Merkel passará a ser a "Sra. Não" de Macron?

O desejo de reforma do Presidente francês para a UE e a zona euro está em risco de chocar contra o bloco conservador alemão.

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"Precisamos de debates, e no fim temos de ter a capacidade de compromisso", disse Merkel CARSTEN KOALL/EPA

Emmanuel Macron foi a Berlim tentar defender os seus planos de reforma da União Europeia e, em particular, da zona euro, aos quais o partido conservador da chanceler Angela Merkel está a montar uma resistência férrea. Em França, a governação também não lhe corre de feição: deixou um movimento de contestação social em crescendo contra as suas reformas económicas em vários sectores, com pelo menos 133 manifestações em todo o território, desde ferroviários a trabalhadores do sector da energia, de a funcionários públicos e estudantes universitários.

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Emmanuel Macron foi a Berlim tentar defender os seus planos de reforma da União Europeia e, em particular, da zona euro, aos quais o partido conservador da chanceler Angela Merkel está a montar uma resistência férrea. Em França, a governação também não lhe corre de feição: deixou um movimento de contestação social em crescendo contra as suas reformas económicas em vários sectores, com pelo menos 133 manifestações em todo o território, desde ferroviários a trabalhadores do sector da energia, de a funcionários públicos e estudantes universitários.

“Merkel está prestes a tornar-se a Sra. Não para Macron?”, interrogava-se a revista Der Spiegel na segunda-feira, semeando uma dúvida já cruel para o Presidente francês. “A Alemanha passou de estender o tapete vermelho a Macron para traçar-lhe linhas vermelhas”, comentou o economista Henrik Enderlein, director do Instituto Jacques Delors em Berlim, citado pelo Le Monde. O fim da lua-de-mel entre o Presidente francês e a chanceler alemã não será o fim da sua vontade de fazer avançar a Europa – mas tudo será mais lento do que se esperava.

O que fez mudar o tom foi a resistência dos deputados da CDU/CSU, que temem que a ideia do Presidente francês de criar um Fundo Monetário Europeu, para amortecer o impacto de eventuais crises económicas, acabe por custar caro aos contribuintes alemães. Insistem no princípio de “responsabilidade”, através do qual cada Estado-membro do euro terá de responder pelos seus próprios riscos económicos, explica a Reuters. Já os sociais-democratas do SPD, parceiros de coligação de Merkel, são favoráveis às propostas francesas.

“Precisamos de debates abertos, e no fim temos de ter capacidade de compromisso”, frisou a chanceler Merkel junto a Macron, citada pela Reuters. Os dois líderes pediram “um espírito de compromisso” para reformar a zona euro. E, apesar das resistências em Berlim, Merkel e Macron, líderes dos dois países que representam, em conjunto, cerca de 50% da economia da zona euro, garantiram que terão uma proposta comum de reformas da UE para apresentar na cimeira europeia de Junho. “Nenhuma união monetária pode subsistir se não houver elementos de convergência e é sobre isso que vamos trabalhar”, prometeu o Presidente francês.

Há aqui muito em jogo para Macron. O Presidente francês não pode falhar nesta estratégia de relançamento da parceria franco-alemã como o motor da União Europeia. O líder que há quase um ano entrou em palco na noite da vitória eleitoral ao som do hino da UE fez do lançamento de reformas no bloco europeu e na moeda única um importante cavalo de batalha para a sua afirmação na cena internacional. Colocaria em xeque o seu estatuto de reformista, tanto na Europa, como em França.

Mas havia cada vez menos perspectivas de que deste encontro de Merkel e Macron resultasse um grande avanço para a cimeira europeia de Junho.

Neste contexto difícil, os dois líderes afinam a estratégia para as suas visitas a Washington este Abril (Macron a 24, Merkel a 27). Os Estados Unidos têm até dia 1 de Maio para decidir se continuam a isentar a União Europeia da cobrança de tarifas sobre alumínio e aço – e uma das principais missões do duo franco-alemão será convencer o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a não fazer guerra económica ao bloco europeu.