Os jogos sociais são a galinha de ovos de ouro

Com a raspadinha ao leme, o departamento de jogos da SCML é a âncora da instituição. Em 2015 registou vendas recorde, lançou um novo jogo de apostas desportivas e prepara-se para entrar em duas novas áreas de negócio: o jogo online e as apostas hípicas.

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O Placard no primeiro mês de vendas teve 150 mil apostadores diferentes e vendas de mais de 9,2 milhões de euros Bruno Lisita

No último ano, o departamento de jogos da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) não teve mãos a medir. Lançou um novo jogo depois de onze anos sem novidades, prepara a exploração de apostas em corridas de cavalos, estreia-se no jogo online e aumentou o número de apostadores, conseguindo, em 2015, ultrapassar pela primeira vez a fasquia dos 2000 milhões de euros em vendas.

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No último ano, o departamento de jogos da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) não teve mãos a medir. Lançou um novo jogo depois de onze anos sem novidades, prepara a exploração de apostas em corridas de cavalos, estreia-se no jogo online e aumentou o número de apostadores, conseguindo, em 2015, ultrapassar pela primeira vez a fasquia dos 2000 milhões de euros em vendas.

Apesar das receitas recorde e do crescimento consecutivo mesmo nos anos de maior crise, Pedro Santana Lopes, provedor da SCML, tem insistido em desfazer a ideia de que a instituição é rica. “Não. Quase tudo é devolvido”, garantiu durante a última apresentação de resultados. Dos 2240 milhões de euros facturados o ano passado, 97% foram gastos em prémios entregues aos vencedores dos jogos sociais, nos mediadores (empresas) que os vendem, em imposto de selo e outras deduções legais, em patrocínios (parceria com o Comité Olímpico de Portugal e Comité Paralímpico, por exemplo) e em investimento na promoção do jogo responsável. Mais de 603 milhões de euros financiaram o que a SCML chama “boas causas”: apoios prestados na área da saúde, a idosos e a famílias carenciadas. Na lista de beneficiários estão, por exemplo, a Presidência do Conselho de Ministros, o Ministério do Trabalho e Segurança Social ou instituições como a Inatel, além da área de acção social da SCML. “Em 2015, por cada euro despendido pelas famílias portuguesas nos Jogos Santa Casa, 94 cêntimos foram redistribuídos”, garante a organização, no seu relatório e contas.

Cabe à SCML explorar em exclusivo os jogos sociais do Estado. E a sua área de actuação como responsável única por esta actividade foi ainda mais reforçada o ano passado quando o anterior Governo (PSD-CDS/PP) fez alterações profundas à lei do jogo. A Santa Casa passou a ter o direito de exploração exclusiva das apostas desportivas à cota de base territorial, ou seja, feitas em espaços físicos (lojas). E o direito de explorar em exclusivo as apostas de corridas de cavalos.

Assim, em Setembro de 2015, na lista de jogos sociais onde se incluem os populares Euromilhões, Raspadinha ou Lotaria Clássica, adicionou-se o Placard que, no primeiro mês de vendas, teve 150 mil apostadores diferentes e vendas de mais de 9,2 milhões de euros. Um ano depois, quase um milhão de portugueses apostaram neste jogo, que não tardou a ultrapassar o Totoloto e a ocupar a terceira posição entre os mais vendidos, depois da Raspadinha e do Euromilhões.

Ainda por concretizar estão as corridas de cavalos. A SCML garante que já tem investidores estrangeiros interessados para firmar parceria e “ávidos em começar a actividade”, num negócio em que ficará responsável por gerir a rede física das apostas hípicas. Contudo, o mais provável é conseguir entrar primeiro no jogo online — finalmente legalizado com a nova lei. A instituição tinha decidido não avançar nesta área tendo em conta a função social que desempenha, mas Santana Lopes voltou a admitir essa possibilidade e vai concorrer pela primeira vez com operadores privados no negócio do jogo. Enquanto se esperam desenvolvimentos, a SCML investe na promoção do Placard e na captação de novos “clientes”, essencial para manter o aumento de vendas. Em 2015, aliás, a expansão da rede comercial (+ 9%) e a diversificação da oferta foram determinantes para os resultados financeiros. E os mais de 2000 milhões de receitas brutas foram conseguidos à boleia da Raspadinha, a única aposta com resultado imediato para quem a compra.

A lotaria instantânea foi o jogo da crise, preferido pelos portugueses nos anos de austeridade e a âncora que, entre 2010 e 2015, permitiu à Santa Casa nunca assistir a um travão nas vendas. Se há cinco anos representava apenas 7,6% da facturação global do departamento de jogos sociais, no ano passado não só ultrapassou pela primeira vez o popular Euromilhões, como representou 49,2% (1101 milhões de euros) de todas as vendas conseguidas ao longo do ano. No ano passado, a Raspadinha também atribuiu os maiores prémios de sempre, no valor de 504 mil euros cada. Recorde-se que a sua extinção chegou a ser ponderada em 1997, altura em que as receitas não iam além dos 94 milhões de euros.

Com a entrada em cena do Placard, o crescimento da lotaria instantânea desacelerou no final do ano. Só em Dezembro, o jogo de apostas desportivas representou 10,3% das vendas, por exemplo. Mas a Santa Casa — que vai aumentar em breve o número de modalidades em que é possível apostar (actualmente são três) — já se viu confrontada com a venda ilegal deste jogo a menores de idade e encerrou, pelo menos, quatro mediadores por “denúncias comprovadas”.