Rede Douro Vivo vai avaliar o impacto das barragens na bacia do rio

Estrutura que reúne várias organizações, coordenada pelo GEOTA, é formalmente apresentada esta terça-feira.

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Projecto coordenado pelo GEOTA é financiado pela Fundação Mava Joana Gonçalves

A associação ambientalista GEOTA (Grupo de Estudo do Ordenamento do Território e Ambiente) já tinha identificado, no projecto Rios Livres, seis cursos de água na Bacia do Douro classificáveis como outstanding, excepcionais, por correrem sem obstáculos humanos e poluição, um cenário cada vez mais raro em Portugal. E esta semana junta-se a outras dez entidades, entre centros de investigação e organismos do ensino superior, organizações ambientalistas, para criar a Rede Douro Vivo, uma estrutura que tentará, nos próximos anos, estudar e propor soluções para protecção de um rio sobrecarregado por múltiplas actividades humanas e em cuja bacia se continuam a planear novas barragens.

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A associação ambientalista GEOTA (Grupo de Estudo do Ordenamento do Território e Ambiente) já tinha identificado, no projecto Rios Livres, seis cursos de água na Bacia do Douro classificáveis como outstanding, excepcionais, por correrem sem obstáculos humanos e poluição, um cenário cada vez mais raro em Portugal. E esta semana junta-se a outras dez entidades, entre centros de investigação e organismos do ensino superior, organizações ambientalistas, para criar a Rede Douro Vivo, uma estrutura que tentará, nos próximos anos, estudar e propor soluções para protecção de um rio sobrecarregado por múltiplas actividades humanas e em cuja bacia se continuam a planear novas barragens.

A fundação suíça Mava, que financia esta e muitas outras iniciativas de defesa do Ambiente em vários pontos da Europa e de África, descreve o Douro Vivo como um projecto destinado a evitar a implementação do grande programa de construção de novas barragens português. Como recorda Ana Brazão, coordenadora, no GEOTA, do Rios Livres e responsável por esta nova iniciativa, a bacia do Douro já levou recentemente com os empreendimentos hidro-eléctricos do Baixo Sabor e de Foz Tua, e neste território está neste momento a ser erguido o aproveitamento hidro-eléctrico do Alto Tâmega. Tudo isto numa bacia em que as alterações climáticas poderão, estima-se, fazer cair em 14%, nas próximas décadas, do volume de água que hoje ali corre.

As barragens – com as albufeiras que lhes estão associadas – são um dos factores de maior pressão sobre a qualidade da água de um rio que tem a maior bacia hidrográfica da península, um quinto da qual (19%) se situa em território português. Deste lado da fronteira, há ainda que contar com os impactes gerados em Espanha – basta pensar, por exemplo, na polémica recente em torno da exploração de uma mina de urânio junto a um afluente, na região de Salamanca – bem como com a poluição difusa, provocada, muita dela, pela actividade agrícola, ou com a pressão do turismo, sentida, desde logo no uso intensivo da via navegável.

Caracterizar esta bacia será, assim, um dos primeiros objectivos da Rede Douro Vivo – que integra as Universidades de Trás-os-Montes e Alto Douro, a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Lisboa, o Politécnico de Bragança, o CEDOUA - Centro de Estudos de Direito do Ordenamento, do Urbanismo e do Ambiente da Universidade de Coimbra, o Cibio – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, da Universidade do Porto, a Rede Inducar, a WWF-Portugal, a Liga para a Protecção da Natureza, a Wetlands Internacional, organização de defesa das zonas húmidas, o departamento para o Mediterrâneo da IUCN – União Internacional para a Conservação da Natureza.

Segundo a coordenadora do projecto, sabe-se que em Portugal há sete mil estruturas de retenção de água, mas desconhece-se quantos desses obstáculos  foram instalados em toda a bacia do Douro e, entre estes, qual o seu estado e utilidade actual. Ana Brazão acredita que não faltará muito para que Portugal siga o exemplo de países como Espanha, Suécia ou os Estados Unidos, que já começaram a destruir barragens tendo em vista um objectivo de renaturalização de territórios. E sonha com o dia em que exista, em Portugal, um parque natural que abarque o leito de um rio, ou parte dele, pelas suas características excepcionais.

Ciente de cuidar as comunidades que dependem de um rio é tão importante como proteger o próprio rio, Ana Brazão explica que, ao longo do projecto, nos próximos anos, outros parceiros serão convidados a participar, como repesentantes das comunidades e de actividades como a agricultura ou o turismo. Para já, o tiro de partida público desta iniciativa acontece esta terça-feira na Casa das Artes, pelas dez horas, com uma apresentação formal que inclui um debate entre Ana Brazão e o presidente da Administração da Região Hidrográfica do Norte, Pimenta Machado.