Do Mundo português à cidade universitária

Na crise académica de 1962, os dirigentes associativos funcionaram como verdadeira geração de um campus universitário.

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A Praça do Império ou o edifício do Museu de Arte Popular são exemplos da Exposição do Mundo Português Margarida Basto

Até aos nossos dias chegaram fragmentos ou conjuntos preservados com a marca ideológica da ditadura. À beira Tejo, o Monumento dos Descobrimentos, a praça do Império ou o edifício que acolhe o Museu de Arte Popular, são exemplos da Exposição do Mundo Português, que decorreu entre 23 de Junho e 2 de Dezembro de 1940.

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Até aos nossos dias chegaram fragmentos ou conjuntos preservados com a marca ideológica da ditadura. À beira Tejo, o Monumento dos Descobrimentos, a praça do Império ou o edifício que acolhe o Museu de Arte Popular, são exemplos da Exposição do Mundo Português, que decorreu entre 23 de Junho e 2 de Dezembro de 1940.

Como hoje se encontram, separadas do conjunto original, não têm significado, mas aquela iniciativa foi uma das montras do Estado Novo, que convocou a sua intelligenzia sob a batuta de António Ferro, do Secretariado da Propaganda Nacional: 17 arquitectos, 43 pintores e 24 escultores estiveram envolvidos na construção.

 A maior parte das edificações tiveram vida curta, duraram o tempo da Exposição, ao estilo dos cenários de Hollywood. O Padrão dos Descobrimentos viria a ser reconstruído em betão e cantaria de pedra em 1960, comemorando os 500 anos da morte do Infante Dom Henrique.

Em Lisboa, à beira-rio, decorria uma mostra em paz, quando a Segunda Guerra Mundial afligia a Europa. A mostra era a réplica nacional às exposições internacionais de Paris, de 1937, e de Nova Iorque e São Francisco, de 1939, nas quais Portugal participara. A estas cidades símbolo do avanço tecnológico, o regime respondia com o passado: Lisboa, como capital do Império. Ao cosmopolitismo francês e norte-americano, o regime contrapunha as actividades económicas e culturais das regiões e das províncias ultramarinas, e apenas cedia à presença de um único país convidado estrangeiro: o Brasil, como símbolo da expansão.

A partir de 1953, surgiu, com outros propósitos, a Cidade Universitária de Lisboa – seguindo o projecto lançado anos antes por Duarte Pacheco. Um conjunto de edifícios e faculdades com uma novidade. A criação de um campus universitário, reunindo instalações até então dispersas pela cidade.

Um percurso começado em 1953 com o Hospital Universitário de Santa Maria, que integra a Faculdade de Medicina que tivera poiso no Campo Santana. Três anos depois, é inaugurado o Estádio Universitário. Em 1957, a Faculdade de Direito e, dois anos depois, do lado oposto da Alameda, a Universidade de Letras.

Em 1960 é estabelecida legalmente a Cidade Universitária, e em 1961 abrem o edifício da Reitoria e a Biblioteca Nacional. A congregação numa zona da cidade do Ensino Superior favorecia, em teoria, o controlo policial dos movimentos estudantis. Mas, a partir do início da guerra colonial, em 1961, favoreceu a sua organização e difusão. Na crise académica de 1962, os dirigentes associativos funcionaram como verdadeira geração de um campus universitário.