Para o Partido Democrata, mais vale um Trump em lume brando do que dois destituídos

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Donald Trump e o Partido Republicano têm pouca margem de manobra para se concentrarem nas promessas MICHAEL REYNOLDS/EPA

O site Astrostyle tem os pormenores mais relevantes para esta história: Donald Trump é do signo Gémeos com ascendente em Leão e lua em Sagitário. Com esta informação, é possível traçar o horóscopo do Presidente dos Estados Unidos para os próximos meses: "Vai continuar a ser queimado em lume brando, por culpa própria ou por incompetência, mas não tem motivos para fazer as malas e sair da Casa Branca pelo menos até 2019."

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O site Astrostyle tem os pormenores mais relevantes para esta história: Donald Trump é do signo Gémeos com ascendente em Leão e lua em Sagitário. Com esta informação, é possível traçar o horóscopo do Presidente dos Estados Unidos para os próximos meses: "Vai continuar a ser queimado em lume brando, por culpa própria ou por incompetência, mas não tem motivos para fazer as malas e sair da Casa Branca pelo menos até 2019."

Agora que já falámos a sério, vamos brincar um pouco. Apesar de metade dos eleitores norte-americanos (e pelo menos metade do resto do mundo) ter muita vontade em acreditar que o destino de Donald Trump é ser expulso da Casa Branca muito antes do fim do mandato, a vida real insiste em apontar noutro sentido.

Não basta que metade dos eleitores norte-americanos (e pelo menos metade do resto do mundo) odeie e despreze um Presidente dos Estados Unidos para que ele seja destituído – como também não basta a convicção de que, mais cedo ou mais tarde, alguém vai provar que ele prejudicou Hillary Clinton de mãos dadas com a Rússia.

É o próprio ex-director do FBI, James Comey, quem o diz no seu testemunho: de uma forma ou de outra, assegurou em várias ocasiões a Donald Trump que ele não está a ser investigado. É claro que isto pode mudar, mas até agora não mudou.

Em toda a História dos Estados Unidos só houve dois Presidentes acusados num processo com vista à sua destituição: Andrew Johnson, em 1868, e Bill Clinton, em 1998. Sim, o Presidente Bill Clinton foi mesmo acusado (ou impeached, em inglês) – a Câmara dos Representantes (então controlada pelo Partido Republicano) aprovou o impeachment (a acusação formal) e o Senado (então controlado pelo Partido Democrata), julgou-o e absolveu-o.

É assim que funciona o processo de destituição de um Presidente nos Estados Unidos: primeiro é preciso que uma maioria simples na Câmara dos Representantes aprove o impeachment, para que depois o Senado possa julgá-lo – se for considerado culpado por uma maioria de dois terços, o Presidente é corrido da Casa Branca.

O mais importante que há a reter em tudo isto, é que os tribunais comuns não são tidos nem achados neste processo. Quando chega ao Congresso, é um processo puramente político, e o seu desfecho depende muito do equilíbrio de forças nas duas câmaras – a Câmara dos Representantes e o Senado.

Desde Novembro do ano passado, o Partido Republicano passou a dominar tudo: tem um Presidente na Casa Branca e a maioria nas duas câmaras do Congresso. E esta situação vai manter-se, pelo menos, até Novembro de 2018, quando se realizarem eleições para os dois órgãos.

Até lá, Donald Trump só poderá ser destituído se muitos membros do Partido Republicano na Câmara dos Representantes (pelo menos mais 25) mudarem de opinião de forma tão dramática que aceitem aprovar o impeachment do seu Presidente – ainda por cima, numa altura em que muitos deles já lançaram as suas corridas para a reeleição em Novembro de 2018, e precisam, por isso, de ter o Partido Republicano a apoiá-los. Para além disso, seria também necessário que pelo menos 19 senadores republicanos estivessem tão convencidos da culpa de Trump que quisessem lançar a bomba atómica política sobre o seu Presidente – e, mais uma vez, numa altura em que muitos deles precisam do apoio do Partido Republicano para serem reeleitos no próximo ano.

Neste momento, o que está em cima da mesa é a possibilidade de Donald Trump ter obstruído o trabalho da justiça, quando pediu ao então director do FBI que deixasse de investigar as possíveis ligações entre a Rússia e Michael Flynn. Para que o processo de destituição com base numa obstrução à justiça chegasse à Câmara dos Representantes, seria preciso que dezenas de membros do Partido Republicano mudassem de opinião radicalmente quase de um dia para o outro, algo nunca visto na História dos Estados Unidos – quando Andrew Johnson e Bill Clinton foram destituídos, a Câmara dos Representantes era controlada pelo partido que estava na oposição, e por isso os dois Presidentes estavam muito expostos, o que não acontece agora.

É por isso que seria interessante saber o que faria o Partido Democrata se estivesse em maioria nas duas câmaras do Congresso: se destituísse Trump, ele seria substituído pelo vice-presidente, Mike Pence, que apesar dos seus defeitos seria visto como um Presidente "normal" – especialmente depois de um Presidente tão peculiar como Trump.

A estratégia do Partido Democrata parece ser a de manter o pé no acelerador, mas não carregar demasiado. Por outras palavras, deixar que Donald Trump se vá queimando em lume brando mas sem desaparecer de cena nos próximos tempos. Para manter as hipóteses de reconquistar a maioria no Congresso em Novembro de 2018, precisamente por causa do descontentamento em relação à presidência de Donald Trump; e, depois disso, ficar com duas portas abertas: ou avança para um processo de destituição, ou continua a descredibilizar a Casa Branca para aumentar as hipóteses de vencer as eleições presidenciais de 2020.

Por agora, enquanto se fala de impeachment, a Casa Branca e o Partido Republicano ficam com menos tempo e menos margem de manobra para fazerem aprovar as suas promessas de campanha – e logo num daqueles raros períodos da História em que o mesmo partido domina a Casa Branca e as duas câmaras do Congresso.