundial 2018 era enorme, e a selecção entrava em campo sem “fantasminhas”, garantira Tite antes do jogo com a Suíça. Mas a primeira amostra da “canarinha” na Rússia teve sabor a decepção. Foi um arranque em falso frente aos helvéticos (1-1), numa partida em que Neymar e companhia estiveram longe de deslumbrar.

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A expectativa em torno da estreia do Brasil no Mundial 2018 era enorme, e a selecção entrava em campo sem “fantasminhas”, garantira Tite antes do jogo com a Suíça. Mas a primeira amostra da “canarinha” na Rússia teve sabor a decepção. Foi um arranque em falso frente aos helvéticos (1-1), numa partida em que Neymar e companhia estiveram longe de deslumbrar.

O futebolista mais caro da história foi inconsequente em todos os lances individuais que ensaiou — mas também muito castigado por faltas. Por isso, e pelo lance que deu o golo do empate, os brasileiros podem queixar-se da arbitragem do mexicano César Arturo Ramos, mas não foi só isso que deu origem ao empate.

Foram quatro anos a lamber as feridas do traumático Mundial 2014, que o Brasil organizou e do qual foi afastado com estrondo pela Alemanha, nas meias-finais. Mas, por muito que os brasileiros queiram colocar a memória do 7-1 no Mineirão para trás das costas (há nesta selecção apenas seis repetentes de 2014), este regresso aos grandes palcos deixou algo a desejar. Tite apostou num “onze” de criativos, virado para o ataque, com o objectivo de dominar a posse de bola. Mas, depois da obra de arte com que Philippe Coutinho inaugurou o marcador, a “canarinha” desligou, deixou de rondar a baliza de Sommer e de criar perigo. Até permitiu que o intervalo chegasse com a posse de bola dividida em partes iguais.

Com o benfiquista Seferovic como principal referência atacante, a Suíça tinha atrás dele uma linha de futebolistas com qualidade. Shaqiri, Dzemaili e Zuber foram os elementos em maior evidência na equipa de Vladimir Petkovic, e os responsáveis por manter a fiabilidade suíça: uma única derrota (contra a selecção portuguesa, no derradeiro jogo de apuramento para este Campeonato do Mundo) nas últimas 23 partidas disputadas, já incluído o duelo de Rostov com o Brasil.

Até pertenceu à Suíça o primeiro lance de relativo perigo, com Dzemaili a corresponder ao passe de Shaqiri mas a acertar mal na bola e a fazê-la subir exageradamente. O Brasil empolgava, mas Sommer ia-se agigantando na baliza suíça: aos 11’ fez uma grande defesa, com a luva esquerda, a desviar o remate de Paulinho o suficiente para passar ligeiramente ao lado do poste.

Não foi preciso esperar muito mais para o Brasil chegar à vantagem, graças a uma verdadeira obra de arte de Philippe Coutinho. Após alívio da defesa suíça, a bola sobrou para o futebolista do Barcelona à entrada da área. Coutinho flectiu da esquerda para o centro e aplicou o seu remate característico, com a bola a descrever um arco, a passar fora do alcance de Sommer, e a beijar ainda o poste antes de entrar.

Mas, depois disso, a selecção brasileira perdeu intensidade e deixou de criar perigo. E a Suíça não chegou a fazer um único remate enquadrado com a baliza na primeira parte, deixando Alisson como mero espectador do que se passava — um espectáculo de passes falhados de parte a parte que fazia os minutos arrastarem-se no relógio até ao intervalo.

O início da segunda parte foi prometedor, com a Suíça a penalizar o adormecimento do Brasil e a chegar ao 1-1 na sequência de um canto. Zuber saltou sozinho e, de cabeça, desviou para o fundo da baliza de Alisson, mas o lance promete dar que falar: os brasileiros queixaram-se de um empurrão do médio suíço a Miranda, só que não houve qualquer indicação do videoárbitro e o árbitro mexicano da partida não foi rever o lance. Seja como for, o guarda-redes brasileiro deveria de ter saído dos postes e os defesas foram, no mínimo, permissivos.

Com mais coração do que cabeça, o Brasil partiu para uma recta final de pressão intensa, mas ninguém encontrou forma de bater Sommer, que foi somando boas intervenções — e com isso trouxe alguns “fantasminhas” de volta a uma selecção que precisava de mais Neymar.