A disrupção democrática

Não aceito rédeas, sejam elas de que natureza forem. Por isso continuarei a denunciar, agora e sempre, as disrupções democráticas.

Vivemos nós em Democracia? Formalmente até podemos pensar que sim, mas se pararmos um pouco, na voragem da nossa vida mecanizada, que ignora o pensamento e a literatura, as artes em geral, talvez cheguemos a uma conclusão contrária ou pelo menos dubitativa. A Democracia é complexa, não basta apenas poder votar, pois enquanto requisito único, bem pode levar e tem levado... a ditaduras.

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Vivemos nós em Democracia? Formalmente até podemos pensar que sim, mas se pararmos um pouco, na voragem da nossa vida mecanizada, que ignora o pensamento e a literatura, as artes em geral, talvez cheguemos a uma conclusão contrária ou pelo menos dubitativa. A Democracia é complexa, não basta apenas poder votar, pois enquanto requisito único, bem pode levar e tem levado... a ditaduras.

Hoje enfrentamos várias fracturas na generalidade das democracias: o populismo, o discurso infantilista profundamente cultivado, a híper-burocracia que permite ao Estado asfixiar, vigiar o cidadão; o uso desregulado das novas tecnologias e das redes sociais; o marketing político; a tentação de domínio das magistraturas e dos media, bem como a corrupção endémica.

Não menos importante, assistimos à substituição de partidos por movimentos tantas vezes caudilhistas, como se ambos não tivessem papéis distintos. A implosão de partidos do centro, substituídos por extremismos ou pelas anti-ideologias. Esquecemo-nos que ter uma ideologia, no sentido verdadeiro e próprio, é a defesa da liberdade, o que exclui, pese o pleonasmo, as ideologias excludentes.

O populismo não tem propriamente um conteúdo determinado; antes é uma forma do exercício do poder, baseado num discurso de promessas, facilidades, manipulação de emoções, dos sentimentos, dos desejos. A verdade subjuga-se... como em tudo, por um tempo.

O infantilismo político aí está, a menorizar os cidadãos, tratados como se fossem crianças, utilizando o taticismo, com a perfeita consciência de que importa alimentar o processo de satisfação de desejos, omitindo a origem de meios para tal, repetindo mil vezes cenários que nada têm de real... também pode ser uma auto-estrada para a ditadura.

O marketing político ensina os responsáveis a manipular a comunicação: o que agrada ouvir ou não, se se responde ou não, qual a postura, o olhar, a vestimenta, a expressão a utilizar, etc., etc., etc. A autenticidade rareia. A indiferença miserável para com o outro campeia e, mais tarde ou mais cedo, surgirá de boomerang.

E também já nenhum de nós é livre: o Estado e os seus braços armados vigiam-nos nos mais pequenos pormenores. Sabem se temos uma sinusite ou um problema oncológico, o que compramos no supermercado, a quem telefonamos, se jantamos ou almoçamos.

O Estado cruza os nossos dados. Condiciona as nossas liberdades, o que queremos ou não investir, muitas vezes de forma arbitrária. Direitos, sejam de que geração forem, não estão hoje garantidos face a uma administração que decide como quer, quando quer, burocrática, que infringe a lei a que está obrigada, e tantas vezes de forma despudorada. As circulares acabaram na lei, mas aí continuam.

O uso desregulado das novas tecnologias e das redes sociais é tanto culpa do Estado como nossa. Do Estado, porque omite a sua regulação, nossa porque, não raro, servem para difamar, insultar, imputar condutas que terceiros (os visados) nunca tiveram, a coberto do tal anonimato cruel e cobarde. Isto para não falar da dark internet, meio utilizado para a comissão de crimes bárbaros, como, por exemplo, a pedofilia, o tráfico de armas ou o terrorismo. A cultura da vingançazinha, da inveja e de tantos outros sentimentos menores ou talvez apenas da raiva à solidão a que os próprios se condenaram.

Finalmente, o condicionamento do sistema judicial e dos media são tentações recorrentes e as mais graves, porque estes são o reduto da nossa liberdade, ameaças bem presentes nos dias de hoje.

Não aceito rédeas, sejam elas de que natureza forem. Por isso continuarei a denunciar, agora e sempre, as disrupções democráticas.

A verdadeira Democracia dói aos que a tentam condicionar, mas dói mais ainda àqueles que, em desigualdade de armas, a defendem com convicção, muitas vezes ignorada. Esse é o grande problema.

Disrupção democrática? Não!