Joaninhas vêm pelo correio para matar pulgões

Os “insectos auxiliares” são uma das formas mais eficazes de controlo das pragas na agricultura biológica. N’A Nossa Quinta assistimos a uma demonstração de como funcionam.

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É uma espécie de luta invisível, pelo menos aos nossos olhos, a que se trava nas plantas da Quinta da Estribeira do Meio, em Rio de Mouro. Este é um espaço de agricultura biológica, com uma particularidade: está dividido em parcelas que são alugadas por diferentes pessoas, num “clube agrícola” para quem deseja ter uma pequena horta próximo de Lisboa.

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É uma espécie de luta invisível, pelo menos aos nossos olhos, a que se trava nas plantas da Quinta da Estribeira do Meio, em Rio de Mouro. Este é um espaço de agricultura biológica, com uma particularidade: está dividido em parcelas que são alugadas por diferentes pessoas, num “clube agrícola” para quem deseja ter uma pequena horta próximo de Lisboa.

Somos recebidos por Pedro Pereira, um dos sócios deste projecto chamado A Minha Quinta, para uma demonstração de como se põe em marcha a tal luta invisível de que falávamos. É que, sendo este um espaço exclusivamente de agricultura biológica, é necessário usar métodos naturais de controlo de pragas. Um deles – o mais fotogénico, sem dúvida – envolve joaninhas.

Chamam-lhes “insectos auxiliares” e o método consiste simplesmente em colocá-las nas folhas das plantas. O resto do trabalho será feito pelas próprias joaninhas. É isso que Pedro Pereira nos demonstra, abrindo uma caixinha onde os insectos vêm acondicionados e colocando-os delicadamente sobre as folhas. Só muito recentemente o AKI começou a comercializar em Portugal este produto, que até aqui não existia na grande distribuição e que é vendido num pack pré-pago, sendo depois os insectos enviados por correio.

As joaninhas devoram os pulgões, que são uma das principais pragas, e existem em duas variedades. Pedro abre uma das caixas e mostra as que têm duas pintas, uma em cada asa (adalia bipunctata), que são as ideais para proteger árvores mais altas e arbustos. A outra variedade é a joaninha com sete pintas (coccinela septempunctata), usada nas plantas mais baixas e ideal para as hortas como as que existem n’ A Minha Quinta.

Este é um projecto que nasceu em 2014, quando Pedro e os seus primos decidiram juntar esforços para salvar uma propriedade que pertencia à família há muito tempo mas estava sem uso. A Quinta da Estribeira, que foi entretanto dividida em três partes, tem uma história antiga – há mais de 300 anos pertencia ao estribeiro-mor do reino, responsável pelas cavalariças reais, daí o nome que ainda hoje tem.

Actualmente, são cerca de 30 os arrendatários que aqui vêm trabalhar nas hortas, cada uma com 30 metros quadrados. As joaninhas – que podem também ser vendidas ainda em ovo ou em larva – instalam-se nas plantas e, a partir daqui, irão reproduzir-se. “As joaninhas em larva vêm esfomeadas e devoram os pulgões”, explica uma das técnicas que acompanha Pedro na aplicação dos insectos auxiliares.

As joaninhas não são os únicos indicados para a luta biológica. Existem também os crisopídeos, que combatem pulgões, tripes, aranhas vermelhas, conchonilhas, larvas de doríforas. E os – esses, sim, completamente invisíveis a olho nu – nemátodos, que, apesar do seu tamanho, instalam-se na barriga das presas, o que os torna especialmente eficazes no combate às lesmas, traças da maçã, da pêra e da noz, formigas, aos devastadores escaravelhos vermelhos (a praga das palmeiras), lagartas brancas e traças, entre outras.

Pedro demonstra de seguida como se colocam os nemátodos, que, sendo tão pequenos, têm a aparência de um pó fino, que se dilui em água e é depois pulverizado sobre as plantas – neste caso umas belíssimas hortaliças.

Por fim, vamos até às roseiras que estão junto da entrada na quinta para ver como se colocam os crisopídeos. Estes podem também ser encomendados em ovos, larvas, sendo estas, tal como as joaninhas, particularmente vorazes.

Quando se transformam em adultos, atingem entre 10 e 15 milímetros, têm uma cor esverdeada e umas asas longas e transparentes. Mas nessa fase, já só de alimentam de néctar e pólen pelo que deixam de ser úteis como insectos auxiliares. A embalagem que Pedro usa traz as minúsculas larvas, que ele lança sobre as roseiras enquanto observamos a rapidez com que elas se espalham e começam a procurar alimento. A luta invisível está já em curso.