“Trailer” para filme de Scorsese ilustrado por jesuíta português

Nuno Branco, sacerdote jesuíta de 39 anos, é membro da comunidade Urban Sketchers Portugal e desenhou a história sobre missionários portugueses no Japão do século XVII, filmada por Martin Scorsese. "Silêncio" chega às salas portuguesas esta quinta-feira, 19 de Janeiro

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Nuno Branco

Leu o livro antes de ver o filme e os desenhos que traçou foram criados como “uma experiência de oração”. Nuno Branco, jesuíta de 39 anos, produziu um trailer ilustrado para Silêncio, de Martin Scorsese, para ser exibido nas salas portuguesas. O filme, inspirado na obra de Shûsako Endô, conta a história de dois missionários jesuítas portugueses que, no século XVII, partiram para o Japão em busca de um padre convertido ao budismo. O exercício de desenho pode, acredita o sacerdote, “proporcionar uma nova maneira de expressar os mistérios da vida, da fé e de Deus retratados naquela sucessão de imagens que reflectem o drama ali vivido”.

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Leu o livro antes de ver o filme e os desenhos que traçou foram criados como “uma experiência de oração”. Nuno Branco, jesuíta de 39 anos, produziu um trailer ilustrado para Silêncio, de Martin Scorsese, para ser exibido nas salas portuguesas. O filme, inspirado na obra de Shûsako Endô, conta a história de dois missionários jesuítas portugueses que, no século XVII, partiram para o Japão em busca de um padre convertido ao budismo. O exercício de desenho pode, acredita o sacerdote, “proporcionar uma nova maneira de expressar os mistérios da vida, da fé e de Deus retratados naquela sucessão de imagens que reflectem o drama ali vivido”.

O convite da NOS Audiovisuais foi feito a Mário Linhares, da comunidade Urban Sketchers Portugal, que o reencaminhou para Nuno Branco. “Estou convencido de que a intuição dele pode ser profética, precisamente por isto: a arte colocada ao serviço ou como tradução da experiência espiritual.” O livro escritor japonês católico, “duro” e “cheio de beleza”, como o descreve em entrevista por email ao P3, levantou-lhe questões — “e muitas delas sem resposta”. “E está bem assim, caminhar com uma fé onde coabitam as perguntas e os sinais.”

 

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“Todos nós precisamos de parar. Fazer silêncio. Até quem não acredita em Deus precisa do silêncio (…), acomoda a alma

O sacerdote escreve que “é difícil, extremamente difícil, comunicar com Deus”. “Recorro, por necessidade, a imagens ou metáforas que, sempre inacabadas ou incompletas, destapam ali uma dimensão que eu próprio terei dificuldade de descrever unicamente pela escrita.” Ilustrar o trailer para um filme como este tem vários desafios, mas o maior é fácil de identificar, garante: “Que as pessoas, ao apreciarem os desenhos, não se fixassem neles”. O que Nuno Branco pretende é que o público “não se fique pelo bonito, pelo contentamento ou [pela] satisfação que um bom desenho pode gerar naquele que o observa”.

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Pormenor dos desenhos que ilustraram o trailer Nuno Branco

“Gostava, antes, que os meus desenhos fossem até rasgados (…), descascados, e que se mostrasse aquilo para o qual eles querem apontar”, continua. A história de Shûsako Endô (aqui protagonizada por Adam Driver, Andrew Garfield e Liam Neeson) é “agressiva e de uma tremenda finura, como se um espinho atravessasse a carne”. “Beliscou a minha relação com Deus. No modo como vivo, como estou e, sobretudo, como dou testemunho da fidelidade ao Evangelho.”

Nuno Branco falou ao P3 sobre o trailer de Silêncio um dia antes de partir para sete dias de “exercícios espirituais” que podem incluir um retiro de silêncio, “experiência muito concreta deixada por Santo Inácio de Loyola”, o fundador da Companhia de Jesus. “Todos nós precisamos de parar. Fazer silêncio. Até quem não acredita em Deus precisa do silêncio (…), acomoda a alma e coloca-a mais livre.”

 

Natural de Oeiras, o sacerdote começou por estudar arquitectura na Universidade Técnica de Lisboa. Só mais tarde entrou na Companhia de Jesus e vive, actualmente, na Comunidade do Noviciado, em Cernache. É ainda director do Centro Universitário Manuel da Nóbrega (CUMN), em Coimbra. No blogue Cadernos de Viagens, Nuno partilha os desenhos que vai fazendo, “com alguma regularidade”, sobretudo em viagens, por ser “um bom exercício, que dispõe bem”. Quando o gosto por desenhar “se converte num serviço para a missão — sem que o desenho perca a sua liberdade —, pode vir a servir os outros encaminhando-os para um eventual encontro com Deus”. “Então, aí, existe uma dimensão que me ultrapassa e, por isso, os próprios desenhos deixam de ser propriedade minha.”

Silêncio chega às salas portuguesas esta quinta-feira, 19 de Janeiro; o trailer ilustrado por Nuno Branco já está a ser exibido.