"Até o sr. presidente da junta de Carnide reflectiu melhor e deve ter visto que tudo foi uma precipitação"

Depois de arrancados e recolocados os parquímetros, o presidente da EMEL diz que a operação em Carnide está a correr normalmente.

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Luís Natal Marques é presidente da EMEL desde Fevereiro de 2015 Rui Gaudêncio

Além de falar dos parques dissuasores e dos problemas de estacionamento para residentes, Luís Natal Marques assume, em entrevista ao PÚBLICO, que a contestação da população e da Junta de Freguesia de Carnide à chegada da EMEL "foi uma surpresa". 

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Além de falar dos parques dissuasores e dos problemas de estacionamento para residentes, Luís Natal Marques assume, em entrevista ao PÚBLICO, que a contestação da população e da Junta de Freguesia de Carnide à chegada da EMEL "foi uma surpresa". 

Como tem funcionado o sistema de trânsito condicionado nos bairros históricos?
É um sistema antigo e encontrámo-lo muito degradado, mesmo fisicamente. Na altura havia a intenção de passar essa gestão para as juntas de freguesia, mas quando chegámos cá o sistema estava tão degradado que entendemos que seria uma maldade passá-lo tal como ele estava. Tem havido um esforço da nossa parte no sentido de o melhorar. Temos feito alguns investimentos, nomeadamente em câmaras, que nos permitam que os operadores à distância não estejam cegos em relação ao que se está a passar no local. Tem existido muito investimento em equipamentos e o sistema, neste momento, está operacional. Há um ano, numa reunião descentralizada da câmara, que ocorreu no auditório do Museu da Farmácia, as principais queixas apresentadas tinham a ver com a inoperacionalidade do sistema e a facilidade com que gente não era moradora entrava, porque os pilaretes estavam avariados. Curiosamente, este ano as queixas já não eram que o sistema não funciona, foram em sentido inverso: que estávamos a controlar, que agora era muito difícil gente estranha aos bairros entrar lá.

Hoje existem metodologias e meios técnicos diferentes daqueles que existiam quando o sistema foi instalado e que provavelmente permitirão fazer uma gestão de acesso aos bairros históricos com uma outra filosofia. Quando chegámos, tínhamos autorização para montar um sistema de controlo de acessos no bairro da Madragoa, mas ele nunca chegou a ser implementado. Queremos fazer da Madragoa um sistema de alguma forma piloto, para testar novas metodologias de controlo, para depois, quem sabe, estendê-lo aos outros bairros. Mas, mais uma vez, são situações de gestão complicada, porque temos um regulamento que diz como é que tudo deve ser feito e depois também temos um rol de excepções.

Não é estranho que seja a EMEL a assumir as empreitadas no Cais do Sodré e no Campo das Cebolas, por exemplo, quando essa seria, à partida, uma competência da câmara?
Nós dantes éramos a Empresa Municipal de Estacionamento de Lisboa. Agora somos a Empresa de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa. A mobilidade não pode ser vista apenas do ponto de vista do estacionamento. O Cais do Sodré é um nó importantíssimo, uma zona de distribuição de trânsito. Não é estranho. Sendo uma empresa de mobilidade, cabe naquilo que é a sua função. É o retorno que a empresa dá aos lisboetas por aquilo que eles nos pagam. Acho isso natural, não vejo grande estranheza, é uma empresa de mobilidade.

Há quem defenda que a EMEL não devia existir e que as suas competências deviam estar nas mãos da própria câmara. Este discurso faz sentido para si?
A EMEL, na minha perspectiva, faz sentido. Basta nós vermos fotografias do que era o Terreiro do Paço antes de chegar a EMEL, o que eras muitas zonas da cidade antes de chegar a EMEL e aquilo em que estas zonas se transformaram do ponto de vista do ordenamento, do estacionamento, tudo isso. Basta verificar isso para percebermos que há uma diferença fundamental. A EMEL faz todo o sentido e deve afirmar-se na defesa da mobilidade dos cidadãos e no sentido de dar à cidade um retorno.

Como está a correr a operação em Carnide?
Para mim o que se passou foi uma surpresa. Depois de uma reunião descentralizada da câmara, em que foi dito pelo presidente da autarquia que era preciso que nós lá estivéssemos para ordenar o estacionamento na freguesia, principalmente na altura em que ocorrem jogos de futebol, o que causa ali grande transtorno… Nós, nesse pressuposto, fomos para a freguesia. Sinceramente não vejo em que é que a presença da EMEL lá prejudica os moradores, que podem adquirir o seu dístico, estacionar e ter mais facilidades que de outra forma não têm. O que existe é uma ocupação selvagem do espaço público naquela zona histórica. Bom, o sr. presidente da junta parece que depois mudou de opinião, pôs considerações de outra natureza no seu discurso. Mas pronto, nós estamos lá, temos os parquímetros, estamos a fazer a exploração…

E tem corrido bem?
Tem corrido, tem corrido. Estamos a fazer a exploração natural. Eu penso que até o sr. presidente da junta reflectiu melhor e deve ter visto que tudo foi uma precipitação.

Mas chegou a haver consulta pública sobre a entrada em Carnide? É que a junta diz que não.
A decisão de entrar em Carnide não é de agora, já vinha do passado. Quando cheguei era uma área de intervenção que já estava definida, mas para a qual nós nunca tínhamos ido. É um trabalho anterior. Foi perante esse discurso do sr. presidente da junta, na reunião descentralizada, e o presidente da câmara também o diz, e toda a gente assistiu… Nós: “tudo bem, se a questão é essa, vamos lá”.

Em que ponto está a implementação do sistema de bicicletas partilhadas?
Neste momento já temos todas as estações-piloto instaladas na Expo. Só não têm as bicicletas porque estamos a testar os sistemas informáticos. Penso que mais uma semana e a fase de testes estará plenamente a ocorrer. O sistema atrasou um bocado. Nem eu próprio tinha ideia disso, mas qualquer intervenção no espaço público é realmente muito complicada. Há uma série de operadoras a trabalhar no espaço: electricidade, gás, águas, redes para tudo e mais alguma coisa. E quando foi idealizada a colocação das estações em determinada zona foi uma coisa complicada: ou porque a optimização de rede nos mandava pôr a estação num sítio e a electricidade passava no outro lado da rua; ou porque naquele lugar por baixo está um cano… A grande dificuldade que nós tivemos nesta fase final teve exactamente a ver com as restrições em termos de espaço público e de subsolo. Nós já estamos com uma nova empreitada para que a extensão a toda a Lisboa aconteça. Esperamos nós que antes do Verão, Julho ou Agosto, tenhamos o sistema em funcionamento.