A Nobel Colômbia

O leitor João Pontífice Gaspar partilha a sua experiência por várias cidades colombianas.

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Mariana Paiva Gaspar

A Colômbia sofreu durante várias décadas com o estigma da Guerra Civil e do crime violento, retratados na série Narcos e nos livros publicados por Juan Pablo Escobar, filho de Pablo. Mas nos últimos tempos o país caminhou para a normalização, assinalada em Outubro de 2016, quando o Prémio Nobel da Paz foi atribuído ao seu presidente, Juan Manuel Santos.

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A Colômbia sofreu durante várias décadas com o estigma da Guerra Civil e do crime violento, retratados na série Narcos e nos livros publicados por Juan Pablo Escobar, filho de Pablo. Mas nos últimos tempos o país caminhou para a normalização, assinalada em Outubro de 2016, quando o Prémio Nobel da Paz foi atribuído ao seu presidente, Juan Manuel Santos.

Foi, portanto, em busca de uma nova era e também das suas gentes, da sua gastronomia variada e da diversidade do seu território que escolhemos percorrer o país durante três semanas (Maio de 2016). E que pena terem só sido três semanas! 

Começámos por Bogotá, a capital, com quase oito dos 49 milhões de habitantes do país. Nesta metrópole tipicamente sul-americana, o que mais nos impressionou foi o trânsito caótico em hora de ponta.

A Colômbia é um mosaico formado por um mundo rural forte, que contrasta com suas grandes urbes, por uma natureza virgem e pelo mar das Caraíbas. Sobrevoámos uma das pequenas ilhas banhadas por esse mar, San Andrés (mais turística) e ficámos numa outra, Providência, onde a população também gosta de turistas, mas não das massas. Chegámos numa avioneta de 19 lugares, por cima de um mar que é mesmo azul e verde, como nos bilhetes postais.

Nesta ilha, com muita vegetação e pouca construção, nada ou quase nada se passa. Sector turístico amador, motociclistas que não usam capacete e uma Internet problemática. Foi lá que conhecemos Betito.

Com 67 anos, tez negra, como a maioria dos habitantes desta região, barba e rastas longas, foi ele que nos conduziu num passeio pela ilha. Disse-nos que na vida só conheceu Providência. Deseja que a ilha conserve o seu lado selvagem e resumiu, na perfeição, o estado de espírito das suas gentes: “no hay afan” – não há pressa.

A ilha é um espelho da variedade e da riqueza gastronómica da Colômbia. Come-se muito bem por todo o país, marisco e peixe e uma excelente carne. Os mais gulosos não ficarão desiludidos com os doces.

Seguimos para a cidade de Medellín. A população, por comparação com a capital, é mais conservadora e orgulhosa da sua terra. Está também mais preocupada com a preservação do património.

Medellín conjuga muitos pulmões verdes e consciência ambiental com projectos inovadores, como o funicular que liga o centro ao topo da cidade, subindo todo o morro. Existe um sentimento de grande segurança, com polícia nas estações de metro. Na zona de diversão nocturna assistimos a um jogo de futebol do maior clube de Medellín, o Atlético Nacional. Imperdível, pela vibração contagiosa dos adeptos.

Nesta cidade, confirmámos a forma simpática e acolhedora como os colombianos recebem quem vem de fora, parecendo, muitas vezes, surpreendidos e agradecidos por alguém (de Portugal? da Europa?) querer vir conhecer o seu país.

Ao falar de Medellín é inevitável referir Pablo Escobar. Para a esmagadora maioria dos habitantes da região, continua a ser persona non grata. Excepto para os moradores do bairro La Milagrosa, que era a base de recrutamento de Pablo e onde mandou construir cerca de 800 casas para os mais pobres. Fizemos um tour semiclandestino (porque os oficiais não são permitidos) ao cemitério onde está sepultado Pablo Escobar e ao Edifício Mónaco, onde o cartel rival de Cali rebentou um carro-bomba que tirou a audição à filha de Pablo, em 1988.

Mas, mais do que impressionados pelas dolorosas recordações do passado, ficámos com a firme convicção de que em Medellín (e na restante Colômbia), se vive uma nova (e Nobel) era. O melhor símbolo dela é o que os moradores do referido bairro La Milagrosa escreveram no muro de entrada: “Aqui se respira Paz!”.

Neste país, outras “fugas” que recomendamos são: Catedral do Sal (esculpida no interior de uma mina de sal, na localidade de Zipaquirá); Villa de Leyva (vila colonial que recorda Parati, no Brasil); Valle de Cocora (pela sua natureza virgem); Parque Natural de Tayrona, zona costeira de Santa Marta, onde se conjuga uma invulgar mistura de selva e de praia).

A viagem pela Colômbia já era inesquecível, mas o melhor tinha ficado para o fim. Fomos visitar a mítica cidade de Cartagena das Índias. A primeira impressão foi logo brutal. O centro histórico, onde ficámos alojados, está separado da zona nova da cidade por uma grande muralha. Só andámos a pé, que é a melhor e única maneira de conhecer cada ruela e cada praça. Dentro das muralhas, não há lugar para aberrações paisagísticas. Tudo tem e é feito com gosto, tudo tem encanto, tudo está bem arquitectado.

Cartagena das Índias é sem dúvida uma das mais mágicas cidades coloniais à face da Terra. Durante séculos, cruzaram-se aqui escravos, índios, soldados, corsários, piratas das Caraíbas. Cartagena é também a cidade da Literatura e do Cinema. Diz-se que, por estes lados, Gabriel García Márquez gostava de beber champanhe, ao som de rumba e tambores.

A única nota negativa são as ensurdecedoras buzinadelas dos taxistas para atrair clientes.

Quanto ao mais, este país e este povo só merecem elogios. É descobrir, desfrutar, descansar – e seguir o sábio conselho afixado numa tabuleta à entrada de um dos restaurantes de Cartagena das Índias: “No tenemos wi-fi, hablen entre ustedes”.

João Pontífice Gaspar