Portugal testa os alicerces de Espanha após o terramoto Lopetegui

Após uma semana dividida entre a tranquilidade de Kratovo e o vendaval em Krasnodar chega o grande embate da primeira fase do Mundial entre os dominadores do futebol europeu da última década.

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Jogadores portugueses no treino, em Sochi LUSA/PAULO NOVAIS

Foi há um sismo atrás, mas ainda no início da semana, o grande debate à volta da selecção espanhola centrava-se na escolha do homem mais adiantado no terreno para defrontar Portugal: Diego Costa, Rodrigo ou Aspas. A inusitada saída de Julen Lopetegui tornou, contudo, a questão num pormenor. Na noite desta sexta-feira, na estreia das duas potências ibéricas no Mundial, ficará a saber-se se a "roja" resistiu ao abalo provocado pelo seu ex-seleccionador e continuará a assumir-se como grande candidato à final de Moscovo.

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Foi há um sismo atrás, mas ainda no início da semana, o grande debate à volta da selecção espanhola centrava-se na escolha do homem mais adiantado no terreno para defrontar Portugal: Diego Costa, Rodrigo ou Aspas. A inusitada saída de Julen Lopetegui tornou, contudo, a questão num pormenor. Na noite desta sexta-feira, na estreia das duas potências ibéricas no Mundial, ficará a saber-se se a "roja" resistiu ao abalo provocado pelo seu ex-seleccionador e continuará a assumir-se como grande candidato à final de Moscovo.

Defrontar os actuais campeões europeus a abrir o Grupo B a meio de uma crise sem precedentes não é um cenário propriamente idílico para Espanha. Ainda mais com o técnico mais inexperiente de toda a competição no banco. Com apenas uma curta experiência como treinador principal - ao serviço do Oviedo da II Liga (2016-17) -, Fernando Hierro enfrenta o desafio da sua vida e carrega o sonho de uma nação.

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Se a "roja" já aceitara o fardo do favoritismo frente a Portugal, reforçou consideravelmente a pressão no rescaldo de três dias que abalaram um país e a tornaram na selecção mais mediática na Rússia por motivos que dispensaria. É, por isso, uma grande incógnita a resposta que dará em Sochi frente ao conjunto de Fernando Santos.

Afastados os aspectos psicológicos, estamos perante uma selecção que transpira talento e um adversário temível para qualquer oponente. Mesmo com outro protagonista no banco, o excelente trabalho de Lopetegui nos últimos dois anos não será desbaratado e Hierro só terá de lhe dar continuidade, alterando o menos possível.

Perante a violenta intempérie de Krasnodar (cidade que alberga o quartel-general da Espanha), a bucólica e primaveril semana de Portugal em Kratovo (arredores de Moscovo) não poderia ser mais contrastante. Um grupo unido, bem-disposto e ambicioso, que conseguiu isolar-se da hecatombe sportinguista em curso, que deixou alguns dos futebolistas na Rússia voluntariamente sem clube.

Um funeral

Uma brisa comparado com as descargas eléctricas sentidas a mais de mil quilómetros a sul. Entre noites mal dormidas, discussões e divisões correu a preparação espanhola, que só voltou a sintonizar-se com a competição esta quinta-feira.

“Parece que estamos num funeral e amanhã [sexta-feira] começamos o Campeonato do Mundo”, resumiu o capitão Sergio Ramos, esta quinta-feira ao final da tarde, pouco depois da sorumbática comitiva espanhola chegar ao vistoso estádio olímpico de Sochi. Um recinto ultra-moderno em forma de concha mesmo à beirinha do Mar Negro.

Uma atmosfera pesada que Fernando Santos procurou desvalorizar. “A Espanha joga da mesma forma há dez anos. Não espero nenhuma surpresa. O que é importante é as equipas que vão jogar e a forma como vão estar montadas. O resto não interessa muito”, garantiu o seleccionador português.

Mas a verdade é que a selecção que assombrou o mundo com um estilo irresistível de futebol entre 2008 e 2012, consagrada para a história com dois títulos europeus (2008 e 2012) e o primeiro mundial (2010), perdeu fulgor nos anos seguintes. Uma decepcionante campanha no Mundial do Brasil, há quatro anos, em que não ultrapassou a fase de grupos, e no Euro 2016, eliminada pela Itália nos oitavos-de-final, fizeram soar os alarmes e motivaram medidas drásticas.

Recuperar a “fúria”

E quando se pensou em alguém com mão de ferro para lidar com uma constelação de estrelas e soberba de egos para impor mudanças e renovação, Lopetegui não era o nome mais óbvio. Mas foi o técnico basco a recuperar a “fúria” espanhola, mesclando-a em doses equilibradas de experiência e sangue novo.

O resultado foi uma campanha brilhante na qualificação onde apenas cedeu um empate nas dez partidas realizadas, apontando 36 golos (mais de três por partida) e sofrendo apenas três (0,3).

Portugal de Cristiano Ronaldo irá testar esta Espanha, em Sochi, num tira-teimas entre vizinhos que dominaram o futebol europeu na última década. O resultado, seja qual for, não será determinante para as contas do grupo, mas pode ser fundamental em relação à candidatura ao primeiro lugar. E este não é um pormenor, mesmo que os dois possam seguir em frente na competição, face ao peso dos adversários com que se poderão cruzar nas fases seguintes a eliminar.

Será a quinta vez que as duas selecções se irão enfrentar em fases finais de grandes competições e o resultado até ao momento é quase um empate técnico. Um triunfo para Portugal, na fase de grupos do Euro 2004; outro para a Espanha, nos oitavos-de-final do Mundial de 2010, e dois empates, na fase de grupos do Euro 1984 e nas meias-finais do Euro 2012, ainda que esta eliminatória tenha sido favorável aos espanhóis no desempate por grandes penalidades.

A tarefa da selecção nacional será agora adiar o que será a 400.ª vitória da história da "roja" em 683 partidas disputadas.