Veneza já autorizou José Pedro Croft a instalar as suas esculturas na Villa Heriot

Seis esculturas com oito metros de altura dão forma à representação oficial portuguesa na Bienal de Artes. Câmara de Matosinhos vai adquirir o conjunto.

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Será no jardim de um palácio do início do século que o escultor português José Pedro Croft mostrará o seu trabalho na Bienal de Arte de Veneza de 2017 que decorre entre Maio e Novembro. A aprovação final da Villa Heriot por parte dos serviços ligados ao património nacional e à cidade italiana chegou só na semana passada, alterando definitivamente o local inicialmente previsto para apresentar as obras que constituem a representação oficial de Portugal na bienal de artes plásticas.

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Será no jardim de um palácio do início do século que o escultor português José Pedro Croft mostrará o seu trabalho na Bienal de Arte de Veneza de 2017 que decorre entre Maio e Novembro. A aprovação final da Villa Heriot por parte dos serviços ligados ao património nacional e à cidade italiana chegou só na semana passada, alterando definitivamente o local inicialmente previsto para apresentar as obras que constituem a representação oficial de Portugal na bienal de artes plásticas.

Croft troca o Campo de Marte, onde se localiza uma obra de Álvaro Siza dos anos 80, por esta vila com um estilo eclético cujos jardins dão para a laguna. Ambos os sítios são na Giudecca, perto, aliás, um do outro, no arquipélago mesmo em frente à Praça de S. Marcos.

O processo que levou à concepção, construção e instalação das esculturas monumentais que José Pedro Croft mostrará a partir de 9 de Maio na Villa Heriot foi longo e sofrido. Mas isso faz parte, explica o escultor no seu atelier no Bairro de Alvalade em Lisboa, porque Veneza, um sítio de lodo e pântanos, obriga os artistas a superarem-se para construir.

A história destas seis esculturas começou em Janeiro de 2016 com o anúncio de que o arquitecto Álvaro Siza seria o nome para representar Portugal na Bienal de Veneza de 2016, dedicada à arquitectura, que alterna com a bienal de artes plásticas. Dois meses depois, ficou a saber-se que a representação portuguesa ambicionava ser uma espécie de dois em um: primeiro Siza acabaria na Giudecca um complexo de edifícios incompleto desde os anos 80, no ano seguinte Croft usaria a praça com 70 metros de lado onde os edifícios se localizam para apresentar a sua peça. O esquema pensado pela Direcção-Geral das Artes (DGArtes) também superava a dificuldade de todos os anos ter de se arranjar uma solução para a representação nacional, uma vez que Portugal, ao contrário de muitos países, não tem um pavilhão nacional no recinto das bienais e tem de alugar todos os anos um espaço de exposição. 

Mas o estaleiro, informou a cidade de Veneza em Setembro do ano passado, tinha de ser vedado e as esculturas totalmente separadas do local onde se planeava que decorresse a construção do bloco final de apartamentos de Siza. O que não estava previsto é que por questões de segurança as esculturas acabassem “enfaixadas” num canto do estaleiro da obra de Siza, nas palavras de José Pedro Croft.

No encerramento da exposição de Álvaro Siza em Novembro, quando Croft apresentou à imprensa o seu trabalho, já tínhamos espreitado a Villa Heriot na companhia do escultor, embora, com as negociações com Veneza e o património ainda a decorrerem, nada devesse ser anunciado antes da luz verde final, que chegou há poucos dias. A instalação das peças monumentais no jardim vai obrigar a um intenso movimento de terras para enterrar uma estrutura capaz de segurar seis esculturas que com as suas formas se transformam em autênticas velas sob a acção do vento.

Esculturas filtros

Da vila, apontou Croft na altura, é ainda possível ver a parte da obra de Siza que já está concluída, mas neste longo processo de autorizações as peças do escultor também foram evoluindo. “As formas mudam, mas a memória de Siza fica na métrica.” O projecto, intitulado Medida Incerta, tem curadoria de João Pinharanda.

As seis esculturas são compostas por planos de vidro espelhado ou colorido com três por seis metros, soldados a estacas de ferro que atingem os oito metros de altura. Vidros vermelhos e azuis, que tal como os espelhos filtram a realidade, transformam-se num mediador da nossa relação com a arquitectura.

O trabalho recente de Croft, que tem uma carreira já com mais de 30 anos, passa exactamente por explorar o lugar da escultura como uma mediação da realidade. O observador é um vértice de um triângulo em que a arquitectura e o espaço urbano são introduzidos como uma imagem dentro da própria escultura através dos reflexos dos espelhos e dos vidros, cada um com as suas temperaturas e intensidades.

“Na Villa Heriot, as relações dos espelhos com a natureza e com o edifício criam curtos-circuitos na percepção da realidade. Devolvem-nos o espaço fragmentado e colocam-nos num ponto de vista que não é o nosso”, explica José Pedro Croft sobre estas esculturas de exterior.

O que é introduzido agora nas esculturas é uma realidade completamente diferente da do Campo de Marte para onde Siza projectou dois blocos de apartamentos. Como explica o artista, passa-se de uma relação de laboratório, experimental, com o estaleiro e com a arquitectura mais “dura e austera” de Siza, para outra mais monumental. “Dá-nos uma Veneza diferente da Giudecca. Aqui temos um espaço que é um jardim com duas casas apalaçadas com uma escala menor. As relações com a arquitectura transformam-se e dão-nos uma sensação de que o edifício encolheu. O edifício aproxima-se da escala das esculturas e nesta mediação elas parecem que crescem.”

Nesta quinta-feira, José Pedro Croft inaugura uma exposição em Barcelona, na Galeria Senda, onde vai apresentar uma série nova de esculturas. São peças de paredes feitas em arame, cobertas com gesso e que exploram o efeito de dripping permitido pelo material.

Em Junho, na ArtBasel, a feira suíça de arte contemporânea, Croft vai ser o único artista do pavilhão da galeria espanhola Helga de Alvear, segundo disse a própriFa galerista ao PÚBLICO em Madrid, durante a feira da Arco, com uma escultura e um desenho que também já estavam prontos quando visitámos o atelier de Alvalade.

Matosinhos vai comprar obras

Em Veneza, a montagem das seis esculturas está prevista que comece em finais de Abril. Mas antes de aí chegarem estas peças, que foram produzidas numa fábrica do Norte – José Pedro Croft nasceu no Porto em 1957 –, já foram adquiridas pela Câmara Municipal de Matosinhos e vão ser expostas num espaço ainda a escolher na cidade onde nasceu Siza.

Segundo Jorge Marmelo, assessor de imprensa da câmara, as esculturas poderão ficar no quarteirão cultural da Real Vinícola, onde vai inaugurar-se em Junho a Casa da Arquitectura e será também instalada a Orquestra de Jazz de Matosinhos.

Com uma produção que custou mais de 100 mil euros, o obra só se tornou possível com o apoio mecenático do empresário José Maria Ferreira. “Isso é um apoio extraordinário”, lembra o artista. Do lado da DGArtes ficaram os custos de toda a organização e produção em Veneza.