Há um ano classificado pela UNESCO, fabrico de chocalhos aguarda verbas da UE

Foto
AUGUSTO BRAZIO

Um ano depois de ser classificado Património Cultural Imaterial pela UNESCO, o fabrico de chocalhos em Portugal, cuja "capital" é a vila de Alcáçovas, no Alentejo, aguarda financiamento para concretizar um projecto de salvaguarda.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Um ano depois de ser classificado Património Cultural Imaterial pela UNESCO, o fabrico de chocalhos em Portugal, cuja "capital" é a vila de Alcáçovas, no Alentejo, aguarda financiamento para concretizar um projecto de salvaguarda.

"Ainda é cedo para fazermos um balanço, ao fim de um ano, mas temos uma candidatura apresentada aos fundos estruturais e aguardamos a sua aprovação", disse à agência Lusa o presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo (ERT-AR), António Ceia da Silva.

A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) classificou, a 1 de Dezembro de 2015, a arte chocalheira em Portugal como Património Cultural Imaterial com Necessidade de Salvaguarda Urgente. A candidatura de Portugal sobre este ofício tradicional, em risco de extinção, foi liderada pela ERT-AR, em colaboração com a Câmara de Viana do Alentejo e a Junta de Freguesia de Alcáçovas, no distrito de Évora.

Segundo Ceia da Silva, o projeto da ERT-AR sobre o fabrico de chocalhos foi candidatado ao programa operacional regional Alentejo 2020 e visa "executar o plano de salvaguarda e gestão" aprovado pela UNESCO para garantir a sobrevivência desta arte. "A candidatura designa-se Activação do Património Imaterial e tem muito a ver com executar as obrigações que assumimos perante a UNESCO, que é conseguirmos fazer com que a arte chocalheira não se extinga", disse.

O projecto, que a ERT-AR pretende implementar "nos próximos dois anos", passa por "conseguir que haja jovens a aprender a arte chocalheira e criar dinâmicas económicas" associadas ao fabrico de chocalhos, que "possam criar emprego e inovação", indicou. O presidente da Turismo do Alentejo e Ribatejo considerou, por isso, que "é importante" a aprovação do projecto candidatado aos fundos comunitários, que é "a pedra basilar para executar tudo o que consta do plano de gestão e salvaguarda".

Ceia da Silva lembrou ainda que a ERT-AR, em parceria com a Câmara de Viana do Alentejo, pretende ainda instalar em Alcáçovas um centro UNESCO dedicado aos bens europeus classificados como Património Cultural Imaterial da Humanidade, o que inclui o fabrico de chocalhos.

Para assinalar o primeiro aniversário da classificação pela UNESCO, a Câmara de Viana do Alentejo vai promover o lançamento, na quinta-feira, no Paço dos Henriques, em Alcáçovas, do livro Ó, Vitorino! da autoria de Antonieta Félix e com ilustração de Alexandra Mariano.

A decisão de classificar a arte chocalheira foi tomada na décima reunião do Comité Intergovernamental da UNESCO, em Windhoek, na Namíbia.

O fabrico de chocalhos, segundo o dossier da candidatura, é uma actividade metalúrgica associada essencialmente à pastorícia e consiste "na produção de um idiofone em ferro forjado que é suspenso ao pescoço dos animais numa coleira".

Apesar de ter âmbito nacional, a candidatura teve por base o trabalho técnico e científico à volta da arte chocalheira na freguesia de Alcáçovas, no concelho de Viana do Alentejo, onde mais floresceu a partir do século XVIII.

Exercido por famílias, o ofício, no século XX, ressentiu-se do corte na transmissão, por falta de descendentes masculinos ou por os mais novos seguirem outras profissões, como foi referido no dossiê. A industrialização do fabrico e a quebra na procura de chocalhos devido às alterações verificadas no mundo da pastorícia, com o fim da transumância do gado ou a introdução de cercas, são outras das causas apontadas para a quase extinção desta manifestação cultural.