Ecomare, um centro que alia a ciência à reabilitação de animais marinhos

Novo laboratório da Universidade de Aveiro resulta de um investimento de quase cinco milhões de euros e é inaugurado esta quinta-feira por Marcelo Rebelo de Sousa.

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Dos cerca de dez anos que já tem de vida, a Creoula passou os últimos dois em recuperação. Apresentava um quadro clínico complicado – andou a alimentar-se de pedaços de “plástico, betão, redes” –, mas a sua reabilitação tem sido notável. E a correr tudo conforme previsto, esta tartaruga poderá, a curto prazo, ser devolvida ao mar. Igual sorte deve ter a Tejo, outra das tartarugas que está em tratamento no Centro de Pesquisa e Reabilitação de Animais Marinhos (CPRAM), e que foi resgatada, há cerca de dois meses, depois do alerta lançado por uns pescadores. “Estava meio perdida no rio Tejo e verificámos, depois, que ela estava muito infectada, pois tinha engolido anzóis e redes”, especifica Amadeu Soares, investigador da Universidade de Aveiro (UA) responsável pelo Ecomare, que esta quinta-feira de manhã é inaugurado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

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Dos cerca de dez anos que já tem de vida, a Creoula passou os últimos dois em recuperação. Apresentava um quadro clínico complicado – andou a alimentar-se de pedaços de “plástico, betão, redes” –, mas a sua reabilitação tem sido notável. E a correr tudo conforme previsto, esta tartaruga poderá, a curto prazo, ser devolvida ao mar. Igual sorte deve ter a Tejo, outra das tartarugas que está em tratamento no Centro de Pesquisa e Reabilitação de Animais Marinhos (CPRAM), e que foi resgatada, há cerca de dois meses, depois do alerta lançado por uns pescadores. “Estava meio perdida no rio Tejo e verificámos, depois, que ela estava muito infectada, pois tinha engolido anzóis e redes”, especifica Amadeu Soares, investigador da Universidade de Aveiro (UA) responsável pelo Ecomare, que esta quinta-feira de manhã é inaugurado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

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O novo laboratório Ecomare Adriano Miranda

Um laboratório que resulta de um sonho antigo da UA e que passou a tornar-se realidade depois de um investimento na ordem dos 4,9 milhões de euros. Além do CPRAM, o Ecomare – Laboratório para a Inovação e Sustentabilidade dos Recursos Biológicos Marinhos da UA, congrega, ainda, o Centro de Extensão e de Pesquisa em Aquacultura e Mar (CEPAM), unidade à qual compete desenvolver actividades de investigação científica em biotecnologia marinha, ecologia, biodiversidade, oceanografia, engenharia naval, aplicações robóticas navais, engenharia costeira, entre outras, incluindo estudos estratégicos para a avaliação de actividades económicas marítimas.

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Adriano Miranda

Instalado numa das margens do canal de Mira da ria de Aveiro, na Gafanha da Nazaré, em Ílhavo, o Ecomare quer assumir-se como um centro de referência. E no que concerne à reabilitação dos animais marinhos, os números falam por si. “Na recuperação de tartarugas, temos uma taxa de sucesso de 100%, com mamíferos marinhos é de 33% e 42% em aves marinhas”, revela Amadeu Soares. Feitas as contas, o CPRAM conta com uma “taxa global de sucesso de 55%, quando o padrão mundial é de 25%”, destaca o responsável pelo Ecomare, que é também director do Departamento de Biologia da UA.

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Adriano Miranda

E como é que estes animais chegam ao centro de reabilitação aveirense? Através dos alertas lançados por elementos de “navios de pesca, da Polícia Marítima, do serviço de ambiente da GNR ou os próprios cidadãos que nos contactam quando detectam animais marinhos em dificuldades”, especifica Amadeu Soares. Neste momento, estão oito animais em reabilitação no centro da UA, mas este número não espelha a realidade que, por vezes, ali se vive. “Em Novembro, por exemplo, tivemos uma situação de afluência intensa às urgências com 24 aves que resultaram de uma lavagem de tanques ilegal em alto mar”, recorda Amadeu Soares.

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Apesar de contar com menos de um ano de existência, a história deste centro de reabilitação de animais marinhos tem início com o acidente do navio Prestige, em 2002, na costa da Galiza. “O grupo fundador deste centro veio da Sociedade Portuguesa de Vida Selvagem (SPVS), que começou as suas actividades por ocasião desse acidente”, recorda Amadeu Soares. Em Agosto do ano passado, quando entrou em funcionamento do CPRAM, a unidade de Quiaios da SPVS foi desactivada, transferindo o seu trabalho para a Universidade de Aveiro. “Em termos de qualidade é, como costumo dizer, uma equipa que jogava nas distritais e passa directamente para a Liga dos Campeões”, exemplifica o responsável máximo pelo centro, que não tem dúvidas em afirmar que o Ecomare está ao “nível dos melhores do mundo” – e que é único no país, com esta quantidade de valências.

Equipado com vários tanques – onde vão sendo reabilitadas tartarugas, focas, cetáceos e aves –, laboratórios científicos multifuncionais e uma unidade de cuidados intensivos, este centro compreende também uma parceria com o Oceanário de Lisboa, além da SPVS. Funciona como um verdadeiro hospital. Tem, por exemplo, “uma sala de triagem, onde se avalia o animal e se decide de que meios de diagnóstico necessita; a enfermaria, onde se fazem minicirurgias e outros meios de diagnóstico, como ecografias e raios X”, explica Catarina Eira, investigadora da UA, a propósito da organização a que está sujeito o centro.

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Esqueletos de animais apanhados já mortos ou que morreram durante a reabilitação Adriano Miranda

No futuro, o Ecomare, segundo anunciou o reitor da UA, Manuel Assunção, irá ser aberto a visitas, promovendo “a sensibilização dos jovens, e menos jovens, para as questões ambientais”. Esta estrutura foi financiada por fundos europeus em 85% – o restante valor foi repartido entre a UA e a Câmara Municipal de Ílhavo. Manuel Assunção fez questão de destacar que, além do Oceanário de Lisboa e da SPVS, se associaram ainda ao projecto a Administração do Porto de Aveiro, que cedeu o terreno, a Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro.