Os jardins botânicos guardam um terço de todas as espécies de plantas que conhecemos

Poderão os jardins botânicos salvar as plantas que estão em perigo? Cientistas do Reino Unido concluíram que estes espaços ajudam a conservar cerca de 41% das espécies ameaçadas. Vários jardins botânicos em Portugal também foram considerados neste estudo

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Jardim botânico tropical em Miami, que é conhecido pelas suas colecções de palmeiras ou de árvores de frutos tropicais BGCI

Os jardins botânicos são autênticos guardiões das plantas. Essenciais para processos como a absorção do dióxido de carbono, a fertilidade do solo e a purificação da água, as plantas encontram nestes espaços uma casa segura. Um artigo científico na revista Nature Plants revela que estes jardins têm pelo menos 30% de todas as espécies que conhecemos e 41% de todas as plantas classificadas como “ameaçadas” pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).

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Os jardins botânicos são autênticos guardiões das plantas. Essenciais para processos como a absorção do dióxido de carbono, a fertilidade do solo e a purificação da água, as plantas encontram nestes espaços uma casa segura. Um artigo científico na revista Nature Plants revela que estes jardins têm pelo menos 30% de todas as espécies que conhecemos e 41% de todas as plantas classificadas como “ameaçadas” pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).

Os cientistas analisaram uma base de dados da Conservação Internacional de Jardins Botânicos (BGCI), uma organização não-governamental com sede no Reino Unido e que junta vários jardins botânicos em todo o mundo. Essa base de dados denomina-se “BGCI GardenSearch” e tem cerca de 3400 colecções de 180 países. Há 16 jardins botânicos portugueses na BGCI GardenSearch, conforme é indicado pelo artigo científico.

Para o trabalho, foram consideradas 1116 colecções, consultadas em 2016. Paul Smith, secretário-geral da organização e um dos autores do trabalho, diz-nos que estudaram colecções do Jardim Botânico da Ajuda (Lisboa), do Jardim Botânico Tropical (Lisboa), do Jardim Botânico de Lisboa, do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra e do Jardim Botânico do Faial (Açores), por exemplo. Samuel Brockington, da Universidade de Cambridge (Reino Unido), acrescenta ainda o jardim botânico da Parques de Sintra – Monte da Lua.

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Há cerca de 105 mil espécies de plantas nos jardins botânicos Paulo Ricca/Arquivo

Das mais de 350 mil espécies de plantas conhecidas, concluiu-se que cerca de 105 mil estavam em jardins botânicos (cerca de 30%). A maioria das plantas cresceu em jardins botânicos do Hemisfério Norte. Os cientistas ainda perceberam que havia uma diferença significativa entre a quantidade de espécies de plantas das regiões temperadas e das tropicais. “Cerca de 60% das espécies de plantas de regiões temperadas estavam representadas nos jardins botânicos. Apenas 25% das espécies pertenciam às tropicais, embora a maioria das espécies [que existem] seja tropical”, lê-se no comunicado da Universidade de Cambridge.

Os jardins botânicos guardavam quase metade das espécies ameaçadas, mas apenas 10% do espaço desses locais foi dedicado a essas plantas. Os investigadores destacam a importância destes jardins para a preservação das plantas mais ameaçadas e apelam a que se criem condições para que se faça mais. “A ligação global dos jardins botânicos é a nossa melhor esperança para salvar algumas das espécies mais ameaçadas do mundo”, avisa Samuel Brockington. “Hoje em dia, estima-se que um quinto da diversidade das plantas esteja ameaçado. Os jardins botânicos protegem uma quantidade incrível da diversidade de plantas em cultivo, mas necessitamos de responder directamente a esta crise de extinção.”

Lançam também o apelo aos decisores políticos: “Os jardins botânicos têm muitos objectivos, incluindo a atracção de visitantes, a educação, a criação de lucro e a divulgação do trabalho científico. Até os políticos, os financiadores e os dirigentes dos jardins botânicos verem a conservação de plantas como uma prioridade, esta continuará a ser uma actividade relativamente pequena nos jardins.”

O programa mais importante que existe para a conservação das plantas em jardins botânicos é a Estratégia Global para a Conservação de Plantas, criada na Convenção de Diversidade Biológica, da ONU, em 2002 e actualizada em 2010. De todas as 16 metas a cumprir até 2020, a equipa destaca a meta 8: “Pelo menos 75% das espécies de plantas ameaçadas [devem estar] em colecções ex-situ, preferencialmente nos países de origem, e pelo menos 20% disponível para programas de recuperação e restauração.”

Redução dos efeitos dos incêndios

Os cientistas salientam que algumas plantas que não são ainda cultivadas nos jardins botânicos podem ser mais interessantes” do que aquelas que lá estão. Dão o exemplo da Hydrostachys polymorpha, que é aquática, originária de África e cresce apenas em cascatas e nas zonas mais agitadas das águas. Ou ainda a Pilostyles thurberi, que tem milímetros e vive em arbustos nos desertos.  

E também há plantas com linhagens muito antigas nestes jardins. Chamam-se “plantas não vasculares” e podem ser musgos ou líquenes. “As plantas não vasculares foram das primeiras a colonizar a Terra. Com essas plantas temos esclarecido momentos-chave do início da história evolutiva, e são essenciais para percebermos a evolução das plantas”, explica Samuel Brockington. Mas, segundo o artigo, não estão quase documentadas nos jardins botânicos. Apenas 5% destas plantas estão registadas na rede global destes espaços. 

Os jardins botânicos com a maior colecção de plantas vivas na paisagem são o de Edimburgo (Escócia), Kew (Inglaterra), Glasnevin (Irlanda), Auckland (Nova Zelândia) e Montreal (Canadá). Já a maior e mais diversa colecção num banco de sementes é a dos Reais Jardins Botânicos de Kew (Inglaterra), nomeadamente o Banco de Sementes do Milénio. Todos os jardins botânicos do mundo contabilizaram cerca de 500 milhões de visitantes por ano.

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Jardim botânico na Singapura BGCI

“Nos jardins botânicos cresce o mais amplo conjunto de plantas do que em qualquer outra comunidade profissional. Desta forma, dão-nos informações, dados, aptidões e ajudam-nos a conservar a diversidade de plantas. Mas, mais importante, também nos podem ajudar na gestão que o humano faz da paisagem”, explica ao PÚBLICO Paul Smith. “Por exemplo, em Portugal, seria bom vermos um maior conjunto de árvores nativas cultivadas na paisagem, para se reduzir os efeitos da devastação dos incêndios que se enfrentam com tanta frequência. Os jardins botânicos podem ajudar nisso.”