Polícia reabre caso de “morte acidental” da filha de Quezada, a autora confessa do homicídio de Gabriel

O funeral do menino de oito anos, asfixiado no dia em que desapareceu, aconteceu na manhã desta terça-feira. Na sequência da investigação, a polícia espanhola reabriu o caso da morte da primeira filha de Ana Julia Quezada, que caiu da varanda de um sétimo andar em 1996.

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Ana Julia Quezada, de 43 anos, era já a principal suspeita do homicídio de Gabriel Cruz, um menino de oito anos, filho único do seu namorado, Ángel David Cruz — mas só confessou o crime nesta terça-feira. Foi detida no domingo, depois de a polícia ter encontrado o corpo da criança sem vida na mala do carro que conduzia. Agora, a polícia espanhola recuperou um caso de 1996, ano em que uma das duas filhas de Quezada morreu ao cair da varanda de um sétimo andar. Segundo noticiou o El Mundo nesta segunda-feira, o Tribunal de Instrução de Burgos, em conjunto com a polícia, estavam a analisar se este caso com 22 anos, arquivado por se tratar de uma morte “acidental”, deveria ser reaberto. Já esta terça-feira, o El País noticia que a polícia reabriu o caso.  

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Ana Julia Quezada, de 43 anos, era já a principal suspeita do homicídio de Gabriel Cruz, um menino de oito anos, filho único do seu namorado, Ángel David Cruz — mas só confessou o crime nesta terça-feira. Foi detida no domingo, depois de a polícia ter encontrado o corpo da criança sem vida na mala do carro que conduzia. Agora, a polícia espanhola recuperou um caso de 1996, ano em que uma das duas filhas de Quezada morreu ao cair da varanda de um sétimo andar. Segundo noticiou o El Mundo nesta segunda-feira, o Tribunal de Instrução de Burgos, em conjunto com a polícia, estavam a analisar se este caso com 22 anos, arquivado por se tratar de uma morte “acidental”, deveria ser reaberto. Já esta terça-feira, o El País noticia que a polícia reabriu o caso.  

Ana Julia Quezada chegou no início da década de 1990 a Burgos, Espanha, vinda da República Dominicana. A 10 de Março de 1996, a primeira filha de Quezada, chamada Ridelca – fruto de uma relação da sua mãe com um dominicano, ainda antes de chegar a Espanha – morreu depois de cair de uma janela do sétimo andar do prédio onde morava em Burgos.

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Ana Julia Quezada a participar nas buscas de Gabriel Cruz CARLOS BARBA/LUSA

Na altura, Quezada morava com o camionista Miguel Ángel Redondo, que conheceu em 1994, e com quem tem uma filha em comum, Judith – que tem agora 24 anos e deu entrada no hospital com uma crise de ansiedade depois de saber da detenção da mãe no caso da morte de Gabriel, adianta o El Mundo. Judith, à data com dois anos, também estava em casa quando a meia-irmã caiu.

Foi Miguel Ángel que, quando se levantou pela manhã, deu pela falta de Ridelca, a menina de quatro anos que considerava sua filha adoptiva (ainda que não o fosse legalmente) e reparou que a janela de um dos quartos das crianças estava aberta e a cama vazia. Ao espreitar, apercebeu-se que a criança tinha caído e chamou os serviços de emergência, correndo para o pátio para a tentar socorrer, sem sucesso. A Polícia Nacional, que chegou posteriormente ao local, não recolheu depoimentos de Ana Julia Quezada, devido ao seu agravado estado nervoso, diz o El Mundo. Não se sabe se foi interrogada posteriormente, mas o caso foi arquivado como sendo uma “morte acidental”.

O casal acabou por se divorciar e, vários anos e alguns relacionamentos depois, Quezada conheceu Ángel David Cruz, pai de Gabriel, em Almería.

Quem é Ana Julia Quezada?

Todos os indícios apontavam para que fosse Ana Julia Quezada – a única detida até ao momento – a culpada do homicídio de Gabriel Cruz, filho do seu companheiro. Segundo fontes ligadas à investigação, citadas pela imprensa espanhola, a madrasta do menino de oito anos confessou o crime nesta terça-feira e estava a "colaborar" com as autoridades.

Quando chegou a Espanha, Quezada começou a trabalhar num bar de alterne. “Ela não tinha nada de nada”, contam fontes próximas de Miguel Ángel ao El Español, dizendo que foi ele quem a ajudou nos seus primeiros anos em Espanha. “Sempre foi uma mulher invulgar, fria, pouco carinhosa, mesmo com as suas filhas. Mas daí a matar uma pobre criança… não sei que tipo de pessoa conhecíamos afinal”, acrescentou uma das fontes ouvidas, em lágrimas.

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Os pais de Gabriel Carlos Barba/Lusa

A imprensa dominicana refere que a família de Quezada está surpreendida com a suspeita de crime. "Não acredito que ela, que vem de baixo, com sacrifício e esforço, tenha pensado em tirar a vida a um inocente", afirmou o irmão, Juan José Quezada.

Desde que foi detida que os populares se têm mostrado revoltados com a morte de Gabriel, reagindo com ameaças e tentativas de agressões a Ana Julia Quezada. O filho de um dos homens com quem Ana Julia se envolveu (um empresário 20 anos mais velho do que ela) conta ao El Mundo que a mulher era "desagradável" e que tinha uma "dupla face", acusando-a de convencer o empresário a dar-lhe dinheiro quando este estava doente.

O que aconteceu a Gabriel?

Gabriel Cruz estava desaparecido desde 27 de Fevereiro, altura em que foi visto pela última vez a sair da casa da sua avó paterna para ir ter à casa dos seus primos, para brincar, na aldeia de Las Hortichuelas, província de Almería. Quase duas semanas depois, no domingo, o corpo do menino de oito anos foi encontrado na mala do carro da madrasta, Ana Julia Quezada. A suspeita foi detida e negou o envolvimento na morte da criança, mas as autoridades acreditam que Quezada, com medo que viessem a encontrar o corpo, estaria a transportá-lo para outro local.

Foi Quezada quem descobriu a única pista da investigação, uma camisola interior branca, que disse ter encontrado num dos seus passeios num monte em Vícar, a quatro quilómetros do local do desaparecimento. A zona onde foi encontrada a camisola já tinha sido revistada a pente fino quando foi dado o alerta de desaparecimento, e voltou a sê-lo depois de encontrada a pista. Não se encontraram mais provas, mas a madrasta de Gabriel – que tinha também um comportamento estranho durante as buscas, com “reacções exageradas”, explica o El País – passou a ser vigiada pela polícia espanhola.

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Ana Julia Quezada e o pai de Gabriel, ainda desaparecido no momento em que foi tirada a foto Chema Artero/LUSA

O resultado inicial da autópsia ao corpo de Gabriel, divulgado na segunda-feira, revelava que o menino morreu de asfixia por estrangulamento no mesmo dia em que desapareceu. Agora, os peritos acreditam que a criança morreu sufocada, referindo ainda que o menino tinha um golpe na cabeça, anterior à sua morte.

O funeral de Gabriel aconteceu na manhã desta terça-feira na catedral de Almería. Os pais da criança estavam no funeral quando Ana Julia Quezada confessou o homicídio. A vice-presidente espanhola, Soraya Sáenz de Santamaría, e o ministro do Interior, Juan Ignacio Zoído, anunciaram a sua presença na cerimónia fúnebre, em representação do Governo.

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A multidão no funeral de Gabriel, em Almería RICARDO GARCIA/LUSA