Uma viagem ao subsolo de Lisboa

Subsolo é uma websérie de cinco episódios, cada um centrado numa personagem e cada um com um realizador diferente. Fica disponível na íntegra esta quarta-feira, às 21h, na RTP Play e no YouTube.

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SUBSOLO chega esta quarta-feira à RTP Play e ao YouTube DR

No final de Novembro passado chegou às salas portuguesas Verão Danado, um filme de Pedro Cabeleira que teve estreia no Festival do Locarno, onde recebeu uma menção especial. Da mesma produtora de Cabeleira, a Videolotion, que o cineasta partilha com quatro outros realizadores, chega agora à RTP Play, a plataforma de streaming da RTP, e ao YouTube a série SUBSOLO.

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No final de Novembro passado chegou às salas portuguesas Verão Danado, um filme de Pedro Cabeleira que teve estreia no Festival do Locarno, onde recebeu uma menção especial. Da mesma produtora de Cabeleira, a Videolotion, que o cineasta partilha com quatro outros realizadores, chega agora à RTP Play, a plataforma de streaming da RTP, e ao YouTube a série SUBSOLO.

Ao longo de cinco episódios de pouco mais de dez minutos cada, seguem-se cinco jovens, entre os 16 e os 26 anos, a viver na mesma Lisboa retratada nesse filme, sempre sob o olhar de um realizador distinto. Às vezes cruzam-se umas com as outras, ali pela zona da Almirante Reis. A série, toda passada no mesmo dia, fica disponível na íntegra esta quarta-feira, a partir das 21h. É a segunda estreia este ano, depois de Casa do Cais, a reflectir a aposta da RTP em webséries.

Os realizadores são Tiago Simões, Joana Peralta, Victor Ferreira e Marta Ribeiro, todos da Videolotion, e Maria Inês Gonçalves, que é convidada. Têm idades compreendidas entre 23 e 30 anos. A ideia original, explica Joana Peralta ao PÚBLICO, era ter também Pedro Cabeleira a realizar episódios, mas quando Verão Danado começou a ganhar tracção, o realizador deixou de ter tempo para trabalhar. Os realizadores foram então buscar Maria Inês Gonçalves, cuja curta-metragem O Meu Pijama os impressionou no IndieLisboa. Tal como eles, Maria Inês Gonçalves também estudou na Escola Superior de Teatro e Cinema.

A génese da série remonta à Argentina, onde Joana Peralta e Victor Ferreira estudaram cinema. “Queríamos fazer um retrato de jovens, que nunca tinha sido feito.” É o mesmo campo mostrado em Verão Danado, se bem que com mais meios. Apesar de um “orçamento mesmo baixinho”, a realizadora confidencia que foi o seu "primeiro trabalho" de produção, além da publicidade, feito "com dinheiro mais ou menos à vontade”. “O Verão... foi feito com mil euros e filmámos durante 40 dias”, conta, adicionando: “Aqui tentámos ser mais exigentes tecnicamente, em termos de qualidade de imagem e som”. Algo que se nota. A rodagem, desta feita, durou 15 dias, entre o final de Outubro e o início de Novembro do ano passado.

“Acaba por ser o mesmo tema, esta geração e uma necessidade que temos como realizadores. Tínhamos esta vontade de fazer filmes, e esta série é sobre a nossa geração, que nunca é retratada. E quando é, é por um realizador de 40 ou 50 anos que não sabe do que está a falar”.

SUBSOLO foi apresentada à RTP em 2016 e confirmada e rodada em 2017. “Marcávamos reuniões semanais, toda a gente trazia uma sinopse e ideias para personagens. Tiago Simões, dos cinco aquele que tem mais gosto em escrever e que escreve melhor, começou a escrever argumentos e a mostrar-nos”, revela. Acabou por ser creditado a meias com cada realizador como autor do guião de cada episódio, todos eles partindo de histórias que aconteceram à equipa e a amigos. Tinham imaginado, ao início, dez personagens e dez episódios. “Por questões orçamentais e de tempo foi melhor fazer só cinco personagens, por isso fundimos algumas ideias e personagens."

Ao início, com a ideia de realizadores diferentes perseguiam um resultado final distinto. “Percebemos, com os episódios montados, que não somos tão diferentes como achávamos”. Há episódios mais lentos e “estéticas um bocadinho mais fora”, mas isso não chegou para demarcar diferenças. Como referências, Peralta enuncia Paul Thomas Anderson e Jim Jarmusch. “São dois realizadores que seguimos e de que gostamos muito”.

“Queríamos que, além de ser o retrato de uma geração, fosse também um retrato de uma cidade. Quisemos mostrar uma Lisboa não tão turística. Esta geração vai até aos 40 anos. Já ninguém vai sair à noite ao Bairro Alto nem ao Cais do Sodré. Vai ao Anjos 70, ao Crew Hassan, ao Desterro ou ao Damas. Quisemos essa Lisboa mais antiga, mais feia, até, um subsolo que não são os shots do Cais do Sodré ou do Bairro Alto. Não podes falar sobre Lisboa sem falar dos imigrantes, da quantidade de comunidades que existem por todo o lado”, expande.

É por isso que uma das personagens, a do quarto episódio, realizado por Victor Ferreira, é Nazim, indiano que trabalha numa mercearia. Foi inspirado numa noite da vida real. “Eu, o Vítor e o Pedro saímos, fomos ao EKA Palace e estava lá um rapaz, com uma mochila, a um canto a olhar para as pessoas a dançar e a sorrir. Quando saímos, quase de manhã, esse rapaz estava na paragem, e perguntou-nos se sabíamos se havia autocarro a essa hora. Dissemos que não, mas que íamos apanhar um táxi e ele veio connosco e ficámos a conversar bastante tempo. Ele disse que só conhecia indianos ou pessoas do Bangladesh, que os amigos não queriam sair e conhecer pessoas fora da comunidade delas”, conta.

Encontrar o actor não foi fácil: “As comunidades são fechadas. Abrimos um casting, distribuímos 200 panfletos pela Mouraria, Martim Moniz e Arroios e não veio ninguém. Fomos a mercearias e restaurantes e escolhemos um miúdo que era perfeito. Estava tudo combinado e ele não apareceu. Fomos à mercearia onde trabalha e ele nem sequer falou, o tio dele é que disse que ele não estava interessado. Ele só baixou a cara, a cabeça, e nunca mais falámos sobre isso.” Acabaram por descobrir Jadeja Pradeepsinh, que “nunca tinha feito nada e queria ser actor”. “Tivemos sessões em que ele falava da experiência dele cá e o Tiago e o Victor acabaram por reescrever o argumento a partir disso”, continua.

Não é uma série cheia de acção. “Foi uma coisa pela qual tivemos de lutar muito. A RTP, porque se trata das primeiras webséries, ainda está a explorar o que é correcto ou não fazer, mas deu-nos bastante liberdade, apesar de nos chamar a atenção para o facto de não acontecer muito no episódio. Somos do cinema e não temos mesmo noções de televisão e isso fez com que a série tivesse menos acção, até porque o que nos interessava era explorar pessoas reais. Passa-se tudo no mesmo dia e podia ser o dia mais extraordinário daquelas personagens. Mas não é.”