Essencial e frontal, nas rosas e nos espinhos

Belmiro de Azevedo foi capaz, honrando a sua palavra, de manter um jornal independente quando tantos fazem precisamente o contrário.

Este jornal que agora lê, seja por que meio ou plataforma, não teria existido se não fosse a soma, voluntária e voluntariosa, de dois factores: um grupo de jornalistas desejoso de fazer um diário aberto às grandes mudanças que abalavam o mundo em finais dos anos 1980; e a disposição de um grupo empresarial para garantir viabilidade a tal projecto. O grupo empresarial foi a Sonae, mas, influenciando-a decisivamente, esteve a vontade do seu presidente, Belmiro de Azevedo. E essa vontade não nasceu de um simples capricho, mas da ideia, clara para todos nós, de que este era um caminho que obrigatoriamente teríamos de fazer, porque algo de muito forte a isso nos impelia, sendo essa união selada numa espécie de “magna carta” difundida publicamente (caso raro na imprensa portuguesa), em que se estabeleciam não só os princípios e objectivos do jornal como se delimitavam as obrigações e papéis de ambas as partes. Sem tal “casamento” – repete-se, voluntário e voluntarioso – não teria havido PÚBLICO. Como não teria continuado, caso os princípios ali estabelecidos fossem desvirtuados de forma irreversível por qualquer das partes.

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Este jornal que agora lê, seja por que meio ou plataforma, não teria existido se não fosse a soma, voluntária e voluntariosa, de dois factores: um grupo de jornalistas desejoso de fazer um diário aberto às grandes mudanças que abalavam o mundo em finais dos anos 1980; e a disposição de um grupo empresarial para garantir viabilidade a tal projecto. O grupo empresarial foi a Sonae, mas, influenciando-a decisivamente, esteve a vontade do seu presidente, Belmiro de Azevedo. E essa vontade não nasceu de um simples capricho, mas da ideia, clara para todos nós, de que este era um caminho que obrigatoriamente teríamos de fazer, porque algo de muito forte a isso nos impelia, sendo essa união selada numa espécie de “magna carta” difundida publicamente (caso raro na imprensa portuguesa), em que se estabeleciam não só os princípios e objectivos do jornal como se delimitavam as obrigações e papéis de ambas as partes. Sem tal “casamento” – repete-se, voluntário e voluntarioso – não teria havido PÚBLICO. Como não teria continuado, caso os princípios ali estabelecidos fossem desvirtuados de forma irreversível por qualquer das partes.

Foram estimulantes e febris as reuniões do início com ele, no Porto, quando tudo era ainda tão novo. Houve depois, claro, neste percurso de décadas, desentendimentos, desacordos, choques de intenções e ideias, demissões, momentos de tensão. Mas mesmo nestes, quando tudo parecia ameaçar ruir, foi importante a atitude de frontalidade que Belmiro de Azevedo sempre assumiu, mostrando o que pensava e queria, mesmo quando esse pensamento e esse querer colidiam com os dos seus interlocutores. E isso, de alguma forma, ajudou a que o caminho fosse sempre em frente (mesmo quando as decisões eram mais questionadas ou questionáveis) e não às arrecuas ou na suave, mas inútil, modorra das indecisões. Esse seu espírito frontal, às vezes truculento, foi essencial para a manutenção das relações internas numa base saudável, sobretudo nos momentos de desacordo. Porque, nas rosas ou nos espinhos, sabia-se sempre o que ele pensava e queria.

Se há homenagem que lhe deve ser feita, por quem esteve do lado do grupo de jornalistas que com ele deu vida ao PÚBLICO, ela assenta no reconhecimento de que ele foi capaz, honrando a sua palavra, de manter um jornal independente quando tantos fazem precisamente o contrário. Por isso lhe cabem, neste momento, as muitas rosas do início, aquelas que ele ajudou a florir.