Datas de uma vida global

António Guterres começou a carreira política em 1973. Mais de quatro décadas depois, chega ao mais alto cargo das Nações Unidas.

Fotogaleria

1949

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

1949

Nasce a 30 de Abril de 1949, em Lisboa, tendo na certidão o nome completo de António Manuel de Oliveira Guterres. Passa parte da infância em Donas, na Beira Baixa, onde cria raízes que procura manter mesmo depois de se tornar político com ambições globais.

1965

Em 1965, ganha um Prémio Nacional dos Liceus, quando ainda estuda no Liceu Camões, em Lisboa. Segue para o Instituto Superior Técnico, onde termina a licenciatura em Engenharia Eletrotécnica como melhor aluno e sem registo de actividade na oposição estudantil. Participa activamente na Juventude Universitária Católica, onde se envolve com Marcelo Rebelo de Sousa, Helena Roseta e o padre Vítor Melícias.

1973

É levado para o Partido Socialista no ano da fundação, em 1973, pela mão de António Reis, influente figura da maçonaria. Torna-se um dos jovens mais importantes no partido e no ano seguinte é escolhido como chefe de gabinete do secretário de Estado da Indústria e Energia, iniciando aqui a ascensão política.

1976

Nas II eleições Legislativas, realizadas a 25 de Abril de 1975, António Guterres torna-se deputado. Irá manter o cargo até 1999, com um pequeno intervalo entre 1983 e 1985, procurando sempre a coerência da matriz social-democrata europeia, equilibrada num catolicismo de grandes causas sociais.

1978

No Governo de iniciativa parlamentar, recusa subir a ministro, explicando depois que o fez porque não se sentia preparado. Esse executivo durou apenas oito meses, confirmando a opção. No PS, alinha por Francisco Salgado Zenha, indo contra Mário Soares sempre que necessário e conquistando a pulso a autonomia no partido.

1983

O primeiro cargo internacional vem quando se torna presidente da Comissão Parlamentar de Demografia, Migrações e Refugiados da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa. Lança as bases para uma carreira internacional em que irá espalhar respeito e admiração junto dos representantes dos poderes globais.

1991

Funda o Conselho Português para os Refugiados, entidade com um papel importante no apoio social. Na comemoração dos 25 anos de actividade, foram salientados os mais de cem mil atendimentos a necessitados e o alto patrocínio do ACNUR desde os primeiros anos.

1992

É eleito secretário-geral do Partido Socialista, vencendo a corrida contra Jorge Sampaio. Torna-se líder de uma oposição acabada de sofrer a segunda maioria absoluta de Cavaco Silva, tendo por objectivo imediato as autárquicas de 1993. Vasco Pulido Valente chama-lhe o “picareta falante”, pela capacidade de combate retórica que apresenta.

1993

Vence as primeiras eleições em que lidera os socialistas, ao angariar um máximo de 126 câmaras para o PS. E coloca pressão sobre o governo de Aníbal Cavaco Silva, que tem ainda uma maioria absoluta para mais dois anos e vai por isso “arder” no lume brando do desgaste político.

1995

A 1 de Outubro vence as legislativas com uma maioria que fica a quatro deputados da absoluta. A maioria relativa obriga-o aos consensos que tão bem domina. E os resultados fazem-se sentir: governa em estabilidade durante quatro anos, lançando as bases para a libertação de Timor-Leste e o Rendimento Mínimo Garantido.

1998

Nova recusa temerária de um cargo, quando nem sequer coloca a hipótese de suceder a Jacques Santer na presidência da Comissão Europeia. A UE, ainda a 15, não foi suficiente para fazer o primeiro-ministro afastar-se de uma eleição que acreditava estar pronto a vencer de forma clara. E os esforços diplomáticos de António Vitorino foram em vão.

1999

A 10 de Outubro, fica ainda mais perto da maioria absoluta, que não consegue por um único deputado. Venceu de forma clara Durão Barroso, mas viu nascer, do outro lado, o Bloco de Esquerda como força política com representação parlamentar. No ano seguinte, com a presidência do Conselho Europeu, lidera a primeira cimeira Europa-África, que renova um importante diálogo transcontinental.

2001

Quando perde as autárquicas para o PSD de Durão Barroso, anuncia que se demite para evitar que o país caia num “pântano político”. Depois de ter governado em minoria e em estabilidade, passou a negociar orçamentos com o deputado limiano e não se mostrou capaz de manter a unidade política nem de passar uma mensagem clara. A derrota e a demissão foram a consequência.

2005

Toma posse como presidente do ACNUR, cargo que irá exercer durante dez anos. Dá a cara pelos refugiados no meio de uma crise humanitária gigantesca provocada pela escalada do conflito na Síria e pela imensa pressão migratória para a Europa. Reduz o número de funcionários em Genebra e triplica a actividade da organização em prol dos refugiados.

2017

Com tudo a correr de acordo com o previsto, a 1 de Janeiro tomará posse como secretário-geral das Nações Unidas. Começa o ano com a consagração de uma carreira que o levou de Lisboa a Donas, com nova passagem por Lisboa a caminho de todo o mundo. Mas tem, nas mãos, a tarefa mais difícil do planeta.