Tratar a demência é o trabalho de Amália, um “robot” terapêutico

Campanha de “crowdfunding” da Casa de Saúde da Idanha quer reunir o valor necessário para receber a Amália um “robot” terapêutico. Podes ajudar os utentes da instituição até 26 de Janeiro

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À primeira vista parece mais uma foca em pelúcia. Os redondos olhos negros parecem ter brilho próprio e cruzam-se com os nossos. De repente, abrem e fecham: afinal este peluche também se mexe? Os bigodes também são sensíveis ao toque, tal como toda a pele que o reveste, e a cabeça abana à medida que vamos falando com ele. Será um peluche da próxima geração? Não, é o Paro, o robot terapêutico criado por Takanori Shibata em 1998. Reage à luz e ao som e é utilizado para ajudar a melhorar o desempenho social, emocional e cognitivo das pessoas com demência.

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À primeira vista parece mais uma foca em pelúcia. Os redondos olhos negros parecem ter brilho próprio e cruzam-se com os nossos. De repente, abrem e fecham: afinal este peluche também se mexe? Os bigodes também são sensíveis ao toque, tal como toda a pele que o reveste, e a cabeça abana à medida que vamos falando com ele. Será um peluche da próxima geração? Não, é o Paro, o robot terapêutico criado por Takanori Shibata em 1998. Reage à luz e ao som e é utilizado para ajudar a melhorar o desempenho social, emocional e cognitivo das pessoas com demência.

Em breve, o Paro chegará à Casa de Saúde da Idanha, em Sintra, mas será “rebaptizado”: os pacientes da instituição decidiram dar-lhe o nome “Amália”. Para tal, a Casa de Saúde da Idanha organizou uma campanha de crowdfunding que, até 26 de Janeiro, pretende angariar a quantia necessária para se adquirir o robot e “pagar formações em roboterapia, uma vez que a Amália não substitui a parte terapêutica”, explica a psicomotricista Ana Antunes, da instituição.

Os próximos amigos de Amália são, especialmente, as pessoas que sofrem de demência. Estima-se que, por cá, sejam cerca de 160 mil os portugueses com mais de 60 anos com este sintoma, presente num número alargado de doenças, como o Alzheimer. Uma das consequências da demência é a perda gradual da capacidade de falar, pelo que “importa estimular a linguagem não-verbal do paciente”, através dos estímulos emitidos pelos múltiplos sensores presentes em todo o “corpo” da pequena foca robotizada. “O objectivo é conseguir alguma forma de comunicação do paciente”, complementa a psicomotricista, explicando que “a Amália trabalha questões cognitivas, as memórias, para além de estimular o tacto, a audição e a visão”. E como este é um robô em forma de animal, a companhia também está assegurada, “reduzindo-se o isolamento do paciente”.

É como se falássemos para um animal de estimação — se a tratarmos bem, a foca Amália reagirá abanando a barbatana e a cauda; caso contrário, entristecerá. Está é a nona versão do robot criado por Takanori Shibata, “dotado de inteligência artificial”, pelo que também pode aprender o seu próprio nome e repetir respostas aos comportamentos do paciente. Por essa razão, chamar-lhe Amália não será problema algum. Ter um robot destes num hospital também não aparenta ser problema, uma vez que “a pele artificial tem um acabamento anti-bacteriano”.

É uma Amália para todos, com certeza

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O robot Amália servirá de auxiliar terapêutico para a demência DR

Integrar o robot terapêutico no tratamento da demência não é um processo simples: há uma série de factores a ter em conta e os “níveis variam de paciente para paciente”, refere Ana Antunes. Por isso, a Amália pode ser utilizada por psicomotricistas, enfermeiros, psicólogos ou terapeutas ocupacionais, que a adaptam ao que se procura com a roboterapia. “O processo inicia-se com a avaliação, passando-se para o plano de intervenção, no qual se encontrarão os objectivos; depois, procura-se integrar o robot na rotina do doente”, explica a psicomotricista da Casa de Saúde da Idanha.

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O Paro foi criado por Takanori Shibata em 1998 DR

No entanto, a utilização do Paro (ou da Amália, em Portugal) não é somente destinada ao tratamento de pessoas com demência: o robot ajuda no combate ao stress e à ansiedade, além de reduzir os sintomas associados à depressão. O robot terapêutico pode ser utilizado também em crianças. No que à demência diz respeito, ajuda ainda a reduzir a medicação dos pacientes — algo “muito importante” no tratamento desta doença. A US Food and Drug Administration (agência federal norte-americana que regula os medicamentos) certificou-o, em 2009, como instrumento médico não terapêutico, sendo classificado como “um tipo de anti-depressivo não médico”.

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Equipa da unidade de Gerentopsiquiatria da Casa de Saúde da Idanha DR

A Casa de Saúde da Idanha é a primeira instituição portuguesa a ter nas suas instalações este robot, que Andreia Fonseca, assistente social, diz “ter reunido de imediato o apoio da casa”. Andreia recorda que a equipa daquela instituição médica conheceu o Paro numa Cimeira Mundial de Demência, e que logo se despertou o interesse em adquirir o robot. Daí à divulgação da campanha no PPL não demorou muito e a meta já foi atingida: ao todo, foram reunidos 4869 euros. Contudo, e caso os donativos continuem a chegar, “50% do excedente da campanha reverte para a Associação Alzheimer Portugal”. Quem não conseguir doar através da plataforma de crowdfunding “pode ligar para o 961 883 511, um número que permite obter uma referência para se realizar a transferência em multibanco”, explica a assistente social.

Para já, os pacientes aguardam pela Amália. Há avanços no tratamento da doença prometidos pelo robot e os pacientes aguardam o dia em que poderão sentar a foca Amália no seu colo. Somadas todas as características da foca robótica, é seguro dizer: só lhe falta cantar o fado.