Surgem revelações de agressões sexuais nas instituições europeias

Parlamento Europeu aprova resolução contra o assédio e pede à Comissão que faça directiva que puna “violência contra mulheres e raparigas”.

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Eurodeputados exibem cartazes com a hashtag #MeToo no Parlamento PATRICK SEEGER/EPA

A União Europeia está a tentar enfrentar os seus próprios demónios de violência sexual – a mesma cultura de silêncio que protegeu o produtor de cinema e o apresentador de televisão americanos Harvey Weinstein e Bill O’Reilly, como outros em Hollywood, e que é reproduzida em muitos locais do mundo, como os corredores do Parlamento Europeu ou da Comissão Europeia.

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A União Europeia está a tentar enfrentar os seus próprios demónios de violência sexual – a mesma cultura de silêncio que protegeu o produtor de cinema e o apresentador de televisão americanos Harvey Weinstein e Bill O’Reilly, como outros em Hollywood, e que é reproduzida em muitos locais do mundo, como os corredores do Parlamento Europeu ou da Comissão Europeia.

Os eurodeputados aprovaram esta quinta-feira uma resolução sobre a luta contra o assédio sexual e os abusos sexuais na UE, mas o primeiro passo da proposta é reiterar um apelo à Comissão Europeia já em 2014, para que “apresente uma estratégia global estratégia global contra todas as formas de violência baseada no género”. A resolução, aprovada por 580 votos a favor, dez contra e 27 abstenções, insta o executivo comunitário a apresentar uma proposta de directiva que puna “todas as formas de violência contra mulheres e raparigas”.

Vera Jourova, a comissária europeia para a Igualdade de Género, surpreendeu a assistência de um colóquio organizado pela publicação Politico em Bruxelas ao confessar que ela própria tinha sido vítima de violência sexual, e incentivar outras mulheres com a mesma experiência a juntarem-se ao movimento #MeToo nas redes sociais, iniciado pela actriz norte-americana Alyssa Milano, após terem começado a surgir as denúncias contra Weinstein, incentivando outras vítimas de assédio e violência sexual a tornar públicas as ofensas que sofreram.

O movimento #MeToo extravasou em muito o mundo de Hollywood. Várias eurodeputadas aderiram, com a alemã Terry Reintke, ou a sueca Linnéa Engström, ambas d’Os Verdes.

Um grupo de eleitos juntaram-se ainda para exigir ao presidente do Parlamento Europeu, o italiano Antonio Tajani, uma auditoria externa “sobre a situação do assédio sexual no Parlamento Europeu”, uma vez que durante esta semana, antecipando o facto de os eurodeputados irem discutir a resolução aprovada esta quinta-feira, o Politico diz ter obtido mais de 30 testemunhos de assédio sexual no PE, entre as quais alguns de violação, tanto de homens como de mulheres, depois de ter lançado um pedido de testemunhos no seu site.

Tajani divulgou um comunicado de imprensa sublinhando que o Parlamento tem procedimentos bem estabelecidos para lidar com o assédio, incluindo um comité consultivo “que não recebeu nenhuma queixa formal”, diz o Politico. Mas as pessoas que se identificaram como vítimas de assédio e violência sexual dizem que “há uma cultura de silêncio” no PE. “Mesmo tendo obtido alguma ajuda, desencorajaram-me claramente de ir à polícia”, disse uma mulher que revelou ter sido violada por um assistente parlamentar em 2016.

Um inquérito de 2014 da Agência dos Direitos Fundamentais da EU dizia que uma em cada três mulheres foi vítima de violência física ou sexual na sua vida adulta e cerca de 55% das mulheres na UE foram vítimas de assédio sexual. Mesmo 75% das mulheres com profissões qualificadas ou em ocupam cargos de direcção dizem ter sido sujeitas a assédio sexual. O agressor, em 32% dos casos, foi um superior hierárquico, um colega ou um cliente.

Os dados revelam ainda que 20% das jovens (com idades entre os 18 e 29 anos) na UE-28 foram vítimas de assédio em linha e que uma em cada dez mulheres já foi vítima de perseguição ou de assédio sexual através das novas tecnologias.