Edição genética usada para estudar desenvolvimento de embriões humanos

Uma equipa britânica de cientistas usou a ferramenta de edição genética CRISPR/Cas9 em embriões humanos para desactivar um gene que, segundo concluíram, será essencial para o sucesso de uma gravidez. A descoberta pode ser útil para resolver problemas de fertilidade.

Foto
Cientistas recorreram à CRISPR /Cas9 que mudou o ADN de 41 embriões humanos NEG NELSON GARRIDO

Cientistas britânicos usaram a ferramenta de edição genética conhecida como CRISPR/Cas9 para "desligar" um gene em embriões com apenas alguns dias, testando, desta forma, a capacidade da técnica na tarefa de decifrar as principais funções de genes no desenvolvimento humano embrionário. Usando uma tecnologia que tem sido alvo de um forte debate à escala internacional por causa dos receios de que esta técnica possa ser usada para criar “bebés à medida”, os investigadores defendem que as suas experiências são importantes para aprofundar a compreensão da biologia do desenvolvimento humano embrionário.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Cientistas britânicos usaram a ferramenta de edição genética conhecida como CRISPR/Cas9 para "desligar" um gene em embriões com apenas alguns dias, testando, desta forma, a capacidade da técnica na tarefa de decifrar as principais funções de genes no desenvolvimento humano embrionário. Usando uma tecnologia que tem sido alvo de um forte debate à escala internacional por causa dos receios de que esta técnica possa ser usada para criar “bebés à medida”, os investigadores defendem que as suas experiências são importantes para aprofundar a compreensão da biologia do desenvolvimento humano embrionário.

A CRISPR/Cas9 pode permitir que os cientistas encontrem e modifiquem ou substituam defeitos genéticos. Muitos encaram esta técnica como uma mudança de jogo. "Uma maneira de descobrir o que um gene faz no embrião em desenvolvimento é ver o que acontece quando o desligamos", disse Kathy Niakan, cientista especializada em células estaminais que liderou a pesquisa no Instituto Francis Crick, no Reino Unido. "Agora, demonstrámos uma maneira eficiente de fazer isto e esperamos que outros cientistas a usem para descobrir as funções de outros genes."

A investigadora referiu ainda que espera que os cientistas decifrem os papéis de todos os principais genes que os embriões precisam para se desenvolver com sucesso. Isso poderia melhorar os tratamentos de fertilização in vitro para casais inférteis e também ajudar os médicos a entender por que é que tantas gravidezes falham. "Pode demorar muitos anos a chegar até esse conhecimento, o nosso estudo é apenas o primeiro passo", acrescentou Kathy Niakan.

A equipa de investigadores usou a CRISPR para impedir que um determinado gene produza uma proteína chamada OCT4 e que normalmente é activada nos primeiros dias de desenvolvimento de embriões humanos. Passaram mais de um ano a optimizar a técnica usando embriões de ratinhos e células estaminais humanas em pratos de laboratório, antes de iniciar o trabalho nos embriões humanos.

Para ”desligar” o OCT4, os cientistas recorreram à CRISPR /Cas9 que mudou o ADN de 41 embriões humanos. Após sete dias, o desenvolvimento embrionário foi interrompido e os embriões foram analisados. Depois de ser fertilizado, o ovo divide-se e por volta dos sete dias forma uma “bola” de cerca de 200 células chamada blastocisto, explicou Kathy Niakan. Os resultados deste trabalho, publicados esta quarta-feira na revista científica Nature, revelam que os embriões humanos precisam de OCT4 para formar um blastocisto. Sem ele, o blastocisto não chega a formar-se ou não se desenvolve normalmente.

"As tecnologias de edição do genoma - particularmente CRISPR/Cas9 usadas neste estudo - estão a mudar as regras do jogo no que se refere à nossa capacidade de perceber a função dos genes humanos que são decisivos", referiu Rob Buckle, director de ciência do Conselho Britânico de Investigação médica, que elogiou os resultados desta investigação.

O trabalho desta equipa britânica surge na sequência de um estudo, divulgado em Agosto, realizado por cientistas nos EUA que anunciaram ter conseguido alterar os genes de um embrião humano para corrigir uma mutação causadora de doenças.