Escolha de candidato à Presidência deixa Merkel em apuros

Líderes da grande coligação encontram-se hoje para última reunião para um nome de consenso. Merkel mais perto da quarta candidatura.

Foto
Angela Merkel não quer começar o ano com uma derrota HANNIBAL HANSCHKE/REUTERS

Os partidos da grande coligação do Governo na Alemanha continuam num impasse sobre quem deverá ser o Presidente do país: enquanto a CDU de Angela Merkel, a CSU de Horst Seehofer, e o SPD de Sigmar Gabriel tinham afirmado que procurariam um candidato de consenso, os três não conseguem chegar a um nome consensual para o sucessor de Joachim Gauck, o popular detentor do cargo.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Os partidos da grande coligação do Governo na Alemanha continuam num impasse sobre quem deverá ser o Presidente do país: enquanto a CDU de Angela Merkel, a CSU de Horst Seehofer, e o SPD de Sigmar Gabriel tinham afirmado que procurariam um candidato de consenso, os três não conseguem chegar a um nome consensual para o sucessor de Joachim Gauck, o popular detentor do cargo.

Os responsáveis reúnem-se esta sexta-feira, e espera-se que até domingo acabe finalmente o suspense sobre quem será, ou quem serão, os candidatos à Presidência na votação de Fevereiro.

Para complicar mais a situação, os sociais-democratas decidiram, apesar de serem o parceiro minoritário na coligação de Berlim, lançar um nome para a contenda, e um nome de peso: o do actual ministro dos Negócios Estrangeiros, Frank-Walter Steinmeier.

Na Alemanha, o Presidente não é eleito por voto popular, mas sim numa assembleia especial do Parlamento alemão. Se fosse por voto popular, Steinmeier seria um favorito, segundo uma sondagem do instituto Enmid, com 52% a escolherem-no.

Esta posição é um espelho contrário do que se passa com a popularidade dos partidos: a CDU mantém-se favorita com 34% segundo a mais recente sondagem do instituto, enquanto o SPD baixou um ponto percentual para 22%, os populistas anti-imigração da AfD aparecem com 12%, os Verdes com 11%, a esquerda radical de Die Linke com 10%, e os liberais democratas do FDP com 5% (nas últimas eleições tanto a AfD como o FDP ficaram abaixo dos 5%, o limite mínimo para representação parlamentar).

O que deixa a União (CDU e CSU) numa posição difícil: com um candidato de consenso suprapartidário a parecer uma miragem, ou a União encontra um candidato que vença Steinmeier, ou aceita o candidato rival.

Encontrar uma figura para derrotar o social-democrata parece ser a primeira hipótese de Merkel: o problema nem sequer é só a sua popularidade mas a matemática política na assembleia federal, em que a maioria CDU/CSU não será suficiente para eleger um presidente, enquanto o SPD junto com os Verdes conseguiria eleger Steinmeier nem que fosse apenas na terceira volta, quando é necessário apenas um bloco ter mais votos do que outro. 

“Steinmeier tem boas hipóteses”, afirmou o editor de política do jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, Günther Bannas. “Veremos se a CDU/CSU consegue encontrar alguém de peso semelhante.”

Alguns nomes democratas-cristãos para este cargo incluem o actual ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble (no inquérito do Emnid, surge logo após Steinmeier, mas com uns distantes 35%), ou a ministra da Defesa, Ursula von der Leyen. Ambos têm desvantagens: no caso de Schäuble, de 73 anos, a idade (Gauck retira-se invocando este motivo), e o facto de se sair, fazer a CDU perder uma voz influente na campanha eleitoral, dizem alguns analistas, no caso de Von der Leyen, poderá ser menos interessante para a política do que tentar suceder, mais tarde, a Merkel na chancelaria. 

Há ainda rumores de que Merkel está a tentar encontrar um candidato junto com os Verdes, mas nenhum dos partidos confirmou.

Por outro lado, se a CDU concorre contra Steinmeier e perde, irá começar o ano com uma derrota, algo a evitar. Pior, se Die Linke vota ao lado do SPD e dos Verdes isso poderá dar força à tese de quem vê uma possibilidade de entendimento à esquerda, um tabu a nível federal por causa das posições do Die Linke na política externa e da sua ligação ao partido único da ex-RDA.

A decisão de não concorrer aceitando Steinmeier como o próprio candidato traz outros problemas. A CDU e a CSU acabam de sair de uma discórdia aberta por causa do número de refugiados, e os bávaros opõe-se especialmente a Steinmeier. Além disso, será visto como uma fraqueza de Merkel ter de aceitar o candidato proposto pelo seu parceiro minoritário, que é o seu rival nas eleições legislativas de Setembro do próximo ano.

Só o facto de não haver candidato de consenso é mau para a grande coligação: Só três vezes, num total de 15 votações, é que uma eleição para a presidência chegou à terceira volta: em 1969, em 1994 (quando Roman Herzog foi eleito primeiro Presidente após a reunificação) e em 2010, quando Christian Wulff, o candidato apoiado por Merkel, se confrontou com Joachim Gauck, levando muitos elementos conservadores a votar no pastor e não no político. Wulff viria a demitir-se num escândalo abrindo caminho à escolha de Gauck quase por aclamação.

Chanceler mais perto de quarta candidatura

Falta menos de um mês para se confirmar se, de facto, a chanceler Angela Merkel concorre uma quarta vez ao cargo. Merkel, que já chefiou um governo com os sociais-democratas, depois com os liberais, e agora novamente com o SPD, é uma política formidável capaz de driblar revezes e de fazer desaparecer rivais que pudessem fazer-lhe sombra.

Embora tenha sido seriamente afectada pela política de refugiados, Começa a ser difícil acreditar que Merkel decida não voltar a concorrer, esperando-se um anúncio, no máximo, até ao Congresso da CDU de 5 a 7 de Dezembro em Essen. Analistas especulam que o apoio inequívoco que conseguiu da CSU em Munique poderia ser o sinal que faltava.