O jornalismo não vive uma crise

Ouvi falar muito da “pior crise de sempre” dos jornalistas — e é isso que quero aqui contestar, em quatro breves pontos.

Um grupo de jornalistas juntou-se para nos lançar numa reflexão importante: pensar sobre o jornalismo que temos, sobre o jornalismo que fazemos — ou que queríamos estar a fazer. Não lhes invejo a empreitada: esta é uma classe com espírito crítico apurado (e é assim que deve ser); e que, à boa maneira portuguesa, nunca gosta muito da imagem quando se olha no espelho.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Um grupo de jornalistas juntou-se para nos lançar numa reflexão importante: pensar sobre o jornalismo que temos, sobre o jornalismo que fazemos — ou que queríamos estar a fazer. Não lhes invejo a empreitada: esta é uma classe com espírito crítico apurado (e é assim que deve ser); e que, à boa maneira portuguesa, nunca gosta muito da imagem quando se olha no espelho.

Hoje fecha-se a reflexão interna, a primeira ao fim de 19 anos. Mas precisamente porque passou muito tempo é conveniente olharmos para o que mudou e perceber as oportunidades que se abriram — e o dever que temos de aproveitar, em nome de todos os que nos lêem, nos vêem, nos ouvem a cada dia que passa.

Ouvi falar muito da “pior crise de sempre” dos jornalistas — e é isso que quero aqui contestar, em quatro breves pontos: hoje, temos mais pessoas a ler-nos do que alguma vez imaginámos; hoje temos muitas formas de apresentar a informação; hoje temos uma proximidade enorme do leitor — mesmo com quem esteja mais longe do que antes; e hoje conseguimos, como nunca, perceber o que ele nos pede, o que precisa de saber e até onde quis ler cada um dos nossos textos.

Sim, o século XXI é mais duro para quem quer fazer informação. Há mais pressão para ter a notícia na hora, porque não queremos que o nosso leitor seja o último a saber. Há mais escrutínio sobre o que fazemos — o que é uma excelente oportunidade para reconhecermos os nossos erros e ganharmos humildade. Há muitas horas de trabalho, porque as notícias nunca param e o mundo é difícil de perceber. E há uma crise no modelo de negócio dos media a que se junta uma crise difícil, que é a que atinge todo o país e boa parte da Europa e de que nunca conseguiríamos escapar. Crise essa que nos apanhou precisamente quando a revolução tecnológica chegou e deu belíssimas oportunidades aos nossos leitores de seguir a informação de melhores formas e mais confortáveis. A nós, jornalistas, pede-se que nos adaptemos a tudo isto, preservando aqueles únicos factores cruciais e imutáveis da nossa profissão: a credibilidade, o rigor, a qualidade — na procura da verdade. A boa notícia é que é isso que as pessoas procuram, lêem e partilham. Cada vez mais.

Sim, por estas razões é mais difícil ser hoje jornalista do que há 19 anos. É mais difícil entrar, mais difícil viver, mais difícil progredir, mais difícil fazer bem. Mas o facto é que temos feito um bom trabalho. E a verdade é que esta missão de informar é cada vez mais fascinante, é cada vez mais importante nas nossas democracias.  

É por tudo isto que não faz sentido falar hoje de uma crise do jornalismo.

david.dinis@publico.pt