Rio promete fazer oposição sobre fogos, saúde e, sim, Montepio

Santana Lopes considera que há “contradição” entre posição do PSD contra negócio Santa Casa-Montepio e entrada da Misericórdia do Porto — cujo provedor é porta-voz do partido— no capital do banco. Rio discorda.

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Quando Rui Rio, nesta terça-feira à noite, se preparava para apresentar o seu gabinete-sombra — o Conselho Estratégico Nacional (CEN) — aos conselheiros nacionais, há horas que circulavam já as críticas aos primeiros nomes que foram sendo conhecidos da nova estrutura. A falta de renovação foi a mais ouvida, no dia em que foram confirmados nomes como o de Ângelo Correia, 72 anos, ministro da Administração Interna do Governo liderado por Francisco Balsemão para coordenar a Defesa, ou de Luís Filipe Pereira, 73 anos, ministro da Saúde no executivo de Durão Barroso.

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Quando Rui Rio, nesta terça-feira à noite, se preparava para apresentar o seu gabinete-sombra — o Conselho Estratégico Nacional (CEN) — aos conselheiros nacionais, há horas que circulavam já as críticas aos primeiros nomes que foram sendo conhecidos da nova estrutura. A falta de renovação foi a mais ouvida, no dia em que foram confirmados nomes como o de Ângelo Correia, 72 anos, ministro da Administração Interna do Governo liderado por Francisco Balsemão para coordenar a Defesa, ou de Luís Filipe Pereira, 73 anos, ministro da Saúde no executivo de Durão Barroso.

Mas foi também o caso do investimento da Santa Casa da Misericórdia do Porto (SCMP) no Montepio, conforme avançou o PÚBLICO, que gerou mais descontentamento interno, já que o provedor desta instituição é António Tavares, convidado para porta-voz para a área da Solidariedade do governo-sombra.

Foi aliás um dos temas do discurso de Rio, no início da reunião do Conselho Nacional, no Porto, que decorreu à porta fechada. O líder do PSD disse que não altera a sua posição por causa de notícias e que há uma diferença entre a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e as outras. É que a de Lisboa é “pública” e as restantes são “privadas”, defendeu Rio, segundo relatos feitos ao PÚBLICO. Rio não se escusou a falar sobre o assunto e respondeu aos críticos, dizendo que qualquer “analfabeto” sabe a diferença entre dez mil euros (o investimento previsto da SCMP) e 200 milhões de euros (valor inicial que seria pago pela Santa Casa de Lisboa).

Rio quis dar um sinal de que não desarma perante os críticos e anunciou que a entrada da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML)no Montepio será uma das três áreas em que o partido fará oposição a curto prazo. Os outros cavalos-de-batalha serão os incêndios e a saúde, anunciou o líder do PSD perante os conselheiros nacionais. A oposição, segundo explicou Rio aos sociais-democratas, é apontar as fragilidades do Governo, mas com credibilidade e seriedade.

Foi o próprio Pedro Santana Lopes, adversário de Rio nas directas para a liderança do PSD, considerou que o investimento da SCMP contradiz o pensamento do líder do partido. “Há uma contradição, agora não considero que seja grave”, disse na SIC-Notícias, à hora do Conselho Nacional, o ex-provedor da SCML. Santana Lopes, que foi cabeça de lista ao Conselho Nacional em resultado de um acordo com Rui Rio, faltou à reunião deste órgão, mas comentou o estado actual do PSD no seu espaço semanal de comentário televisivo.

Santana Lopes disse não acreditar que o caso de António Tavares fosse agitar o partido, mas acabou por contrariar o argumento usado por Rui Rio e Fernando Negrão para se oporem à entrada da SCML no Montepio. Os dois dirigentes do PSD consideraram inadmissível tirar dinheiro “aos pobres” para dar aos bancos. Santana contrapôs: a Santa Casa “tem dinheiro das apostas” que é “de ricos e pobres”, sendo que a esmagadora maioria é investida na área social. De qualquer forma, o ex-provedor defendeu que o investimento no Montepio não põe em causa os capitais próprios da instituição.

Vários sociais-democratas ouvidos pelo PÚBLICO criticam esta posição dupla do partido sobre o envolvimento da Santa Casa no Montepio e lembram que esta é uma questão de princípio, já que o investimento da SCML no banco foi um dos cavalos-de-batalha de Rio. Foi, aliás, o único tema do primeiro debate quinzenal com António Costa, protagonizado por Fernando Negrão.

Mas o caso de António Tavares não foi o único a suscitar crítica interna. Os nomes já conhecidos para ministros-sombra estão a gerar surpresa por não representarem uma renovação no partido. Pedro Santana Lopes, a propósito de Álvaro Amaro, presidente dos Autarcas Sociais-Democratas e escolhido para coordenar a Reforma do Estado e Descentralização, acabou por admitir que é um autarca “muito conhecido”, mas que “o PSD tem outros menos conhecidos” como Ricardo Rio, presidente da Câmara Municipal de Braga, e Paulo Cunha, que preside ao município de Famalicão, que também poderiam ocupar o cargo.

Outro dos nomes indicados para cargos de porta-voz (Finanças Públicas) é o de Álvaro Almeida, que foi candidato do PSD no Porto nas últimas autárquicas. Álvaro Almeida tem só 54 anos, mas aí os críticos lembram que Rio está a promover uma figura que obteve a pior derrota do partido na cidade.

Os nomes de todos os coordenadores e porta-vozes do novo Conselho Estratégico Nacional — que está a ser visto como uma estrutura para contornar distritais e o grupo parlamentar — deverão ser anunciados publicamente por Rui Rio. O líder do PSD querer manter em segredo a composição do governo-sombra com 16 áreas temáticas, mas há outros nomes dados como certos, como os de João Marques Gomes, que deverá ser o porta-voz da Saúde (coordenada por Luís Filipe Pereira). Antigo membro da comissão política da JSD e do Movimento Portugal Não Pode Esperar, corrente interna do PSD, Marques Gomes é investigador em gestão da saúde na Universidade Nova School Business & Economics.