Durante 60 anos, centenas de rapazes de um coro alemão sofreram abusos

Relatório confirma os crimes no internato da Igreja Católica e no coro que foi dirigido por Georg Ratzinger, irmão de Bento XVI.

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O chefe do internato entre 1964 e 1994 foi Georg Ratzinger Michaela Rehle/Reuters

Ao longo de seis décadas, pelo menos 547 membros do coro da escola de música de Ratisbona sofreram abusos físicos e, por vezes, sexuais, revela um relatório divulgado esta terça-feira. Os agressores eram 49 membros da Igreja Católica. As vítimas dizem que pertencer ao coro — e à escola — era como "estar na prisão, no Inferno e num campo de concentração".

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Ao longo de seis décadas, pelo menos 547 membros do coro da escola de música de Ratisbona sofreram abusos físicos e, por vezes, sexuais, revela um relatório divulgado esta terça-feira. Os agressores eram 49 membros da Igreja Católica. As vítimas dizem que pertencer ao coro — e à escola — era como "estar na prisão, no Inferno e num campo de concentração".

Um relatório de 2016 já concluira que 231 destes menores tinham sofrido abusos entre 1945 e o início dos anos 90, segundo o advogado que investiga os abusos, Ulrich Weber, citado pela BBC. Representantes do coro desta escola católica não comentaram o relatório.  

Weber disse que encontrou 500 casos de abusos físicos e 67 de abusos sexuais ao longo de seis décadas. Na apresentação do relatório, disse que dos 49 membros da Igreja Católica que realizavam os abusos numa "cultura de silêncio", nove também estiveram envolvidos em abusos sexuais. As vítimas descreveram-lhe as suas experiências neste internato no Sul da Alemanha como "o pior período" das suas vidas", "caracterizado pelo medo, pela violência e pela ausência de esperança".

O chefe do internato entre 1964 e 1994, Georg Ratzinger, pode ser "responsabilizado por não ter agido e optado por olhar para o lado", disse Weber. Ratzinger, de 93 anos, é irmão do Papa Emérito Bento XVI. Negou ter conhecimento dos abusos e disse que a questão nunca foi discutida enquanto dirigiu o coro.

A Igreja Católica já se tinha oferecido para pagar entre cinco mil e 20 mil euros às vítimas de Ratisbona. Em 2010, surgiram as primeiras notícias sobre casos de abuso sexual neste coro com mil anos de história.

A Igreja Católica foi atingida, nos últimos anos, por uma série de escândalos, muitos relacionados com abusos sexuais a menores nas suas instituições.