“Para que serve uma biblioteca em Marvila”? A freguesia ganhou um espaço em prol da inclusão

No domingo a Câmara de Lisboa inaugura a Biblioteca de Marvila. A vereadora da Cultura diz que é "o primeiro exemplo paradigmático do que é uma biblioteca do século XXI".

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PÚBLICO

Por enquanto as portas ainda estão fechadas, dado que a inauguração só acontecerá no domingo, mas pela Biblioteca de Marvila já passaram mais de mil membros da comunidade local, que visitaram o espaço e participaram em actividades. A intenção, explica a responsável pelas bibliotecas municipais de Lisboa, foi contribuir para que os muitos que questionaram a sua utilidade começassem “a perceber para que serve uma biblioteca”.  

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Por enquanto as portas ainda estão fechadas, dado que a inauguração só acontecerá no domingo, mas pela Biblioteca de Marvila já passaram mais de mil membros da comunidade local, que visitaram o espaço e participaram em actividades. A intenção, explica a responsável pelas bibliotecas municipais de Lisboa, foi contribuir para que os muitos que questionaram a sua utilidade começassem “a perceber para que serve uma biblioteca”.  

“Houve uma apropriação do espaço. As pessoas começaram a perceber para que serve uma biblioteca em Marvila”, diz a chefe de Divisão da Rede de Bibliotecas da Câmara de Lisboa, contando que nos primeiros contactos a população insistia na ideia de que aquilo que lhe fazia mesmo falta era uma esquadra da PSP. Susana Silvestre acredita que agora a perspectiva dos moradores da zona é diferente e sublinha, com orgulho, que no edifício na Rua António Gedeão não há “um único graffiti, um único vidro partido”.   

“Quando se começou a desenhar a biblioteca foi feito um trabalho com as associações, as juntas de freguesia... Foram feitos focus groups para perceber quem eram as pessoas, que expectativas tinham”, explica por sua vez a vereadora da Cultura, Catarina Vaz Pinto. No mesmo sentido, definiu-se que a própria colecção de títulos irá crescer de acordo com aquelas que forem as vontades e necessidades dos seus utilizadores, não sendo portanto de estranhar que as prateleiras da área de armazenagem de livros estejam por enquanto vazias.   

“Queremos muito desenvolver um sentimento de pertença em relação ao bairro”, sublinha a vereadora, notando que “as bibliotecas são espaços da comunidade” e que a “inclusão social” pode fazer-se também “através da cultura”.

Numa visita ao espaço organizada para um grupo de jornalistas, Catarina Vaz Pinto destaca que o edifício na Rua António Gedeão vai ser “o primeiro exemplo paradigmático do que é uma biblioteca do século XXI”. Nesse sentido, detalha, este equipamento será muito mais do que “um depósito de livros”: será “um centro de conhecimento” e “um espaço partilhado de aprendizagem ao longo da vida”.

Esta biblioteca, que está instalada num edifício construído de raiz para o efeito, está ligada internamente a um outro, que integrava a Quinta das Fontes e que foi agora reabilitado. Nesse último, como explicou a vereadora da Cultura, passarão a estar expostos a “biblioteca pessoal e alguns objectos” de José Gomes Ferreira. Entre eles uma escrivaninha na qual o escritor trabalhava e uma pianola em que “a mulher dele tocava muito”.

Quanto à biblioteca, que tem cerca de 2600 m2 e que integra um antigo lagar que existia no local, ela tem duas áreas de leitura, um espaço com mesas de trabalho com portáteis (que no futuro poderão ser requisitados e levados para casa), e várias zonas consagradas aos mais pequenos: uma para os bebés (com pufes e jogos), outra para as crianças e uma terceira com mesas, cadeiras e uma bancada com lavatórios onde poderão ter lugar actividades diversas na área dos trabalhos manuais.

O edifício inclui ainda várias salas de formação e reunião (nas quais a comunidade poderá realizar eventos) e uma cozinha equipada, que Susana Silvestre tem a ambição que venha a ser utilizada pelos moradores da zona como “um prolongamento” das suas casas, ou “um espaço de visita” ao qual levem familiares e amigos. Aqui poderá também haver workshops ou ter lugar a preparação de pequenas refeições.

Este equipamento municipal inclui igualmente um auditório com cerca de 180 lugares. Catarina Vaz Pinto destaca que o facto de se ter optado por uma “bancada portátil” vai permitir que aqui se realizem “bailes, aulas de dança”. “O presidente da junta de freguesia já disse que não chega para as marchas”, conta a vereadora com um sorriso.   

A inauguração da biblioteca, cujo horário de funcionamento ainda não estava fechado aquando da visita de jornalistas ao espaço, acontece no domingo às 15h. No átrio junto ao auditório estará patente uma exposição sobre a história de Marvila, com fotografias dos anos 30 a 70 do Arquivo Municipal de Lisboa, da Fundação Calouste Gulbenkian e do Arquivo Nacional Torre do Tombo.