Um lisboeta tem de trabalhar oito minutos para pagar um pequeno-almoço

Em Zurique, um suíço tem de trabalhar cinco minutos. Em Caracas, são precisas nove horas.

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O pequeno-almoço português consagra-se como o mais caro da Europa Ocidental, tendo em conta o custo de vida LM MIGUEL MANSO

Um português em Lisboa tem de trabalhar cerca de oito minutos para conseguir pagar um pequeno-almoço. Os habitantes de Abu Dhabi, Osaka e Zurique conseguem pagar um pequeno-almoço com o que ganham em apenas cinco minutos de trabalho, de acordo com os dados do Bloomberg Global City Breakfast Index. No extremo oposto, em Caracas, cidade na qual a inflação galopante é um problema, é preciso trabalhar mais do que oito horas.

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Um português em Lisboa tem de trabalhar cerca de oito minutos para conseguir pagar um pequeno-almoço. Os habitantes de Abu Dhabi, Osaka e Zurique conseguem pagar um pequeno-almoço com o que ganham em apenas cinco minutos de trabalho, de acordo com os dados do Bloomberg Global City Breakfast Index. No extremo oposto, em Caracas, cidade na qual a inflação galopante é um problema, é preciso trabalhar mais do que oito horas.

Este índice da Bloomberg procura saber quantas horas é preciso trabalhar, em diferentes pontos do globo, para conseguir pagar um pequeno-almoço. É feito com base no custo de um pequeno-almoço "típico": um copo de leite gordo, um ovo, duas fatias de pão torrado e uma peça de fruta. Esta refeição foi escolhida por ser composta por ingredientes que facilmente se encontram em todo o mundo, ainda que não correspondam, necessariamente, ao pequeno-almoço mais popular numa dada cidade.

No total, este índice é calculado para 129 cidades e praças financeiras e baseia-se nos preços dos últimos 12 a 18 meses, retirados do site Numbeo.com. O Numbeo é um banco de dados, feito pelos utilizadores, que oferece estatísticas sobre os preços médios em diferentes cidades e países.

Em Lisboa, de acordo com o site, o custo de vida é 35,11% mais baixo do que nos EUA e o salário médio é 795 euros. Um quarto no centro de Lisboa fica por 622,11 euros e o passe de transporte custará, em média, 36 euros. O preço de um pequeno-almoço em Lisboa situa-se entre os 1,8% a 2,7% de um salário médio, isto é, cerca de oito minutos de um dia de trabalho. O pequeno-almoço português consagra-se como o mais caro da Europa Ocidental, tendo em conta o custo de vida. 

Em Zurique, um suíço precisa de trabalhar cinco minutos para comprar um pequeno-almoço, que equivale a 1% do seu salário. Na Europa de Leste, em Kiev, na Ucrânia, a mesma refeição equivale a 6%. E as diferenças entre o Norte e o Sul global são ainda mais marcadas.

A América Latina é a região onde é preciso trabalhar mais para comprar um pequeno-almoço. Em média, são precisos 22,2 minutos de trabalho para pagar a primeira refeição do dia – que custa, em média, 0,94 dólares (cerca de 0,89 euros).

Também há diferenças quando se compara cidades dentro da mesma região. No continente asiático, menos de 1% do ordenado de um japonês em Osaka é o suficiente para fazer a primeira refeição do dia, mas em Hanói, no Vietname, onde o salário é menor, a percentagem sobe para 12%.

Na Europa Ocidental, é preciso trabalhar 7,2 minutos para pagar um pequeno-almoço que custa, em média, 1,31 dólares (aproximadamente 1,24 euros). Na América do Norte, é preciso trabalhar os mesmos 7,2 minutos, mas o pequeno-almoço é mais caro: custa 1,70 dólares (isto é, cerca de 1,61 euros).

A Bloomberg explica que estas diferenças reflectem a acessibilidade do mercado e a acção das forças regulatórias: há sítios, como o Cairo, nos quais existem subsídios alimentares que ajudam a pagar o pequeno-almoço, que custa cerca de 0,35 dólares (0,33 euros). O contrário também acontece: em pequenos mercados, nos quais as importações têm mais expressão, os preços são mais altos. É o que se verifica em Hamilton, nas Bermudas, onde o pequeno-almoço custa 3,48 dólares (3,29 euros).

Ainda que o preço do pequeno-almoço não preocupe quem vive em países desenvolvidos e em economias ricas, pode ser factor decisivo em países em desenvolvimento. A malnutrição é um problema grave e a escassez de alimentos pode dar origem a motins e manifestações – basta lembrar o que aconteceu durante a Primavera Árabe, em 2010 e 2011. A revolução de Jasmim, na Tunísia, em 2010, começou porque um jovem tunisino se imolou pelo fogo, numa forma de protesto contra as fracas condições de vida do país.