Dez anos e dez mil milhões de euros depois, a Galp "é completamente diferente"

A Galp entrou em bolsa há dez anos. À refinação e venda de combustíveis, somou a produção de petróleo. Nesse período investiu dez mil milhões de euros e pagou 3500 milhões em dividendos.

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Gomes da Silva destacou que dois terços dos investidores da Galp estão nos Estados Unidos e no Canadá Nuno Ferreira Santos

Quando a Galp chegou à bolsa, em 2006, “havia uns projectos no Brasil em que uns acreditavam e outros não”. Aliás, esses projectos, ou a possibilidade de esses projectos darem para o torto, estavam na lista dos 20 riscos reconhecidos pela empresa no prospecto apresentado aos investidores aquando da operação de dispersão de capital.

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Quando a Galp chegou à bolsa, em 2006, “havia uns projectos no Brasil em que uns acreditavam e outros não”. Aliás, esses projectos, ou a possibilidade de esses projectos darem para o torto, estavam na lista dos 20 riscos reconhecidos pela empresa no prospecto apresentado aos investidores aquando da operação de dispersão de capital.

Hoje, provou-se que esses são “activos fantásticos” e graças a eles a Galp “é uma empresa completamente diferente”, sublinhou o presidente executivo da petrolífera, Carlos Gomes da Silva, na cerimónia destinada a assinalar os dez anos da empresa em bolsa. Ao longo da década, a Galp fez um “percurso meritório”, espalhando-se “pelo mundo português”, mas com o Brasil (onde foram entretanto confirmadas, em 2007, as gigantescas reservas petrolíferas do pré-sal no campo Tupi, hoje Lula) como eixo estratégico, como destacou o o presidente executivo da Galp na apresentação desta segunda-feira, na Euronext Lisboa.

Depois de ter ultrapassado no ano passado a barreira dos 50 mil barris por dia, a Galp está convicta de que no próximo poderá estar a atingir a meta dos 100 mil barris diários (este ano a empresa já tem seis unidades de produção nas águas ultra-profundas brasileira, e outras já calendarizadas para iniciar operação). Se no prospecto de há dez anos, todos “os ensaios” de exploração e produção petrolífera cabiam “em duas páginas e meia”, já que o grosso da actividade era a refinação e comercialização de combustíveis, hoje “seria ao contrário”, tal foi a reconfiguração do negócio.

Dez anos e dez mil milhões de euros investidos depois, a Galp passou de uma empresa com um resultado antes juros, impostos, depreciações e amortizações de 900 milhões, para quase o dobro (cerca de 1600 milhões).

Na operação de entrada em bolsa, foi fixado um preço de referência de 5,81 euros (que chegou a ser considerado demasiado elevado por alguns analistas, como o presidente da empresa fez questão de notar) e hoje o título ronda os 12,8 euros (valor de fecho de sexta-feira), ou seja, mais 120%. Ao longo desta década de mercado de capitais, a Galp nunca negociou abaixo dos 5,81 euros (embora tenha andado lá perto em 2008, ano da crise financeira e económica, em que o petróleo desvalorizou 60%), mas também nunca mais repetiu a proeza alcançada no final de 2007, quando a confirmação das reservas no campo Lula, fez disparar a cotação acima dos 19 euros.

A cotação das acções foi afectada pela queda do preço do petróleo a partir do Verão de 2014, à semelhança do que aconteceu com os títulos das outras empresas do sector. Mas, ainda assim, a Galp tem “uma valorização extraordinária comparada com o sector” e “a vantagem de ser um operador integrado [que está na exploração e produção, mas também na refinação e comercialização]”, o que lhe garante “a resiliência” necessária para ultrapassar os ciclos negativos, frisou Gomes da Silva.

Segundo os dados apresentados pela Galp nesta segunda-feira, a empresa é, entre as principais do sector, aquela que apresentou o maior retorno para os investidores (entre valorização das acções mais dividendos acumulados). Um retorno de 190%, que compara com os cerca de 50% da Shell e da Total, por exemplo. Só em dividendos foram distribuídos ao longo dos anos cerca de 3500 milhões.

Lembrando que dois terços dos investidores da Galp estão nos Estados Unidos e no Canadá, Carlos Gomes da Silva salientou que a forma como a empresa “é conhecida lá fora é muito maior do que a sua quota de mercado, pelo que tem representado de valorização para os accionistas”. Gomes da Silva destacou o sucesso da petrolífera na disputa de investidores com as gigantes do sector, um facto a que não é alheio o potencial de crescimento da empresa no Brasil (a Galp tem como meta atingir no próximo ano uma produção média diária de 100 mil barris graças essencialmente aos projectos nas águas ultra-profundas no Brasil), que “continua a ser dos lugares mais extraordinários em termos de qualidade dos activos”.

O gestor garantiu, por isso, que a empresa estará disponível para analisar activos que a Petrobras venha a vender no decurso do seu processo de restruturação – mesmo que isso implique investir sem ser na companhia desta que tem sido, até à data, a sua principal aliada estratégica. O que não significa qualquer distanciamento; pelo contrário, as empresas assinaram recentemente um acordo para “ancorar e formalizar o que é uma parceria de facto” e “desenvolver novas oportunidades dentro e fora do Brasil”, notou, à margem do evento.

A Galp chegou ao mercado de capitais a 24 de Outubro de 2006, naquela que foi a maior operação de privatização realizada em Portugal em seis anos. Com a venda de 23% da companhia através de uma oferta pública de venda e de uma operação de venda directa a investidores institucionais, o Estado arrecadou perto de 1100 milhões de euros.

A empresa arrancou com uma capitalização de 4800 milhões de euros (hoje vale mais do dobro), que lhe garantiu entrada no índice de referência PSI 20 uma semana após o início da negociação. “Hoje percebe-se a relevância da Galp” no mercado de capitais português, afirmou Gomes da Silva, mostrando à audiência um gráfico em que a empresa ocupa o segundo posto no índice, logo após a EDP, e antes do terceiro lugar ocupado pela Jerónimo Martins.

“É um caso de sucesso que devemos celebrar”, afirmou a presidente da bolsa lisboeta, Maria João Carioca. Sendo uma empresa com dimensão e liquidez “ancora” e “traz vida ao mercado português”, notou a presidente da Euronext Lisboa.

Por altura da entrada em bolsa, a Galp tinha Francisco Murteira Nabo como presidente do conselho de administração e, na liderança executiva, Manuel Ferreira de Oliveira. Curiosamente, o presidente da Euronext Lisboa era Miguel Athayde Marques, que entrou para o conselho de administração da Galp em 2012 e é, desde a semana passada, o vice-presidente do conselho, em substituição de Paula Amorim. À frente do Governo estava então José Sócrates, com Manuel Pinho na pasta da economia e Teixeira dos Santos na das Finanças.