Mais de 1200 cirurgias realizadas até Setembro para o tratamento da obesidade

Objectivo do Ministério da Saúde é chegar às 2 mil operações até ao final do ano, mas será preciso acelerar o ritmo para o conseguir. Presidente da Associação dos doentes obesos diz que programa criado pelo Governo não está a ser suficiente para recuperar listas de espera.

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Há hospitais em que se espera mais de mil dias por uma cirurgia Miguel Manso

Até Setembro o SNS realizou 1242 cirurgias para o tratamento da obesidade, mais 6,7% em relação ao ano passado e mais 21,4% do que em 2015 (comparando períodos homólogos). O Ministério da Saúde tem a decorrer um programa, no valor de 12 milhões de euros, de combate às listas de espera. Em 2016 foram operados 1568 doentes, em hospitais públicos e convencionados, segundo dados da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS).

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Até Setembro o SNS realizou 1242 cirurgias para o tratamento da obesidade, mais 6,7% em relação ao ano passado e mais 21,4% do que em 2015 (comparando períodos homólogos). O Ministério da Saúde tem a decorrer um programa, no valor de 12 milhões de euros, de combate às listas de espera. Em 2016 foram operados 1568 doentes, em hospitais públicos e convencionados, segundo dados da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS).

O objectivo do Governo é chegar ao final de 2017 com 2 mil doentes operados, mas será preciso aumentar o ritmo registado nos primeiros nove meses do ano para o conseguir: passar de uma média de 138 operações mensais para 253. “Vamos aproximarmo-nos da meta, mas o grande objectivo de aumentar a resposta será certamente conseguido”, afirma Ricardo Mestre, vogal da ACSS. Para 2018 o objectivo é fazer crescer a actividade em mais 10%.  

A mediana de tempo de espera está nos seis meses, sem grande alteração em relação ao passado. Ricardo Mestre explica que há mais pessoas inscritas para cirurgia e acredita que “com o tempo haverá impactos na lista e nos tempos de resposta”. São os centros hospitalares de S. João, Lisboa Central, Entre Douro e Vouga, Universitário de Coimbra e Hospital da Prelada os que mais fazem cirurgias bariátricas.

Carlos Oliveira, presidente da Adexo - Associação dos Doentes Obesos afirma que os números pouco ou nada têm melhorado e que “os 12 milhões não serviram para nada”. “Com este valor deveria ser obrigatório ter um aumento de 50% de cirurgias. Os doentes queixam-se de listas fechadas, de primeiras consultas adiadas meses, com tempos de espera que não lembram ao diabo. Na prática o programa não está a funcionar. Os hospitais não aderem ao programa e é preciso perceber o porquê. No início do ano vamos pedir uma reunião com o Ministério da Saúde”, afirma.

Segundo dados disponíveis no Portal da Saúde, há hospitais onde se espera mais de mil dias por uma cirurgia em prioridade normal (o tempo máximo de resposta é de 270 dias por lei) e mais de 700 dias por uma consulta quando não deveriam esperar mais de 150 dias.

"Procura é maior que a capacidade de resposta"

O presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia da Obesidade, Jorge Santos, admite que poderá ser difícil atingir a meta das 2 mil cirurgias tendo em conta os valores de Setembro. Ainda assim, o médico é da opinião que há capacidade para dar resposta aos doentes, embora “a procura seja maior que a capacidade de resposta” dos hospitais, que têm de tratar muitas outras doenças. A contratualização de cirurgia adicional, afirma Jorge Santos, “é a melhor forma e a mais rápida” para atender um maior número de doentes. Mas importante, aponta, será “perceber o que os hospitais vão contratualizar para 2018” para se ter uma perspectiva clara do que é possível fazer.

Mas as cirurgias, salienta a presidente da Sociedade Portuguesa do Estudo da Obesidade, Paula Freitas, “são apenas a ponta do icebergue”. “O estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, feito em 2015/2016, mostra que 60% da população é obesa ou pré-obesa. É preciso investir em campanhas de informação para tratar a evolução da doença e chegar aí. A cirurgia é o nosso último recurso, quando tudo antes já falhou”, diz, lembrando que existem dois medicamentos aprovados mas sem comparticipação para o tratamento da obesidade. Os preços variam entre os 50 e os 250 euros, dependendo do medicamento e da dose.

 

Notícia corrigida dia 21 às 12h20: Existe uma formulação de um dos medicamentos que é comparticipada a 90%, mas ao contrário do que referido esta comparticipação é para doentes com diabetes e não para o tratamento da obesidade.