O Porto saiu à rua sem balão na sua festa de eleição

De sardinhas, bailaricos, manjericos, martelos e alho-porro se fez a noite mais emblemática da cidade do Porto. Os balões primaram pela ausência. A proibição de lançamento parece ter sido cumprida.

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O cheiro a sardinha e a pimento assado invade a cidade e os martelos saltitam pelo ar de cabeça em cabeça. É sinal de que o São João, no Porto, já começou. Só fazem falta os balões a voar, mas este ano cortaram-lhes as asas. Mesmo assim, os portuenses, e não só, fizeram a festa.

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O cheiro a sardinha e a pimento assado invade a cidade e os martelos saltitam pelo ar de cabeça em cabeça. É sinal de que o São João, no Porto, já começou. Só fazem falta os balões a voar, mas este ano cortaram-lhes as asas. Mesmo assim, os portuenses, e não só, fizeram a festa.

São 19h e na Avenida da Boavista os fogareiros começam a ser acesos. Pela estação de metro da Casa da Música saem dezenas de pessoas de todas as idades. Na rotunda da Boavista, à volta da roda gigante, as famílias divertem-se nos carrinhos de choque e deliciam-se com as farturas com canela, açúcar e farinha.

Mas há quem tenha começado mais cedo. Na zona oriental da cidade, Diogo Baia preparava o grande dia desde as 14h. Reunido com vários amigos, montaram o “estaminé” nas Fontainhas com uma vista privilegiada sobre o rio Douro. Bifanas, espetadas, cervejas e caipirinhas: está tudo pensado ao pormenor. “É um momento de convívio”, diz o jovem de 24 anos. “O São João é como a poesia, retira a vida do dia-a-dia”, acrescenta, sorridente. “Comemos, bebemos, vemos o fogo e depois andamos pelos bailaricos”, conta o amigo Francisco Pina, da mesma idade e companheiro de todos os anos no dia 23 de Junho.

“Quem quer martelos a dois euros?”

Nesta sexta-feira não circularam carros na emblemática Avenida dos Aliados. Toda a avenida ficou reservada aos foliões. Ali, além dos apitos dos martelos que se ouviam de cada vez que acertavam em cheio nos mais distraídos, surgia amiúde o pregão dos vendedores ambulantes: “Quem quer martelos a dois euros?”; “A sardinha aqui é a um e meio!”. Na esquina com a Rua Elísio de Melo, um vendedor de óculos e bandoletes que dão luz, aproveitava para sublinhar o pouco negócio logo que via câmara apontada: “Há muita concorrência e pouco dinheiro. Venho de propósito de Lisboa para aqui há 30 anos e agora vende-se muito mal.”

Na Avenida dos Aliados, Rita Cardoso Rocha e as amigas sublinharam o significado que para elas tem a festa popular. “Este dia é a forma de unir o povo portuense”, realça Rita, estudante do Porto, que marca presença no São João desde que se lembra. “Esta festa é a alma da cidade”, acrescenta.

Já junto ao rio Douro, na Praça da Ribeira, Elizabeth Cesena passeava um copo de cerveja numa mão e um martelo na outra, sem saber muito bem porquê. Nasceu na Califórnia, nos Estados Unidos, mas não veio de tão longe: estuda em Lisboa e veio com três amigas, porque lhe disseram “que esta é a melhor festa do país”. “Viemos só para esta festa de propósito e estamos a adorar. Isto dos martelos é estranho, mas tenho tentado imitar as pessoas que vejo”, disse entre gargalhadas, enquanto esperava pelo momento mais alto da noite. 

Com 17 minutos de atraso, chegou o famoso e tão aguardado fogo-de-artifício que durante outros 17 iluminou o céu do Porto. Por volta das 1h30 da madrugada, os GNR esperavam pelos portuenses na Avenida dos Aliados para um concerto. Era o começo da segunda parte da noite de São João.

Texto editado por Pedro Sales Dias