Descodificado genoma de mamífero venenoso que surgiu no tempo dos dinossauros

Cientistas portugueses envolvidos no trabalho sequenciaram alguns dos genes que se pensa estarem envolvidos no veneno do solenodonte-hispano-americano.

Foto
A equipa com um solenodonte-hispano-americano DR

Uma equipa internacional de investigadores – que integra dois portugueses – sequenciou o genoma do solenodonte-hispano-americano, um mamífero venenoso e último sobrevivente de um ramo de mamíferos que apareceu no tempo dos dinossauros.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Uma equipa internacional de investigadores – que integra dois portugueses – sequenciou o genoma do solenodonte-hispano-americano, um mamífero venenoso e último sobrevivente de um ramo de mamíferos que apareceu no tempo dos dinossauros.

O solenodonte-hispano-americano (Solenodon paradoxus), nativo da República Dominicana, é uma espécie rara, não só porque é um dos poucos mamíferos venenosos, mas também o único do ramo restante de mamíferos que se separou de outros insectívoros no momento da extinção dos dinossauros.

A sequenciação e a análise do genoma deste animal em risco de extinção foram realizadas por uma equipa liderada por Taras K. Oleksyk, da Universidade de Porto Rico em Mayagüez, em que participou o geneticista Agostinho Antunes, do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto, e o seu aluno de doutoramento Filipe Silva.

Os resultados, publicados esta sexta-feira na revista GigaScience, permitiram responder a várias questões evolutivas, particularmente se esta espécie realmente sobreviveu ao cataclismo que exterminou os dinossauros. A extinção dos dinossauros é geralmente atribuída à colisão de um meteorito no Iucatão, no golfo do México, há 65 milhões de anos.

Os investigadores portugueses descodificaram alguns dos genes que se pensa estarem envolvidos na produção do veneno destes enigmáticos mamíferos. Segundo o estudo, o veneno do Solenodon paradoxus flui de glândulas salivares modificadas através de sulcos nos seus incisivos afiados. A espécie tem ainda outras características primitivas e muito raras em mamíferos: garras muito grandes, um focinho flexível com a extremidade em forma de bola e glândulas mamárias posicionadas na parte traseira do animal.

Foto
DR

Após a sequenciação do genoma, os investigadores concluíram que houve uma divisão de subespécies do solenodonte-do-haiti há pelo menos 300 mil anos, o que significa que as subespécies do Norte e do Sul devem ser tratadas como duas unidades de conservação separadas e com estratégias de protecção distintas.

Os investigadores sublinham que, embora a “árvore da vida” da classe dos mamíferos tenha sido fortemente investigada, este é o ramo mais remoto a ser adicionado ao “clube do genoma” dos mamíferos. O Homo sapiens foi o primeiro mamífero a ter o seu genoma em 2001.

Altamente ameaçados, os solenodontes-hispano-americanos sobrevivem em apenas alguns locais remotos das ilhas de Cuba e Hispaniola (partilhada entre o Haiti e a República Dominicana), nas Caraíbas.

Os hábitos nocturnos destes animais tornam difícil o seu estudo no habitat natural e, de acordo com os investigadores, para além da dificuldade de encontrar exemplares para obter amostras de sangue, o genoma do solenodonte-hispano-americano provou ser “particularmente difícil de sequenciar”.