Durante os Santos, Carlos vai para a Caparica para poder dormir

Mudou-se para a Bica há cinco anos, mas procurou um local para se “refugiar das festas” da cidade. E dirigiu um pedido ao presidente da câmara para que cubra as despesas.

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pedro cunha

Carlos Raposo “lidava bem” com as Festas de Lisboa quando estas duravam uma semana. “Agora imagine que é estar 12 dias sem poder dormir”. Com o arraial das Escadinhas da Bica Grande à porta, o morador já fez a reserva de um quarto fora da cidade “para poder dormir e ir trabalhar no dia seguinte”. Durante duas semanas, vai trocar a freguesia da Misericórdia por São João da Caparica.

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Carlos Raposo “lidava bem” com as Festas de Lisboa quando estas duravam uma semana. “Agora imagine que é estar 12 dias sem poder dormir”. Com o arraial das Escadinhas da Bica Grande à porta, o morador já fez a reserva de um quarto fora da cidade “para poder dormir e ir trabalhar no dia seguinte”. Durante duas semanas, vai trocar a freguesia da Misericórdia por São João da Caparica.

Mudou-se para a Bica há cinco anos e, este é o primeiro ano que procurou um local para se “refugiar das festas” da cidade. O estado de saúde da mãe, doente do coração, desencadeou a decisão. E dirigiu um pedido ao presidente da câmara para que cubra as despesas: “Peço que o Estado, a CML [Câmara Municipal de Lisboa] ou a Junta de Freguesia nos providenciem um lugar alternativo ou nos compense dos gastos num hostel para podermos passar estas noites”, escreveu num email a Fernando Medina.

“As minhas paredes, as janelas, a minha casa vibram”, descreve o morador. “É muito engraçado nas ruas mas acho que se devia olhar para os prejudicados”, reclama. Como ele, “umas boas dezenas de pessoas” na Bica mudam de casa durante as festividades, diz. “Se fosse um ou dois dias a gente desenrascava-se. O problema é que não adaptaram as festas ao bairro, mas sim aos interesses de quem faz negócio”, argumenta.

A Junta de Freguesia da Misericórdia, que desconhecia o pedido do morador, diz compreender que esta é uma “situação delicada e por vezes incómoda para os nossos moradores”. No entanto, referiu ao PÚBLICO fonte da autarquia por email, esta é uma zona histórica da cidade onde “existe uma forte tradição de realização de arraiais familiares, feitos pelos moradores para os moradores”.