Centros têm mais doentes em tratamento mas menos readmissões

Heroína continua a ser a droga mais referida entre os utentes em tratamento. Mas cannabis foi a substância mais consumida pela maioria dos que iniciaram tratamentos em 2016.

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LUSA/RUNGROJ YONGRIT

É o contrariar de uma tendência registada desde 2009. Segundo o relatório A Situação do País em Matéria de Drogas e Toxicodependências, apresentado nesta quarta-feira no Parlamento, em 2016 houve um acréscimo de utentes em tratamento no ambulatório por problemas relacionados com o uso de drogas: 27.834, mais 841 do que no ano anterior. Já quanto aos tratamentos iniciados em 2016 sai reforçada a tendência de descida de readmissões.

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É o contrariar de uma tendência registada desde 2009. Segundo o relatório A Situação do País em Matéria de Drogas e Toxicodependências, apresentado nesta quarta-feira no Parlamento, em 2016 houve um acréscimo de utentes em tratamento no ambulatório por problemas relacionados com o uso de drogas: 27.834, mais 841 do que no ano anterior. Já quanto aos tratamentos iniciados em 2016 sai reforçada a tendência de descida de readmissões.

De acordo com o documento elaborado pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), das 3294 pessoas que iniciaram tratamento em 2016, 1204 foram readmissões. “Pelo quarto ano consecutivo constata-se uma diminuição, sendo os valores dos últimos quatro anos os mais baixos desde 2010”, aponta o relatório, referindo que “de um modo geral, os internamentos em unidades de desabituação e comunidades terapêuticas por problemas relacionados com o uso de drogas têm vindo a diminuir desde 2009”.

Já o número de novos tratamentos – 2090 em 2016 – registou uma tendência inversa, embora o aumento não seja significativo em comparação com anos anteriores. “Apesar de o número de novos utentes em 2016 ter sido o mais elevado desde 2010, não apresenta variações relevantes no último quadriénio (+5% entre 2013 e 2016 e +3% entre 2015 e 2016), por comparação aos acréscimos verificados entre 2010 e 2012.”

A heroína continua a ser a droga principal mais referida pelos utentes em tratamento, à excepção dos novos casos. À semelhança do que já referia o relatório divulgado no ano passado, mais de metade (54%) dos novos utentes em ambulatório referiu a cannabis como sendo o consumo principal para ali estar (mais 3 pontos percentuais face a 2015). “O que poderá reflectir a maior articulação dos serviços interventores com vista a adequar as respostas às necessidades específicas de acompanhamento desta população”, diz o SICAD, salientando que nos últimos quatro anos “verificou-se uma tendência de aumento nas proporções de utentes com a cannabis e a cocaína como drogas principais”.

João Goulão, director-geral do SICAD, salienta que este aumento dos consumidores de cannabis entre os novos utentes admitidos para tratamento acontece de forma simultânea com a perda de importância da heroína. “À medida que esse consumo se vai desvanecendo, vai aumentando a importância da cannabis”, sublinhou aos jornalistas à entrada da comissão de saúde, onde nesta quarta-feira apresenta as conclusões deste relatório.

Esta caída da predominância da heroína em detrimento de consumos “mais leves”, permitiu que o tratamento em ambulatório ganhasse importância e diminuíssem os internamentos, adianta ainda o responsável.

Os opiáceos, onde se inclui a heroína, foram a principal causa das 27 overdoses registadas em 2016, com base em informação do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses. Seguiu-se a metadona e a cocaína. Na maioria das overdoses foi detectada mais do que uma substância. O relatório destaca uma redução de 33% do número de overdoses em relação ao ano anterior. Ao contrário, no álcool o número de intoxicações alcoólicas em 2016 subiu em relação a 2015.

Mais consumo de cannabis

Entre 2012 e 2016/17, aponta ainda o SICAD, verificou-se um agravamento do consumo de cannabis: “Maior número de pessoas a consumir e mais com padrões de consumo diário."

“Embora mais ligeiro, há também um agravamento da dependência do consumo de cannabis na população”, salienta o documento que destaca “os agravamentos [de consumo] no grupo feminino e nos 25-34 anos e 35-44 anos”.

“Os estudos mais recentes evidenciaram que a cannabis continuava a ser a droga ilícita percepcionada como de maior acessibilidade, reflectindo as prevalências de consumo na população portuguesa”, diz o relatório, onde se pode ler que aumentaram as quantidades de haxixe e cannabis herbácea apreendidas pela polícia entre 2015 e 2016. O mesmo em relação ao ecstasy. Pelo contrário, houve uma diminuição das quantidades apreendidas de cocaína e de heroína.

Quanto aos preços do mercado negro, os valores médios da cocaína e da heroína desceram em relação a 2015, tal como aconteceu com o haxixe. Já o preço da cannabis herbácea aumentou. É igualmente preocupante o facto de as análises feitas pelos laboratórios das autoridades policiais revelarem uma “tendência de aumento da potência/pureza médias da maioria das drogas apreendidas em Portugal”.

Com Margarida David Cardoso