Numa cabine fotográfica a combater a violência doméstica

Na Alemanha, uma em cada quatro mulheres são vítimas de violência doméstica. No mundo, diz a ONU, serão uma em cada três. Dois portugueses emigrados em Berlim criaram uma campanha para pôr o assunto na ordem do dia

Uma em quatro mulheres já foi vítima de violência doméstica pelo menos uma vez na vida. Os números dizem respeito à realidade alemã, mas não são substancialmente diferentes dos existentes noutros países. Em Portugal, segundo a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), 14 mulheres são vítimas todos os dias. Foram 32 mil só em 2016. No mundo, a ONU estima que uma em cada três possam ser vítimas. Pedro Lourenço e José Filipe Gomes interiorizaram os números “assustadores” para burilar a estratégia. Na agência DDB Berlim, onde trabalham, encomendaram-lhes uma campanha que pusesse a violência na ordem do dia. E “chamar a atenção para este drama”, pensaram, exigia pensar fora da caixa.

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Uma em quatro mulheres já foi vítima de violência doméstica pelo menos uma vez na vida. Os números dizem respeito à realidade alemã, mas não são substancialmente diferentes dos existentes noutros países. Em Portugal, segundo a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), 14 mulheres são vítimas todos os dias. Foram 32 mil só em 2016. No mundo, a ONU estima que uma em cada três possam ser vítimas. Pedro Lourenço e José Filipe Gomes interiorizaram os números “assustadores” para burilar a estratégia. Na agência DDB Berlim, onde trabalham, encomendaram-lhes uma campanha que pusesse a violência na ordem do dia. E “chamar a atenção para este drama”, pensaram, exigia pensar fora da caixa.

Foi então que a dupla de criativos portugueses se lembrou das cabines fotográficas, “um ícone na Alemanha e especialmente em Berlim” e uma “tendência” um pouco por todo o mundo, contou ao P3 Pedro Lourenço, lisboeta de 35 anos formado em Comunicação Empresarial e Relações Públicas. Basta pensar em casamentos, festas de aniversários ou empresas. Quantas não adoptaram um photobooth para animar a coisa?

Aqui, a ideia não foi diversão — mas usar uma ferramenta que pudesse “dramatizar” os números alemães. No Dia Mundial da Mulher, 8 de Março, instalaram uma cabine numa das estações de metro centrais da cidade e convidaram quem passava a entrar e ser fotografado. Mas as imagens não eram comuns.

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Com um software de reconhecimento facial, a cabine identificava os rostos femininos, mapeava-os e numa das quatro fotografias aplicava nódoas negras à mulher — pondo, dessa forma, a estatística em destaque.

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Para a campanha não se limitar a um dia, a dupla — que saiu de Portugal há cerca de seis anos mas não põe de lado a hipótese de voltar — gravou um vídeo que está agora a ser divulgado em várias redes sociais. O “impacto” tem sido grande e “é, infelizmente, reflexo do facto de ser uma realidade global, sem país”, aponta José Filipe Gomes, o também lisboeta com 33 anos e licenciado em Publicidade e Marketing.

A encomenda chegou à DDB Berlim pela Terre de Femmes, ONG alemã que se bate pelos direitos das mulheres. Pedro e José querem difundir a mensagem o mais possível. Porque este “é um problema global”, insistem. Os lisboetas falaram com a APAV, que preferiu não divulgar o vídeo por não ser uma produção própria. Mas se as imagens chegarem a terras lusas de outra forma o objectivo está atingido: “Se houver alguém em Portugal ou noutra parte do mundo que seja vítima e ao ver este vídeo sinta que não está sozinha é excelente”, diz José. E Pedro conclui: “Esperemos que possa ser motivador para alguém, para que falem e encarem o problema”.